Diminui apreensão de chineses com declarações de Bolsonaro

Afirmações mais recentes apontam para pragmatismo, avalia Alan Fernandes, presidente do Haitong Banco de Investimento.

14 de dezembro de 2018Infraestrutura
Episódios como a declaração do presidente eleito Jair Bolsonaro de que "A China não está comprando no Brasil, está comprando o Brasil", a recusa da executiva do PSL ao convite do Partido Comunista da China para uma visita à capital do país, e a manifesta intenção do novo governo de maior proximidade com os Estados Unidos não passaram despercebidos pelo gigante asiático, que se tornou nos últimos anos um fortíssimo investidor na infraestrutura brasileira e é hoje nosso maior parceiro comercial, numa relação superavitária para o Brasil. Contudo, a apreensão imediata parece estar se abrandando, apoiada na perspectiva de que o pragmatismo dite os rumos da relação bilateral. 

"No primeiro momento, houve uma preocupação maior sobre como seria a receptividade ao capital chinês [na nova gestão federal] e foram constantes as perguntas sobre o mesmo tema. Entretanto, as declarações posteriores já trazem a mensagem de que será levado em conta o tamanho do relacionamento comercial e do investimento realizado aqui. Com certeza, vai existir pragmatismo", observou Alan Fernandes, presidente do Haitong Banco de Investimento do Brasil, em sua participação no Infra Brazil GRI 2018. "Eu diria que se mantém uma perspectiva positiva para 2019", completou ele.

Acirramento da concorrência

Fernandes salienta que a forte entrada de capital chinês no País não foi motivada por algum tipo de privilégio oferecido. "Eles participaram da concorrência dos ativos como todos os outros players, independentemente da origem." 

Daqui para a frente, no entanto, a disputa tende a se acentuar. "Provavelmente, teremos mais competição na hora em que os novos ativos, sejam greenfield ou novas concessões, vierem a mercado, pois há uma percepção de risco do investidor menor em relação ao que se observava dois ou três anos atrás. Naquele momento, os chineses consideraram que valia a pena investir no mercado mesmo com risco elevado", pontua.

Outra diferença de agora por diante é que a velocidade do investimento chinês promete ser mais comedida – e não só no Brasil. "Algumas questões internas da China precisam ser tratadas e entendidas porque vão impactar o movimento das suas empresas ao redor do mundo. Refiro-me à perspectiva de menor taxa de crescimento [chinês], um olhar mais para o mercado interno, e companhias reduzindo seu grau de endividamento dentro da China." Como resultado, o investimento não deve ser tão rápido e de uma única vez, mas vai se manter", soma o executivo.

Segunda onda

Alan Fernandes aponta para o início de uma segunda onda de investimento chinês no Brasil, ou seja, o movimento de empresas que já aportaram capital no País e passam, a partir da base já montada, a ensaiar a entrada em outros ativos e segmentos locais, sobretudo dentro da própria cadeia produtiva. "É um comportamento natural do investidor estratégico. Creio que vamos começar a ver isso já nesse [novo] ano", avalia. 

"Percebemos que o interesse pelos setores [iniciais] se mantém, mas vai surgindo apetite por áreas que não haviam atraído empresas chinesas de pronto", conta. 

No setor de infraestrutura brasileiro, o principal foco dos chineses em 2019 promete estar nos segmentos de portos e saneamento, além de energia.


Reportagem de Giovanna Carnio


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