Setor de infraestrutura será protagonista, avalia Bradesco

Alexandre Panico, superintendente do banco, comenta o cenário atual e perspectivas de desenvolvimento do setor.

13 de novembro de 2018Infraestrutura
O setor de infraestrutura no Brasil passa por um momento de transição e terá papel protagonista na retomada econômica e na geração de empregos, avalia Alexandre Panico, superintendente do banco Bradesco, ao mirar o cenário atual e perspectivas para 2019. 

"Vemos que o setor de infraestrutura será parte do crescimento", afirmou o especialista em club meeting realizado pelo GRI Club Infra no dia 08 de novembro em São Paulo. 

Na visão de Panico, para o andamento dos projetos que devem ser os motores da expansão do setor, será necessário que os grandes players retomem a capacidade operacional, comprometida nos últimos anos. "Há um impacto da Lava Jato e será necessário um bom tempo para destravar esse processo, mas é necessário que os grandes empreiteiros voltem a ter capacidade de operar. Hoje, não há grandes companhias no País capazes de realizar as grandes obras que teremos pela frente", ressaltou.

Por outro lado, ele relembra o aprendizado decorrente da Operação Lava Jato, que investigou contratos entre o setor público e a iniciativa privada. "O compliance estava bem mais distante e todos tivemos que mudar e nos adaptar à nova realidade. A regulamentação foi bastante ampliada. É um processo pelo qual todos passamos e com essa realidade seguiremos."

Interesse dos investidores

"Há apetite para investimentos no Brasil. O País voltou a ser parte interessante, do ponto de vista de alocação de recursos", afirmou o especialista, responsável pelo setor de infraestrutura do Bradesco. 

Em relação aos órgãos e agências de controle, "o desafio é enorme e as microagendas precisam necessariamente ser destravadas. não é possível continuar com tamanha letargia [nos processos] para a tão esperada retomada dos investimentos no setor."
 
Fontes alternativas de financiamento
 
Outro ponto analisado por Panico foi a mudança de papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e  a diminuição de sua participação em novos projetos, o que motivou o crescimento das debêntures de infraestrutura, títulos de dívida emitidos para a captação de recursos. 
 
"Com a crise pela qual passamos, o BNDES e os bancos públicos perderam o seu protagonismo. Percebemos o aumento das emissões de debêntures e o quanto o mercado de capitais está acompanhando os projetos de forma diferenciada. Prova disso são os ativos que, inicialmente, seriam alocados em sua totalidade no BNDES e que foram a mercado de capitais", continuou. 
 
Já tema de reportagem do GRI Hub, as debêntures – modalidade de project bonds presente no País – tornaram-se alternativas para o financiamento de projetos do setor, justamente por devido à ausência de participação do BNDES. 
 
Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) apontam que, no primeiro semestre de 2018, os lançamentos desses títulos bateram recorde histórico, somando R$ 9,6 bilhões. O total atingido nesse ínterim, a partir de 16 operações, foi quase quatro vezes maior do que o registrado entre janeiro e junho de 2017.
 
Perspectivas positivas 
 
A respeito do programa do futuro governo e das propostas apresentadas até o momento pela equipe de Jair Bolsonaro, a equipe do Bradesco considera tais intenções como positivas.

"O que tem sido sinalizado até o momento está bastante alinhado com o tipo de agenda que acreditamos ser a mais adequada para a política econômica do País. O Brasil tem uma série de desafios. Há o problema fiscal que precisa ser endereçado nos próximos anos e por via de regra acho que está bastante consistente com essas necessidades. Nesse sentido, [o que temos ouvido é] bastante positivo até agora", opinou o economista Constantin Jancsó, também do banco. 

"Hoje, temos poucos detalhes concretos, pois a nova administração ainda não foi iniciada. Há uma série de declarações à imprensa, das intenções do futuro governo, mas não existe ainda um plano concreto", complementou. 

Para o economista, um ponto de atenção inicial deverá ser a renovação do Legislativo. "Além do presidente em si, é importante analisar a taxa de renovação do Congresso, tanto na Câmara quanto no Senado, que teve uma recomposição muito mais alta". 

No pleito de 2018, que elegeu o militar da reserva Jair Bolsonaro à Presidência da República, o Congresso teve um alto índice de renovação: cerca de 47% da Câmara, com 243 novos deputados, e mais de 85% do Senado, com 46 novos legisladores. "O primeiro desafio [do futuro chefe de Estado] será compor uma base ampla suficientemente para tocar a agenda econômica, uma agenda mais ampla do que a política econômica", considerou Jancsó.