Emirados Árabes buscam investidores brasileiros no mercado imobiliário

Com foco no alto padrão, os atrativos incluem parcelamento de terreno sem juros e 10 anos de residência no país

15 de fevereiro de 2024Mercado Imobiliário
Por Júlia Ribeiro 

Na primeira atividade de 2024, membros do GRI Club Real Estate Brazil se reuniram em São Paulo com autoridades e players do mercado imobiliário dos Emirados Árabes Unidos para discutir oportunidades de investimento entre os dois países.

Com a presença do embaixador Saleh Alswuaidi, os investidores, gestores e desenvolvedores presentes obtiveram insights sobre o funcionamento e as tendências do mercado local, bem como facilidades financeiras e burocráticas para atrair estrangeiros.

Por que o Brasil?

Os representantes dos Emirados Árabes veem o Brasil como uma porta de entrada estratégica para a América Latina, principalmente através da Emirates Airlines - com previsão de aumentar os mais de 10 voos semanais entre os países. 

Além de outras áreas que pensam em iniciar ou aumentar parcerias existentes com o Brasil, como agronegócio e segurança alimentar, o interesse recai sobre os players do mercado imobiliário, observando a presença significativa de investidores brasileiros em mercados com dinâmica de preços semelhantes, como Miami, nos Estados Unidos. 

Nesse contexto, os players brasileiros identificam a barreira linguística, destacando a vantagem competitiva de Miami, Flórida e Portugal. Adicionalmente, sugerem investimentos em campanhas de marketing para promover a segurança, o turismo e estilo de vida em Dubai. 

"Eu vivi em Dubai e posso afirmar que é realmente seguro. Este é um aspecto que vocês precisam enfatizar, pois os brasileiros buscam segurança ao sair do país", ressalta um executivo.

Representantes dos Emirados Árabes se encontraram com os players do mercado imobiliário brasileiro no Hotel Tivoli Mofarrej (Créditos: GRI Club)

Atrativos 

Entre as medidas adotadas pelo governo dos Emirados Árabes para atrair capital estrangeiro, está a oportunidade de qualificação para um visto de residência de 10 anos em Dubai ao adquirir um imóvel de 300.000 dólares, que garante o direito de operar no local.

Nessa estratégia, incorporadores residentes não precisam pagar 100% do terreno ao lançar um projeto. O pagamento pode ser parcelado sem juros desde que feito através do plano do governo, sem a necessidade de recorrer a um banco.

No ato da compra de um imóvel, é necessário um único depósito, cuja porcentagem gira em torno de 5% a 20% do valor, de acordo com o produto. 

“A única coisa que você paga é o imposto do selo quando você compra um imóvel ou quando o vende. Não há outras taxas incluídas no pagamento do imposto anual. Todos os nossos produtos são de propriedade perfeita. Significa que você realmente é o dono e recebe um título pela propriedade”, afirma um incorporador.

Os não residentes têm a possibilidade de obter uma hipoteca de até 50%, para um imóvel já entregue, por meio do Banco Central dos Emirados Árabes Unidos. Fora das diretrizes governamentais, as porcentagens negociadas são de 50-50 ou 40-60. 

O prazo de financiamento varia conforme cada projeto. Vale destacar que não é necessário estar fisicamente presente no país para efetuar a compra; é possível realizar o processo de forma remota.

“Um fato interessante é que se me derem o cheque agora, posso emitir seu contrato dentro de uma hora, sem precisar de advogados. Tudo que preciso de você é seu passaporte e seu cheque”, reforça um executivo.

Saleh Alswuaidi, embaixador dos Emirados Árabes, troca cartão com Sofia Mourani, da Vectis Gestão. (Crédito: GRI Club)

Foco no luxo

Os executivos destacam a existência de oportunidades em diversos segmentos do mercado local, incluindo uma tendência de desenvolvimento no médio padrão, impulsionada pela entrada de mais pessoas no mercado de trabalho através dos incentivos governamentais. 

Esse movimento também tem trazido atenção ao setor de escritórios e outras classes emergentes, como os data centers. Há também programas sociais específicos para cada estado do país no que diz respeito ao segmento econômico.

No entanto, o foco na reunião promovida pelo GRI Club foi o mercado residencial de alto padrão, com preços variando entre US$800 e US$1.000 por pé quadrado, aproximadamente US$10.000 por metro quadrado. 

Os players estrangeiros afirmam que a demanda extremamente alta resulta na falta de estoque, impulsionando o aumento dos preços. Além disso, há uma expectativa de que esses preços continuem a subir.

“Estamos com um atraso de quatro ou cinco anos [no estoque] a partir de agora. Chegamos a limitar a compra de unidades residenciais de cerca de US$5 milhões, que pediam depósito de US$1 milhão, para duas por pessoa, pois tínhamos uma fila igual à do iPhone 15 na noite anterior. Foi tudo vendido em três horas. Tivemos que antecipar um projeto em dois meses para atender a demanda”, relata um executivo.

Quem está comprando?

Indagados pelos brasileiros, os árabes observam que o perfil dos compradores é voltado para investimentos. Os principais compradores vêm do Reino Unido, além de países como Alemanha, Áustria, Paquistão e o subcontinente indiano.

“Cerca de 50% do que se tem hoje foi construído por nós e 50% foi construído por desenvolvedores privados”, afirma um representante do governo.

Quanto à ocupação, os players locais declaram que ela varia conforme a localização. Um desenvolvedor do governo, por exemplo, assegura que a taxa de ocupação em todos os seus empreendimentos imobiliários ronda os 95%, com uma diminuição durante o verão, nos contratos short stay.

Momento de networking após a reunião (Crédito: GRI Club)

Perspectivas de longo prazo

Um executivo de uma das principais incorporadoras dos Emirados Árabes Unidos, responsável pela construção do megaempreendimento Palm Jumeirah, enfatiza a importância de uma visão de longo prazo por parte dos investidores.

Ele destaca o próprio empreendimento como exemplo, lançado em 2002, com os primeiros moradores chegando em 2006 e o último lançamento sendo entregue no ano passado. 

"Somos responsáveis pelo desenvolvimento futuro de Dubai. Nos foi concedida quase dois terços das terras da cidade que ainda não foram desenvolvidas. Nosso objetivo é moldar o futuro", finaliza o executivo.
 
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