This Time is Different: Cenários macroeconômicos

22 de fevereiro de 2021Infraestrutura
O GRI Club Infra iniciou sua agenda de encontros em 2021 com uma reunião oferecida pela Siemens Participações.

Na ocasião, cerca de 80 líderes de infraestrutura tiveram a oportunidade de ouvir as previsões, alertas e expectativas de dois renomados especialistas, Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Banco Santander, e Samuel Pessôa, professor e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, que moderados por David Taff, CEO da Siemens Participações, compartilharam suas projeções de PIB, inflação, variação cambial e analisaram como estas variáveis econômicas e as macro-reformas devem impactar a financiabilidade dos projetos de infraestrutura e o fluxo de recursos provenientes do mercado de capitais para o setor.

A economia do País atravessa um período de desorganização, resultando no crescimento preocupante da dívida pública.  

Embora a infraestrutura tenha grande potencial para ser um dos drivers da recuperação econômica, em virtude das condições favoráveis que o setor oferece, é imprescindível que o acesso ao capital seja viável, de forma a destravar o seu desenvolvimento.

As altas taxas de retorno nos projetos de infraestrutura brasileiros - compatíveis com aquelas oferecidas pelos melhores projetos em países desenvolvidos - devem garantir um ano positivo para o setor, assim como o fator estrutural de baixas taxas de juros e a inflação controlada pela política monetária, outros dois vetores essenciais do avanço em infraestrutura.

Segundo a análise dos especialistas, em termos globais, a crise econômica atual é exógena ao sistema financeiro, por isso tende a deixar menos cicatrizes do que recessões endógenas, como a de 2008, na derrocada do subprime nos Estados Unidos. Neste sentido, não deve haver perda permanente da tendência de crescimento do PIB no Brasil ou no mundo. 

Especificamente na economia brasileira, espera-se maior dificuldade de retomada no primeiro semestre em razão de uma segunda onda de contágios de covid-19 maior do que o previsto. Por outro lado, não deve haver queda tão significativa do PIB quanto a que ocorreu no ano passado, pois boa parte das atividades produtivas devem continuar, como na indústria de transformação.

A expectativa é que a economia brasileira retorne a níveis semelhantes aos do final de 2019, porém a distribuição dessa retomada entre o segundo semestre de 2021 e o ano de 2022 vai depender das dinâmicas da pandemia e da vacinação, ainda muito imprevisíveis. Os economistas convidados estimam que neste ano o resultado do PIB em relação a 2020 não deve superar os 3% de alta. 

Panoramas fiscal e político

Na visão dos especialistas, a expectativa é de uma extensão adicional do auxílio emergencial durante dois ou três meses, muito mais comedido e sem furar o teto de gastos, em razão do crédito extraordinário estimado em R$ 31,6 bilhões pelo Ministério da Economia. Estima-se que o déficit seja maior do que o previsto, mas devoluções do BNDES e depósitos voluntários do Banco Central devem aliviar o peso da dívida em 2021. 

Sobre a dominância fiscal, o maior risco está atrelado aos prazos curtos de vencimento de boa parte da dívida pública, que é crescente. Neste contexto, tanto a política fiscal quanto a política monetária precisam ser contracionistas - menos gastos e elevação dos juros. A percepção é que o problema fiscal não será resolvido antes de 2023, porém os empresários descartam risco de calote da dívida ou hiperinflação. 

No campo político, a leitura é de que os rumos do país talvez nunca tenham sido tão dependentes dos líderes do Congresso quanto agora. Porém, no foco desta dependência não está a questão fiscal, sendo a sustentação do mandato do presidente Jair Bolsonaro muito mais sensível às mudanças no Poder Legislativo.

Os congressistas entenderam que não se pode brincar com gasto público, ou seja, não deve haver desalinho após uma despesa de R$ 640 bilhões no enfrentamento da pandemia em 2020 (além dos R$ 31 bilhões transferidos para 2021). Acredita-se que o teto de gastos deve ser mantido e cumprido.

Os especialistas avaliam que talvez haja espaço para a aprovação da PEC Emergencial, mas dificilmente haverá avanços nas reformas tributária e administrativa, pois não há como aprovar reformas sem que haja empenho sobre elas e o governo já lançou mão de todo seus esforços para colocar seus indicados nas mesas diretoras do Congresso.
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David Taff
CEO
Siemens Participações