Os usos da tecnologia digital twin no setor imobiliário

Segundo Alexandre Vasques, aplicação do gêmeo digital se dá em planejamento e manutenção de empreendimentos.

6 de maio de 2019Mercado Imobiliário

 

E se fosse possível obter a cópia exata de um empreendimento para planejá-lo mais detalhadamente antes de ser desenvolvido, potencializar o processo de vendas e facilitar a manutenção de sua operação? Essa é a proposta da aplicação do digital twin ou gêmeo digital ao setor imobiliário.

O GRI Hub conversou sobre o tema com o especialista Alexandre Vasques logo após ele demonstrar essa novidade no GRI Escritórios Brasil 2019. Ele era então executivo da área de Inovação (Advanced Analytics & IoT – Global Black Belt Latam) da Microsoft e agora é CTO Mining Latam da DXC Technology. Confira:

O que é o digital twin?
É um complemento e uma evolução tanto da parte de indústria 4.0 como do ponto de vista da arquitetura e da construção civil – [representando] um avanço do smart building. A partir do momento em que se tem um prédio 'sensoriado' somado ao seu modelo 3D – o BIM [building information modelling] –, é possível obter sua cópia digital de forma duplicada: o prédio físico e seu espelho no mundo digital. Parece algo maluco, mas há algumas vantagens; portanto, é interessante para o mercado.




Que vantagens são essas?
Para a construção civil, o digital twin vai desde o início de um projeto até seu ongoing. Se imaginarmos [por exemplo] um shopping, vai até a vida dele. No começo, o digital twin é útil no momento da discussão, através do modelo 3D. Investidor, futuros clientes etc. podem interagir com esse modelo 3D não no papel, mas na vida real. Através dos óculos [de realidade aumentada], consegue-se vislumbrar um shopping e andar nele, sem que já esteja 'vivo'. Várias pessoas podem ter essa experiência juntas e compartilhá-la, ou seja, pode-se colocar investidor, arquiteto, todo mundo junto passeando dentro de um shopping, sem ele estar pronto, para debater posições de escadas, paredes, jardins e assim por diante. Reduz-se muito tempo de design por conta desse compartilhamento, já que é possível viver realmente o shopping, entender o que ele é – e isso vale para shopping, prédio ou sala [comercial].

Da mesma forma, com um empreendimento residencial ou de escritórios?
Sim. No residencial, algo bacana é a possibilidade de se vislumbrarem decorações sem gastar dinheiro com isso. Como a realidade mista permite que se mude a realidade, pode-se colocar um papel de parede virtual onde não há um real, mas, para quem está ali, com os óculos, a sensação é de que aquilo é verdade. Pode-se ter, por exemplo, a customização de um mesmo prédio, ou de um mesmo apartamento para um solteiro, um casado, um separado ou um casal de idosos. Pode haver múltiplas configurações de decoração, sem necessidade de existir o decorado. Claro que vai levar um tempo para que nos acostumemos a não ter o decorado, mas imagino que ele, no futuro, não exista mais. Na verdade, vai haver espaços vazios nos quais os óculos fazem a vez do decorado. Assim, cada indivíduo vai poder ver e até customizar [a experiência] da sua forma – clássico, neoclássico, clean ou contemporâneo. A pessoa poderá colocar o estilo que quiser no seu apartamento e se vislumbrar nele.

No caso de edifícios comerciais, também daria para enxergar a configuração de um escritório de advocacia diferente da de um co-working...
[Diferente] de um co-working, de um hospital, de uma clínica veterinária… Evita-se gastar com a real montagem daquela decoração, uma economia bem interessante, e tem-se uma flexibilidade grande para atender os clientes. Outra coisa que os óculos fazem é capturar toda a emoção daquele cliente [que os está usando], claro que preservando toda a parte de privacidade. É preciso avisá-lo logo de cara, ter sua permissão para capturar a parte emocional. Os óculos, através da respiração e do que o indivíduo fala, consegue perceber os sentimentos. Imagine que um casal vá visitar um apartamento e comece a conversar. Se o homem vai até a janela, começa a conversar com a mulher e elogia o que vê, sabe-se que gostou da vista. Consegue-se também identificar se ela apreciou a cozinha ou falou mal da área de serviço, por exemplo. Tudo isso fica disponível para ser analisado depois. No aspecto analítico, no final do dia, sabe-se o que menos e o que mais agradou o público e pode-se fazer até uma mudança de projeto – isso falando do momento da captação. [Já] no momento da construção, os óculos vêm para dar garantia e visibilidade, principalmente para quem está construindo, do que o engenheiro quis dizer com a planta. Tiramos aquele papel que é feito para os técnicos, que os arquitetos entendem, para que uma pessoa normal compreenda, e tendo garantias de que o que está ali vai ser realmente implementado. E também [é possível] checar falhas. No caso de um retrofit, pode ser que uma coluna tenha sido esquecida ou que não tenha sido vista, mas, na hora de abrir uma parede, estará lá. Ao testar o retrofit, consegue-se observar isso [antecipadamente] e evitar um problema no meio da obra.



Para quem está desenvolvendo um empreendimento, essa tecnologia ajuda na previsão de custos e sua minimização?
Sim. Os próprios óculos podem ser usados para analisar quanto a obra está evoluindo. Através da inteligência artificial, é possível ensinar aos óculos se se está na fase de acabamento ou alvenaria. Eles conseguem capturar essas informações e tê-las analisadas. Então, nesse momento da construção, é algo bastante útil. Depois, vem a fase em que o digital twin industrial realmente é usado. No caso de um prédio, podem ser feitas manutenções e simulações sem atrapalhar [a operação]. É possível] testar um evento ou um incêndio no gêmeo digital sem perturbar o real. Pode-se fazer a manutenção desse prédio remotamente, treinar um funcionário novo, ensinar onde estão as saídas de emergência, os pontos de água, as luzes. Enfim, esse profissional teria tudo à mão.

Equipamentos, elevadores… Tudo isso também se pode gerir à distância?
Sim, tudo isso remotamente. Um zelador, por exemplo, poderia abrir o prédio [gêmeo digital] em qualquer lugar do mundo e vê-lo como se estivesse presente. Poderia visitar determinada localidade através das câmeras, ver quantas pessoas estão num hall, como está o uso dos elevadores e do ar condicionado, se há lâmpadas queimadas, ou seja, todo o prédio fica 'na mão' dele. Através do próprio dado gerado do prédio, fazemos a manutenção preventiva. Assim, antes de uma lâmpada queimar, é possível detectar e trocar; antes de um elevador parar, fazer a manutenção; e assim por diante, programando ou evitando paradas. Essa é a linha geral do digital twin, que pode ir, desde o começo [de um empreendimento], do desenho, até a sua vida final. Pode-se implementar um digital twin num prédio velho, começar um do zero, ou utilizar apenas em certo momento. Não há regras. O uso se dá conforme a necessidade de cada [projeto], obviamente calculando o custo-benefício dessas implementações, pois tudo isso custa dinheiro.

Qual é o parâmetro de custos e dos investimentos necessários à adoção desse tipo de tecnologia?
Isso tem que ser muito calculado, mas, em geral, para um grande edifício que não esteja automatizado, ao realizá-lo, facilmente se obtém uma redução nos custos de energia – e, no Brasil, via de regra, tudo o que se fizer para economizar energia tem pay back garantido. Então, no sensoriamento para automação de luz e de ar condicionado, é garantido o retorno. Agora, quanto ao uso dos óculos, depende muito do público-alvo. Os óculos ainda são [mais aplicáveis] para as salas comerciais e empreendimentos [residenciais] de alto padrão, por conta do custo de se precisar contar com quatro ou cinco deles, e pelo fato de seu valor ainda não ser tão barato. Se compararmos uma decoração em torno de R$ 100 mil, teríamos um custo equivalente a aproximadamente quatro óculos.



Além de óculos de realidade aumentada e sensor, que outras tecnologias estão envolvidas no processo de viabilização do
digital twin?

Estamos falando de nuvem, big data para armazenamento dos sensores, IoT [internet das coisas], inteligência artificial e realidade mista.

Como foi apresentar o gêmeo digital a uma série de players que participaram do GRI Escritórios Brasil 2019?
Senti que foi bem aceito. O objetivo principal, ao apresentar esse tipo de tecnologia, é que cada um volte pra casa e tenha aquele 'estalo'. Isso porque cada um tem uma realidade e pode implementar parte – não necessariamente o todo.

Entrevista concedida à editora-chefe Giovanna Carnio

 

GRI Residencial Brasil 2019

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