Shoppings: Saphyr e Multiplan miram e-commerce de olho no futuro

Administradoras se movimentam para atender demanda de consumidores e inquilinos

23 de abril de 2021Mercado Imobiliário

Apontar quais foram os segmentos imobiliários beneficiados ou prejudicados pela pandemia de Covid-19 é chover no molhado. Mas nunca é demais lembrar: se os galpões logísticos se tornaram a menina dos olhos dos investidores, na outra ponta pairou uma imensa incerteza sobre o que seria dos escritórios e, mais ainda, dos shopping centers.

Nenhuma teoria apocalíptica se concretizou, mas é verdade que os impactos vieram e exigiram adaptações, a começar pelo número de colaboradores. “Tivemos que enxugar nosso quadro e alterar a remuneração na frente comercial porque a pandemia durou mais que o previsto”, afirma Carlos Frederico Youssef, CEO da Saphyr Shopping Centers.

Já a Multiplan levantou R$ 875 milhões em novas captações: R$ 475 milhões em linhas de crédito e R$ 400 milhões por meio da emissão de debêntures, segundo revela o vice-presidente Financeiro e de Relação com Investidores da empresa, Armando d’Almeida Neto. 

Como era de se esperar, ambas as empresas abriram mão de receitas junto aos lojistas para apoiá-los enquanto os empreendimentos ficaram fechados por determinação de governos municipais e estaduais. “Em 2020, concedemos uma série de isenções e descontos em aluguel, condomínio e fundo de promoção que somaram quase R$ 1 bilhão”, revela Neto.

A Saphyr também auxiliou seus inquilinos, sobretudo aqueles cujos setores foram mais prejudicados, como as lojas de viagens. Outros, entretanto, mantiveram bom desempenho: “Alguns segmentos, como os supermercados, prosperaram durante a pandemia, com vendas superiores ao ano anterior. Depois da reabertura, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e artigos para o lar também apresentaram crescimento nas vendas”, assinala Youssef.

No último trimestre do ano passado, a Saphyr obteve o melhor período da história da companhia em termos de comercialização, em que pese o cenário muito ruim que antecipou essa retomada. Já a Multiplan teve o maior turnover de lojas desde seu IPO, em 2007, abrindo 117 novas unidades que correspondem a quase 15 mil m² de área locada. 

Ambos os executivos também destacam a parceria da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) com o Hospital Sírio-Libanês para a validação de protocolos de higienização e segurança, essenciais para que os estabelecimentos pudessem reabrir. 


Shoppings em todo o país adotaram medidas para aumentar a segurança dos trabalhadores e visitantes. Foto: Divulgação/Multiplan

Neste sentido, Youssef critica as restrições aos shoppings em todo o país: “Quando os governos estaduais ou mesmo municipais decidem fazer lockdowns, infelizmente o tiro sai pela culatra porque o poder público não tem capacidade de fiscalização ampla e irrestrita; as pessoas que eventualmente estariam dentro do shopping center, em um ambiente totalmente controlado, vão majoritariamente para o comércio de rua, onde não há esse controle”. 

A hora e a vez do e-commerce

A grande transformação do segmento, entretanto, foi a aproximação com o e-commerce. Segundo Neto, a Multiplan reforçou sua estratégia de longo prazo calcada no mix de portfólio e na inovação, um importante passo intensificado desde 2019, quando a empresa investiu na startup Delivery Center e lançou o aplicativo Multi. 

“Por meio do Multi, criamos novas vitrines para os lojistas e opções de compra para os clientes dos shoppings com comodidade e agilidade. Sua funcionalidade de marketplace, já integrada a 17 dos 18 shoppings administrados pela companhia, permite aos consumidores realizar compras com entregas rápidas”, explica o VP Financeiro e de RI da Multiplan.
 
No ano passado, a empresa fez novos aportes na startup motivados pelo sucesso da estratégia. Segundo Neto, a Multiplan já colhe os frutos do investimento: “Tivemos um crescimento de 350% nas vendas realizadas pelo app Multi nas duas semanas anteriores ao Domingo de Páscoa em relação ao mesmo período no ano passado”, afirma o executivo.
 
Já a Saphyr lançou durante a pandemia seu próprio marketplace, que inclui opções variadas de pagamento e uma plataforma de delivery. Em breve, também haverá um sistema de live streaming, segundo revelou ao GRI o CEO da companhia. 
 
Outra novidade é o Alugaê, portal online focado na comercialização de ativos. “É uma forma que a gente encontrou para digitalizar o processo comercial em shopping centers; desde que essa indústria surgiu, isso é feito da mesma maneira, e essa quebra de barreira precisava acontecer”, diz Youssef.
 
Segundo o executivo, no Alugaê os inquilinos têm acesso a todo o portfólio dos dez shopping centers administrados pela Saphyr e conseguem visualizar quais espaços disponíveis foram chancelados por determinada marca. “É uma espécie de Tinder para fazer o match entre franquias e franqueados”, define.
 
Em relação ao delivery, o Brasil possui uma vantagem em relação a outros mercados, como o norte-americano: “Os shoppings brasileiros estão muito concentrados nos grandes centros urbanos, o que é uma vantagem competitiva pela presença no last mile. As lojas podem ter seus centros de distribuição, mas fazer a entrega de última milha é um desafio e elas podem utilizar os shoppings para esse fim”, aponta Youssef, CEO da Saphyr.
 

Shopping Metrô Tucuruvi: integrado à estação de metrô e a um terminal urbano de ônibus com 23 linhas, recebe 1,8 milhão de clientes por mês. Foto: Divulgação/Alugaê
 
“A localização privilegiada dos shoppings, dentro dos grandes centros urbanos e próximos dos consumidores, permite que os lojistas tenham agilidade na entrega e custo competitivo nas vendas online”, acrescenta Neto, VP Financeiro e de Relação com Investidores da Multiplan. 
 
Neste sentido, Youssef pontua que é iminente a necessidade de uma revisão dos modelos contratuais para que os shoppings sejam remunerados corretamente em função dessa distribuição. “Acho que a indústria está caminhando nesse sentido”, assinala.
 
Um bom exemplo vem de uma unidade na Baixada Fluminense, região do Rio de Janeiro que sofre com altos índices de violência; por esse motivo, empresas de delivery se negam a realizar entregas em alguns endereços. “Criamos um programa no qual fornecemos aos consumidores a possibilidade de gerar o CEP de nosso shopping na hora da compra, e fizemos uma área de storage para que eles possam realizar a retirada do produto”, explica Youssef.
 
Outra tendência, segundo os executivos, é inserir os shoppings em projetos multiuso, oferecendo aos moradores, hóspedes, colaboradores e visitantes dos prédios residenciais, comerciais e dos hotéis a possibilidade de acessar produtos e serviços sem deslocamento. 
 
Em 2021, a Multiplan vai lançar um bairro privativo a três minutos do Barra Shopping Sul, em Porto Alegre. O primeiro dos sete condomínios a ser lançado e construído é o Lake Victoria, que terá quatro torres e um total de 94 unidades, de 299 m² a 543 m² de área privativa, totalizando 34 mil m².

Por Henrique Cisman

GRI Industrial e Logistica eSummit