Demanda por imóveis no litoral dispara na pandemia

Isolamento social estimula a compra da segunda residência

2 de julho de 2021Mercado Imobiliário

A pandemia e o isolamento social colocaram em xeque, pelo menos de modo passageiro, a ideia de abrir mão de espaço e conforto para morar nas grandes metrópoles e usufruir da vida urbana. Ao mesmo tempo, com o home office em alta, não apenas o interior se tornou uma alternativa de descompressão, como também o litoral.

O movimento refletiu no setor imobiliário de algumas cidades litorâneas, que vivenciaram o aumento na demanda. Riviera de São Lourenço, bairro planejado de alto padrão em Bertioga/SP, teve um aumento superior a 50% nas vendas em 2020 na comparação com o ano anterior. As informações são de Luiz Augusto, diretor da Sobloco Construtora, empresa idealizadora do projeto. 

"Como o estoque foi sendo consumido, também houve uma elevação dos preços dos imóveis. As pessoas passaram a valorizar mais a segunda residência", diz. Segundo Diego Villar, CEO da Moura Dubeux, o mesmo aconteceu em destinos turísticos nacionais do Nordeste.

"As pessoas têm buscado um refúgio durante o confinamento. No estado de Pernambuco, por exemplo, a demanda cresceu muito nas regiões de Porto de Galinhas e da Praia de Carneiros. O valor, tanto das casas quanto dos apartamentos, explodiu", afirma. 

No caso de Riviera de São Lourenço, os números ainda se traduzem na população residente. De acordo com Augusto, a média histórica de moradores era de quase 9 mil pessoas, chegou a 30 mil em 2020 e agora se mantém estável entre 17 mil e 18 mil. A medição é feita através do consumo de água.

Jeison Quraitem, head de Investimentos da Yes Investimentos Imobiliários, explica o contexto: "Quem utilizava a segunda residência apenas em alguns finais de semana, hoje passa meses nela. Basta ter internet de qualidade que é possível trabalhar de maneira remota".

Por outro lado, o executivo lembra que, em cidades litorâneas de maior porte, o movimento mais intenso é de migração definitiva para o litoral. Um dos exemplos é Florianópolis, onde a Yes concentra boa parte dos seus investimentos. "É uma das melhores praças do país em termos de qualidade de vida e desenvolvimento, especialmente da indústria de tecnologia", cita Quraitem. 

Atuando igualmente na capital catarinense, Bernardo Furtado de Mendonça, diretor de Novos Negócios da incorporadora que carrega seu sobrenome, ratifica o deslocamento: "Vimos a chegada de muitas pessoas em busca de bem-estar. O impacto foi bastante positivo, pois dentro da própria cidade também cresceu a procura por imóveis mais próximos da praia".

Levando em conta que em muitos casos a vontade é de residir definitivamente na cidade, Mendonça também alerta para a necessidade de investimentos públicos em infraestrutura. “A mobilidade urbana não tem acompanhado o desenvolvimento imobiliário. Questões relativas ao saneamento são outro problema", alerta.

Empreendimentos litorâneos

Diante do bom momento vivido pelo mercado imobiliário do litoral, as empresas seguem investindo em novos projetos. A Yes, por exemplo, está desenvolvendo dois empreendimentos horizontais em Garopaba/SC, sendo um condomínio fechado e um loteamento. Através de uma parceria com a startup InstaCasa, a companhia inseriu tecnologia no processo comercial.

Em Florianópolis, a empresa tem investido bastante na Praia do Campeche, onde já tem um empreendimento entregue, o Palm Beach Residence. Em função do aumento na demanda por internet, nas novas incorporações a empresa planeja colocar wi-fi coletivo. "É muito mais fácil tratar dessa questão desde o início do projeto", diz Quraitem.

Palm Beach Residence fica a 300 metros da praia. Crédito: Facebook/Palm Beach Residence

No mesmo local, a Furtado de Mendonça deve lançar um loteamento dentro dos próximos seis meses, de acordo com o diretor da empresa: "Vamos criar uma nova centralidade e levar infraestrutura para a Praia do Campeche. Será um pequeno bairro com 96 lotes". A empresa também conta com um empreendimento pronto nesta localidade, o Oceanic Beach Front Residence.

Oceanic Beach Front Residence tem apartamentos de até 383 m². Crédito: Divulgação/Furtado de Mendonça

Neste ano, a Furtado de Mendonça também planeja lançar um projeto com apartamentos compactos e lojas às margens da rodovia SC-401, na capital catarinense. "Hoje é a via de maior fluxo na cidade, ligando o centro à parte norte da ilha, onde está Jurerê, Praia Brava etc.", explica o executivo.

Enquanto isso, na Riviera de São Lourenço a Sobloco conta atualmente apenas com a oferta de lotes. Isso porque os dois lançamentos de prédios residenciais feitos no ano passado já foram 100% comercializados. O shopping center do local, desenvolvido pela empresa, completou recentemente 30 anos de atividade.

Riviera Shopping conta com 50 lojas. Crédito: Divulgação/RM Mare

"Neste momento, estamos programando novos lançamentos de prédios residenciais e novas ofertas de lotes na Riviera de São Lourenço. De qualquer forma, mediante mudanças da legislação ambiental nos últimos 20 anos, dificilmente voltaremos a fazer um investimento desta magnitude no litoral", pondera Augusto, referindo-se ao bairro planejado em Bertioga/SP.

Já a Moura Dubeux lançou recentemente três projetos - Beach Class Summer, Beach Class Verano e Beach Class Solare - em Ipojuca/PE, cidade onde está Porto de Galinhas. Segundo Villar, todos eles já foram vendidos integralmente.

Parque aquático do Beach Class Verano. Crédito: Divulgação/Moura Dubeux

"O que eu posso dizer é que vamos continuar lançando. Temos terrenos e projetos em desenvolvimento no litoral. Os modelos são voltados para pessoas interessadas na compra de segunda residência ou para investidores que querem auferir renda com a locação", conclui o CEO da companhia.


Por Daniel Caravetti