Reversão de expectativas faz Alphaville retomar lançamentos

Marcelo Willer, diretor presidente da loteadora, analisa momento da companhia, do setor e da economia.

10 de janeiro de 2017Mercado Imobiliário
Discreto e figura pouco constante na mídia, Marcelo Willer, o diretor presidente da Alphaville Urbanismo, aceitou o convite de conversar com o GRI neste momento decisivo para o mercado imobiliário. Nesta entrevista, ele analisa o cenário, fala sobre os prós e contras de gerir a marca mais conhecida do setor de loteamentos, e anuncia que a empresa está retomando sua agenda de lançamentos, após meses de stand-by por conta da paralisia econômica. Confira:

GRI: Acredita que o Brasil possa viver uma retomada econômica já a contar de 2017?
Marcelo Willer: Estamos fazendo nosso planejamento para os próximos cinco anos e nossa impressão é de que a retomada vai ser mais lenta do que a maior parte dos analistas e dos players do mercado imobiliário imagina. Entendemos que, a partir do início de 2017, deve acontecer uma inversão de sinal, começando a apontar para a melhoria de alguns indicadores. Todavia, por enquanto, a melhora das expectativas para o futuro, que é clara, ainda não teve nenhum reflexo na economia real.

GRI: Como o setor imobiliário se encaixa nessa visão?
MW
: O setor imobiliário também deve ter uma retomada um tanto lenta, principalmente na área das incorporadoras, pois ainda possuem alguns excessos de estoques a ser vendidos em várias cidades importantes. Havendo uma melhora das condições macroeconômicas, imagino que esse estoque seja absorvido mais rapidamente e que o nível de distratos tenda a diminuir. Isso, entretanto, demora certo tempo. Não é um reflexo imediato da volta do crescimento. No caso dos loteamentos, existe menos estoque, o que pode fazer a retomada se dar com um pouco mais de agilidade; porém, não creio em uma mudança muito forte em 2016.

GRI: De que maneira a Alphaville tem atravessado essa fase?
MW
: Não acumulamos um estoque grande. Também não estamos seguindo uma política de promover vendas com amplos descontos, já que tomamos muito cuidado com a nossa marca. Ela traz muitos bônus, facilita os lançamentos e as vendas; por outro lado, nos impõe limites, tais como não ter flexibilidade para mudar tabelas de preço para baixo.

GRI: Como essa dicotomia se traduz na prática?
MW
: Talvez Alphaville seja hoje uma das poucas marcas lembradas e valorizadas no Brasil como um todo. Nos tornamos sinônimo de empreendimento de alto padrão horizontal em qualquer região do País, e isso foi um trabalho de longo prazo, construído ao longo de 45 anos. Alphaville não é uma marca criada por um projeto de branding ou de marketing e implantada de forma acelerada. Ela foi sendo consolidada e isso traz benefícios grandes, como uma velocidade de venda muito boa nos lançamentos. Em geral, também conseguimos ter um diferencial de preço. Isso, contudo, nos impõe muita prudência para não desgastar a marca. Precisamos ser muito rigorosos para só lançar projetos que realmente tenham demanda e que fiquem associados a uma imagem de sucesso. Não podemos nos dar ao luxo de ter empreendimentos não vendidos, de parar a obra por problemas de aprovação ou de mercado. Uma vez lançado um projeto, nosso compromisso é de ser muito firmes na entrega porque senão, além de um problema isolado, temos um peso maior, que é arranhar nosso maior patrimônio, a marca.

GRI: O que devemos ver de lançamentos do grupo em 2017?
MW
: Em 2016, nossa cautela fez com que diminuíssemos bastante o volume de lançamentos. Não tivemos pressa nem quisemos desperdiçar oportunidades lançando bons produtos num momento adverso. Possuímos belos projetos aprovados e, a partir deste final de ano, vamos voltar a fazer lançamentos com bastante pressão e demanda. O processo vai ser calibrado pela velocidade da retomada, mas não contamos que o Brasil precise voltar ao nível de dinamismo de dois anos atrás para lançar num ritmo bom. Só a reversão das expectativas já vai ser suficiente para iniciar.

Entrevista concedida à editora-chefe, Giovanna Carnio