Yuca e Loft trilham caminho de sucesso com recursos de fundos imobiliários

Além das startups, o GRI Club ouviu Régis Dall’Agnese (RB Capital) e Julian Villacorta (Paladin) para entender o panorama dos FIIs

5 de fevereiro de 2021Mercado Imobiliário
Ambas são empresas que trouxeram disrupção e novidades para o mercado imobiliário. As duas são startups e também têm em comum o fato de se capitalizarem via fundos imobiliários (FIIs). Yuca e Loft, por mais que atuem com modelos diferentes de negócio, atualmente vivem o auge de uma história ainda curta, mas muito promissora.

Com objetivo de alcançar R$ 500 milhões de patrimônio sob gestão nos próximos 18 meses, o que representa algo em torno de 1,5 mil quartos, a Yuca lançou no ano passado o primeiro fundo imobiliário de renda residencial do Brasil, o YUFI11, que hoje detém metade dos imóveis administrados pela empresa. 

Segundo Rafael Steinbruch, co-fundador da startup, haverá mais uma captação em oferta restrita com base na instrução 476 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e na sequência a ideia é realizar uma oferta pública do fundo permitindo também a participação do pequeno investidor. 

“Ao contrário de mercados desenvolvidos, como nos Estados Unidos e na Europa, onde a propriedade residencial está nas mãos de empresas profissionalizadas, aqui o controle é realizado por pessoas físicas e existe uma grande ineficiência tributária. Faz muito mais sentido investir em fundos imobiliários e deixar a administração para empresas profissionais, como a Yuca”, afirma o executivo.

Ainda de acordo com Steinbruch, os FIIs serão um dos principais vetores de crescimento da startup nos próximos anos e devem continuar respondendo por 50% dos imóveis administrados pela empresa.

Quem também recorre aos fundos imobiliários para realizar aquisições é a Loft, principal nome do Brasil quando o assunto é iBuyer - compra, reforma e revenda de imóveis em bairros estratégicos nas grandes cidades do país. Atualmente, a startup tem dois fundos lançados, somando em torno de R$ 650 milhões captados. 

“O capital que a gente utiliza efetivamente para comprar os imóveis do iBuyer é aquele proveniente dos fundos imobiliários, pois usar dinheiro de equity na aquisição de estoque se torna muito caro - temos que diluir a empresa cada vez que há uma captação, ou seja, é como vender uma parte”, explica João Vianna, co-fundador e head of real estate da Loft. 

Segundo o executivo, a relação com o mercado de capitais é algo intrínseco e fundamental para que o modelo seja sustentável: “Depois que a Loft começou, vários outros players tentaram entrar no iBuyer e nenhum conseguiu chegar efetivamente com força; compraram alguns imóveis e desistiram porque não concluíram a captação de recursos de modo a estruturar um fundo imobiliário para rodar o modelo”.

Fundada em 2018, a Loft opera hoje pouco mais de 400 imóveis no modelo iBuyer nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, todos eles adquiridos com recursos dos fundos imobiliários lançados pela empresa. “Cerca de 25% do valor total dos fundos são capital da Loft, algo em torno de R$ 160 milhões”, afirma Vianna.

Já o dinheiro de equity captado junto a investidores internacionais - como Andreessen Horowitz, QED Investors, Fifth Wall e Monashees, dentre outros - é utilizado para outras frentes da companhia, como contratação de colaboradores e investimentos em tecnologia, marketing, expansão etc. 

“A ideia é continuar captando e dando acesso ao pequeno investidor, como já ocorre com um de nossos fundos negociados na B3. No ano passado, pensamos bastante em lançar um terceiro fundo com uma tese um pouco diferente, mas resolvemos esperar devido à crise”, revela o co-fundador da Loft. 

Além das capitais paulista e fluminense, Vianna confirma a intenção de expandir as operações da startup para outras cidades do País, mas não revela quais são. “Neste momento, estamos mais focados em densidade, pois em nosso mercado, quanto maior for a densidade nas cidades onde atuamos, melhor será a experiência para compradores e vendedores”, assinala o executivo.

Alta da Selic pode reduzir apetite dos investidores?

É consenso no mercado financeiro que a taxa básica de juros do Brasil deve voltar a subir ao longo do ano, após atingir o piso da série histórica no ano passado. Neste caso, alguns fundos imobiliários podem ser mais afetados do que outros, conforme indica Régis Dall’Agnese, sócio-diretor da RB Capital.

“Os fundos de renda residencial são bastante dependentes da taxa de juros. A maioria paga rendimentos de 5% a 6% ao ano, que é o retorno médio do aluguel, e ainda tem taxa de administração e demais custos do fundo, ou seja, são rendimentos que só fazem sentido em patamares de juros baixos”, afirma.

Por outro lado, o especialista aponta que hoje há uma liquidez muito maior nos fundos imobiliários, o que reduz o peso dos juros no interesse do investidor. Além disso, a elevação da Selic esperada para 2021 não é preocupante: “Nos FIIs, existe uma barreira psicológica do patamar a partir do qual acontece a migração de um ativo para outro, que é uma taxa [Selic] da ordem de 5% a 6%”.

“Quando falamos em Selic a 3,5% ou 4%, não considero que seja relevante para afetar a indústria [de FIIs], até com base no que vimos nos últimos dois anos. A média das taxas em 2020 foi de 3% e em 2019, de 5% ou talvez um pouco mais, e os volumes de captação foram semelhantes. A indústria de FIIs deve continuar crescendo”, complementa Dall’Agnese.

Apenas para ilustrar, a quantidade de investidores em fundos imobiliários saltou de 208 mil no final de 2018 para 645 mil em dezembro de 2019 e mais recentemente para 1,17 milhão no ano passado, segundo boletim divulgado pela B3.

Julian Villacorta, managing director da Paladin Realty Partners, também avalia que o impacto da correção na Selic sobre os FIIs vai depender das características de cada fundo. “Alguns fundos têm yield de 5% a 6%, como os de lajes corporativas ou galpões logísticos; com a subida da Selic, a tendência é que percam clientes para fundos que tenham rentabilidade maior”.

Guilherme de Luca, Relação com Investidores na RB Capital, pondera que, em relação aos fundos de renda residencial, se há investidores comprando imóveis com objetivo de alugá-los, dado o patamar atual da taxa de juros, por que não realizar esse investimento através de fundos imobiliários, que são mais profissionais e apresentam diversidade muito maior?

Fundos de desenvolvimento devem ser a bola da vez

Com 60% dos investimentos na América Latina concentrados no Brasil, a Paladin avalia que há muitas incorporadoras no país que ainda não fizeram IPO e continuam demandando investimentos de fundos como o da gestora. 

Segundo Villacorta, os melhores retornos para os investidores estão nas estratégias de desenvolvimento imobiliário, que também apresentam maior risco. “Ao investir em um projeto residencial, por exemplo, a taxa de retorno será entre 25% e 30%, mas é um investimento que tem um risco muito maior do que um galpão logístico alugado para uma empresa de primeira linha no modelo built to suit”. 

“No curto e médio prazos, eu vejo mais ofertas de fundos que foquem no desenvolvimento, seja ele residencial, de escritórios etc. porque há um grupo de investidores mais sofisticados em sua análise e disposto a tomar um risco maior para também obter maiores retornos. Temos tido sucesso nesse tipo de investimento”, completa o diretor da Paladin.

Para Dall’Agnese, embora os fundos de desenvolvimento representem apenas cerca de 2% dos papéis do Ifix, há um potencial muito grande de crescimento nos próximos anos, o que pode ser explicado, além das taxas de retorno, pela mudança no perfil de dívida adquirido pelas incorporadoras.

“Há alguns anos, em meio à crise financeira, houve um momento de excesso de emissão de debêntures, isto é, as incorporadoras tomaram dívidas corporativas e ficaram com estruturas de capital mais frágeis. Hoje, as operações no mercado de capitais têm muito mais o perfil de project finance do que de uma dívida corporativa”, explica o sócio-diretor da RB Capital.

Ainda segundo Dall’Agnese, é natural em um mercado ainda em desenvolvimento que haja primeiro o interesse por ativos de menor risco para, depois, opções mais complexas serem demandadas. 

“Eu particularmente gosto e acho interessante um produto que possa ser um híbrido desses dois [locação e desenvolvimento], no qual se tem a característica de uma renda imobiliária, mas também um pouco de risco, compensando a inexistência ou o menor retorno de renda com o retorno do ganho de capital”, diz o especialista.

No início do ano passado, a RB Capital captou R$ 300 milhões para investir exclusivamente no setor residencial, conta Dall’Agnese. De olho no apetite do mercado, a Yuca deve lançar um novo fundo imobiliário, dessa vez de desenvolvimento, para adquirir prédios e realizar retrofit.


Por Henrique Cisman