Correção da Selic não impacta setor imobiliário, apontam especialistas

Aumentos na taxa básica de juros devem ocorrer já a partir de março

12 de fevereiro de 2021Mercado Imobiliário
No final de janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a Selic a 2% ao ano, seu menor patamar histórico. Em comunicado, porém, anunciou a retirada do forward guidance (prescrição futura, em português) – instrumento que indicava manutenção dos juros baixos.

Além disso, o órgão divulgou em ata que parte dos integrantes do Copom já julgava necessária a alteração da taxa básica de juros por fatores como o aumento da inflação. De acordo com especialistas, a situação indica que o ajuste deve ser realizado nos próximos meses.

"Se antes havia a expectativa que a Selic poderia subir apenas no fim do primeiro semestre, agora ficou claro que o aumento pode ocorrer na próxima reunião. O mercado já está se preparando para um ajuste em torno de 0,25 a 0,5 ponto percentual", diz Álvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do Banco Modal.

"Interpreto como indício de um aumento entre março a maio, por conta dos níveis atuais de inflação e da taxa de juros real negativa. Quando o Copom instituiu o forward guidance, a expectativa de inflação era de 1,9% ao ano, mas, agora, a projeção é que em 12 meses chegue a 3,7%. Então, há motivos sólidos para se considerar um aumento da Selic", afirma Joaquim Levy, diretor do Banco Safra.

A tendência, portanto, é que a Selic esteja mais próxima do IPCA, o que significa uma taxa real de juros próxima a zero. Para Levy, este cenário continua estimulante para a economia brasileira. 

Ainda mais otimista, André Freitas, CEO da Hedge Investimentos, vê a recuperação da Selic como uma correção da disfuncionalidade: "Haverá uma melhora de ambiente, que em conjunto com um melhor alinhamento das casas permitirá que as reformas sejam votadas e tornará o contexto mais positivo".

"Por outro lado, se não avançarmos nas reformas, será construída uma relação dívida/PIB explosiva e o Brasil passará o recado de que não se acerta. Fora isso, existe um profundo questionamento sobre a questão fiscal do país. Esperamos que o orçamento seja votado em fevereiro", completa.

Impacto nos investimentos

Uma das consequências da recuperação da Selic pode ser o retorno de alguns investidores para a renda fixa. Vale lembrar que, com a queda da Selic, muitos brasileiros migraram para a renda variável em busca de melhores rendimentos, movimento que favoreceu empresas e ativos com lastro real, como os imóveis. 

Todavia, levando em conta a previsão feita anteriormente, Bandeira entende que uma taxa real de juros próxima a zero continua sendo baixa para gerar uma boa remuneração dos ativos de renda fixa. Além disso, considera que os investidores estarão um pouco mais acostumados e instruídos sobre o mercado de risco. 

Assim, mesmo não descartando o retorno dos investidores mais prudentes para a renda fixa, o economista-chefe do Banco Modal acredita que seguirá havendo migração da renda fixa para a variável. Em raciocínio semelhante, Levy lembra que, no Brasil, "durante muito tempo as taxas de juros foram tão altas que era difícil justificar outro investimento que não fosse a renda fixa". 

Reflexos no setor imobiliário

Em sintonia com os outros dois especialistas, Freitas aposta nos fundos de investimentos imobiliários (FIIs) como destaques da renda variável: "No ano passado, tivemos captação de R$ 192 bilhões na indústria de fundos, sendo R$ 35 bilhões em FIIs. Ou seja, os fundos imobiliários, que são 2,7% do estoque, representaram 18,4% da captação. Isso mostra o apetite que existe". 

Além disso, investidores podem seguir aplicando diretamente em ativos imobiliários, como lembra o diretor do Banco Safra, Joaquim Levy: "O imóvel deve continuar sendo um investimento atraente. Entre altos e baixos, a tendência é de valorização", indica.

Já em relação às taxas de juros do financiamento imobiliário, a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) entende que a correção da Selic não terá impacto relevante. Considerando que também haja controle fiscal no país, a entidade projeta alta de até 27% no volume de crédito contratado com recursos do SBPE para compra ou construção de imóveis em 2021.

Portanto, mesmo com o aumento da Selic, o setor imobiliário deve permanecer aquecido. Bandeira ressalta, por fim, que após um represamento dos lançamentos em 2020, "as incorporadoras estão preparando aumentos no valor geral de venda (VGV) para este e para os próximos anos".

Por Daniel Caravetti
 

GRI Residencial Brasil 2021