Setor imobiliário tem desafios para aproveitar blockchain

Barreiras passam por regulação e pela própria tecnologia, aponta analista-chefe da XDEX, da XP Investimentos.

13 de novembro de 2018Mercado Imobiliário
Para o setor imobiliário brasileiro incorporar e se beneficiar amplamente do potencial do blockchain – tecnologia que permite, através de técnicas criptográficas, a agilização de transações complexas –, há uma série de desafios e barreiras a ultrapassar, tanto em termos culturais e de regulamentação quanto da própria tecnologia, aponta Fernando Ulrich, analista-chefe da XDEX, bolsa de criptomoedas recém-lançada pela XP Investimentos.

"Sem dúvida, os mercados que estão mais abertos a investimento externo conseguem aproveitar muito melhor a tecnologia [do blockchain], que é global, não tem fronteiras", destaca ele, que participou em 24 de outubro um club meeting conjunto do GRI Club Real Estate e o GRI Tech Club para tratar dos impactos e das implicações de blockchain e criptomoedas para o setor imobiliário

Fernando Ulrich aponta como localidades avançadas em jurisdição, os Estados Unidos, a Inglaterra e a Austrália, entre outros. "Qualquer país que recebe muito investimento externo consegue aproveitar melhor a tecnologia no setor imobiliário", analisa.

Tokenização de ativos

Para retratar os desafios tecnológicos, ele traz à tona o exemplo da potencial 'tokenização’ de ativos, isto é, a emissão de contratos digitais (token) usando a tecnologia blockchain, conectados a documentos jurídicos que representam os ativos reais, criando uma nova realidade em que o detentor do token é detentor do ativo que o token representa.

"A característica dos tokens é que o detentor da senha – chamada de chave privada – é o real proprietário. Se ele perde essa chave privada, perde o token. É como queimar uma nota de dinheiro. Se extrapolarmos isso para o mundo de ‘tokenização’ de ativos, significaria que, ao perder  a chave privada da matrícula de imóvel 'tokenizada', ele perderia o próprio imóvel? Esse é um obstáculo que precisa ser resolvido e ainda não estamos nesse momento", afirma o especialista.

Disrupção no setor imobiliário?

Para Fernando Ulrich – diferente do que pensam alguns empresários, como Joseph Meyer Nigri, da Tecnisa – apesar do potencial de ganhos, o blockchain não deve promover uma disrupção na essência dos negócios do setor imobiliário. "Pode ser uma disrupção, por exemplo, para registro de imóveis, para o sistema cartorial. Entretanto, para o mercado imobiliário, não", avalia.

Na visão do analista-chefe da XDEX, o que tendemos a ver, a partir do blockchain, seria algo como aquilo que se deu com a chegada da internet, que não causou uma disrupção na essência do setor imobiliário, e sim no seu modelo de vendas. 

Ele aposta em avanços no sentido de desintermediação de processos e acredita no aumento do volume de transações imobiliárias envolvendo criptomoedas, "especialmente quando se fala em investimento externo em imóveis, pois hoje não há nenhum sistema de pagamentos para alto valor que seja tão eficiente, seguro, barato e transparente quanto o blockchain do bitcoin". 

Planos da XDEX

Lançada há poucas semanas, a plataforma de negociação de criptoativos XDEX nasceu com planos ambiciosos. "Nosso objetivo é alcançar um número de um milhão de clientes em um ano", conta Ulrich. 

No momento, o foco é público trader, que está negociando e especulando com os preços de criptoativos. "E, sem dúvida, estamos atentos a todo esse desdobramento, e especialmente a essa tendência de ‘tokenização’ de ativos. É fundamental que possamos aproveitar essas oportunidades para, inclusive, ser potencialmente um dos grandes players a avançar com a tecnologia e fazer com que se desenvolva ainda mais em território nacional", pontua o analista-chefe.