Ministro da Fazenda destaca progressos na economia

Em entrevista, Eduardo Guardia fala sobre desafios da gestão da pasta e reforça importância da continuidade das reformas.

2 de julho de 2018Infraestrutura

Ministro da Fazenda desde abril e ex-secretário executivo da pasta (2016-2018), entre outras passagens pela esfera pública, Eduardo Guardia também teve atuações importantes na iniciativa privada, por exemplo, como diretor da BM&FBovespa (2010-2016). Nesta entrevista, ele fala sobre os desafios do País e, particularmente, da sua gestão na Fazenda, que vai até dezembro. Acompanhe:

Sua gestão na Fazenda é vista como de continuidade à de Henrique Meirelles, mas deixará alguma marca própria?

Ela tem necessariamente um componente de continuidade porque fiz parte da equipe do ministro Meirelles desde o início, assim como os secretários que estão comigo hoje. Então, estamos seguindo o mesmo caminho. Alguns temas para os quais temos dado mais ênfase neste momento são os que permitem uma maior e melhor atuação do setor privado na economia. Estamos dando muita atenção a projetos que possibilitem atração de investimentos no Brasil. Outro ponto que sempre foi objeto do nosso interesse é a questão tributária, tentando algum avanço em direção à redução das distorções existentes no País. O projeto de [mudança na lei de] Pis/ Cofins é um exemplo disso e também o esforço para discutir os benefícios tributários.

Há espaços para efetivos avanços que beneficiem a economia até o final do ano?

Para a sessão legislativa que está se encerrando agora [em julho], elegemos como prioridades a aprovação de dois projetos: o de cessão onerosa [que viabiliza à Petrobras transferir a terceiros até 70% dos direitos de exploração em áreas contratadas sob esse regime] e o de privatização das distribuidoras de energia elétrica [da Eletrobras]. Outros temas relevantes que estão em debate são o cadastro positivo, a duplicata eletrônica e o distrato. Para o segundo semestre, queremos incluir na pauta a autonomia operacional do Banco Central, o relacionamento entre Banco Central e Tesouro, e o regime de recuperação judicial.

A reforma da Previdência fica para o próximo governo?

Em recente entrevista, o presidente [da Câmara] Rodrigo Maia disse que, se o presidente eleito estiver de acordo, poderia encaminhar essa pauta após as eleições. Seria extremamente positivo para o País retomar essa discussão o quanto antes.

O empresariado contava com uma retomada econômica mais acelerada neste ano, sentimento que acabou se frustrando. O que efetivamente se pode esperar em termos de desempenho da economia para o segundo semestre, considerando o pós-greve dos caminhoneiros, o pós-Copa e o período eleitoral?

O crescimento em 2018 será menor do que prevíamos no início do ano; porém, devemos destacar alguns pontos positivos. Um deles é que o investimento continua se ampliando. Quando olhamos os dados da economia, observamos que o crescimento, mesmo num patamar inferior ao imaginado, está disperso entre todos os setores. Isso é muito bom. É diferente do que ocorreu na retomada de 2017, em que a expansão ficou muito concentrada no agronegócio. Hoje, todos os setores estão performando positivamente. Outro aspecto que ressalto é que o efeito da greve dos caminhoneiros existe, mas é temporário, tanto em termos de crescimento quanto de inflação.

No que toca ao câmbio, vamos ver novas intervenções?

Recentemente, entendemos que havia um excesso de volatilidade nos mercados de câmbio e de juros. Por isso, houve uma intervenção coordenada do Banco Central e do Ministério da Fazenda. Nós não definimos o nível de preço. Quem o faz é o mercado. O que podemos é, em momentos em que entendamos existir excesso de volatilidade, atuar para reduzi-la, dando liquidez ou reduzindo o risco do mercado.

O cumprimento da regra de ouro está garantido para 2018?

Sim. Já adotamos as medidas necessárias para tanto.

Você tem uma trajetória que mescla passagens pelas iniciativas pública e privada. O que essa ambivalência lhe proporciona de vantagem?

Ela ajuda, pois traz conhecimentos sobre o mercado financeiro e o setor empresarial. Atuando em empresas, senti as dificuldades que os executivos hoje percebem. É muito bom estar no governo sabendo quais são as preocupações da iniciativa privada. Uma coisa é escutar, outra é ter vivido isso.

Qual seria o seu recado para o empresariado de infraestrutura neste momento?

A mensagem fundamental é de que o Brasil precisa completar o ciclo de reformas estruturais e, notadamente, a reforma da Previdência. É isso que vai permitir um crescimento sustentável ao País, com baixa inflação, baixa taxa de juros, aumento de investimentos e queda de desemprego. Isso é necessário e tem de ser feito.

 

Esse e outros conteúdos você encontra na GRI Magazine Infrastructure 10ª edição.