Ágio médio da 6ª rodada confirma confiança dos operadores de aeroportos

Apesar dos severos impactos em razão da pandemia, novos leilões tiveram boas propostas

19 de abril de 2021Infraestrutura

O turismo é um dos setores da economia mais afetados pela pandemia do novo coronavírus. De quebra, a necessidade de distanciamento social e a impossibilidade de realizar viagens domésticas e internacionais - que em muitos casos ainda persiste - também prejudicou o segmento aeroportuário, que viu a demanda despencar conforme aumentava o número de casos da doença pelo mundo.

No início do mês, durante
entrevista exclusiva para a série de vídeos do GRI Club “O futuro dos aeroportos brasileiros segundo líderes do setor”, o head da área na Socicam, Marcelo Bisordi, afirmou que esperava ágios menores na 6ª rodada de concessões em relação aos leilões anteriores, sobretudo os da 5ª rodada, realizados em março de 2019. 

“Especialmente o último leilão teve ágios astronômicos, o que não acredito que vá acontecer agora porque além da pandemia, os blocos da 6ª rodada têm características mais complexas, com muitos aeroportos distintos entre si”, salientou, na ocasião, o executivo. De fato, essa era a leitura de boa parte do mercado. 

O que se viu após a abertura dos envelopes realizada no último dia 7, na sede da B3, porém, foram propostas ainda maiores, em termos de ágio, do que as realizadas na 5ª rodada. Nos blocos Sul e Central, ambos arrematados pela CCR Aeroportos, as valorizações sobre os lances mínimos foram de 1.534% e 9.156%, respectivamente. 

Para os ativos do bloco Sul, a proposta foi de R$ 2,128 bilhões; para os do bloco Central, somaram R$ 754 milhões. O ágio observado no bloco Norte também foi expressivo, de 777%, com a proposta vencedora de R$ 420 milhões apresentada pela Vinci Airports. 

No total, foram concedidos à iniciativa privada 22 aeroportos (nove no bloco Sul, seis no bloco Central e sete no bloco Norte) pelo prazo de 30 anos. Neste período, estimam-se investimentos de pelo menos R$ 6 bilhões na soma de todos os blocos. 

Em média, o ágio das propostas vencedores na 6ª rodada foi de 3.822%, bem acima do obtido na rodada anterior, que ficou em 986%. Naquela oportunidade, entretanto, houve mais participantes - nove, contra sete desta última, entre propostas individuais e consórcios. 

Dias antes da abertura das propostas,
o GRI entrevistou Júlio Ribas, CEO da Vinci Airports no Brasil, para a mesma série. Na ocasião, o executivo despistou sobre a participação na 6ª rodada, mas afirmou que fazia parte da estratégia da empresa ampliar a atuação no país - até então, era administrado apenas o aeroporto de Salvador; agora, outros sete ativos foram adicionados à carteira. 

Ribas ainda elogiou a modelagem da disputa: “A 6ª rodada continua mostrando o sucesso e a viabilidade do programa de concessão de aeroportos do Brasil. Tudo indica que será um sucesso como foram as rodadas anteriores [4ª e 5ª]”, previu.

Aeroportos permanecem “no bolso” de operadores

Antes de serem conhecidos os vencedores dos leilões, havia expectativa sobre a possibilidade de fundos de investimento arrematarem um ou mais blocos com propostas independentes, isto é, sem a necessidade de firmar consórcio com operadores, como era exigido até a 5ª rodada. 

Na prática, entretanto, o que se viu foi a predominância das operadoras: além de CCR e Vinci, outra empresa a apresentar proposta independente foi a Aena; dentre fundos de investimento, apenas o Pátria fez oferta individual; no mais, as propostas vieram de consórcios.

Para Ribas, da Vinci, a permissão para que os fundos invistam sozinhos é absolutamente legítima, entendendo que já consta na proposta um operador habilitado, mesmo que ele não tenha equity na oferta. “Evidentemente que nós, como operadores, preferimos nosso modelo, pois entendemos que há várias vantagens, o que não impede que essa novidade seja bem-sucedida”.

Para Tobias Markert, CEO da Zurich Airport na América Latina, é importante que o operador do aeroporto tenha participação no investimento para que haja melhor prestação dos serviços, em lugar de uma otimização de curto prazo. O executivo utilizou a famosa expressão “skin the game” (“sentir na pele”) na
entrevista concedida para a série do GRI Club

Condução durante a pandemia agradou players do setor

O sucesso da 6ª rodada de concessões também pode ser explicado pela forma como a Agência Nacional de Aviação Civil tratou as dificuldades impostas pela pandemia aos operadores e investidores aeroportuários. 

Segundo Markert, um dos fatores que torna a Zurich otimista para realizar investimentos no país é o bom relacionamento com o Governo Federal e com a ANAC: “Tivemos um momento difícil para o setor aeroportuário mundial no ano passado, mas no Brasil o governo foi bem compreensivo na questão do reequilíbrio financeiro [dos contratos], certamente uma referência”, disse.

Julio Ribas, da Vinci Airports, elogia os canais de constante discussão entre concessionárias e a ANAC para a realização de melhorias. “A beleza do modelo da ANAC é que ele não é engessado, haja visto os contratos de concessão da 1ª e os da 5ª rodadas, pois houve um salto de melhoria”. 

Outro ponto positivo, segundo Ribas, é a relicitação de ativos, como vai ocorrer com os aeroportos situados em Campinas (SP) e São Gonçalo do Amarante (RN). “Isso materializa um mecanismo importante do contrato, que é a possibilidade de haver uma entrega amigável, uma devolução do aeroporto, minimizando as perdas do operador, para que ele seja relicitado em uma condição melhor”. 

O Ministério da Infraestrutura pretende realizar ainda em 2021 um novo leilão para a operação do Aeroporto Internacional de Natal (RN). Já a 7ª rodada de concessões - que terá como destaques os aeroportos Santos Dumont (RJ) e a relicitação de Congonhas (SP) - deve acontecer no 1º semestre de 2022.


Por Henrique Cisman