Resorts retomam crescimento após meses de paralisação

Apesar da pandemia, turismo doméstico cresceu no 2º semestre do ano passado

25 de fevereiro de 2021Mercado Imobiliário
No início da pandemia, principalmente de abril até junho, muitos hotéis cessaram suas atividades e fecharam temporariamente as portas. Contudo, a partir de agosto do ano passado houve uma retomada das operações com forte recuperação no setor de lazer, que foi positivo tanto em volume quanto em receita.

“Em agosto de 2020 já estávamos vendendo 80% no segmento de lazer em relação ao que vendíamos em 2019. Em outubro e novembro vendemos mais de 100% na mesma comparação. Praticamente em todos os finais de semana e feriados, os hotéis estavam cheios”, afirma Fábio Godinho, CEO da GJP Hotels & Resorts.

Ana Biselli, presidente-executiva da Resorts Brasil, associação que representa o segmento, explica que houve uma demanda reprimida de lazer e que, dada a capacidade reduzida para operar seguindo os protocolos de segurança, os resorts permaneceram fechados durante muito tempo, resultando em uma taxa de ocupação média 40% menor do que em 2019.

Entretanto, Biselli indica que, pelo fato de serem amplos, com áreas externas e convívio com a natureza, os resorts tiveram grande atração do público após a reabertura, assim como as mudanças nas acomodações tiveram relevância na retomada do setor.

“Os resorts se prepararam para receber pessoas que, eventualmente, queriam trabalhar enquanto seus filhos se divertiam e faziam as suas aulas online. Esse movimento permitiu que houvesse uma demanda de lazer bastante significativa nos últimos meses”, aponta a executiva.

A demanda também cresceu para a Tauá Resorts. Daniel Ribeiro, presidente da Rede Tauá de Hotéis, evidencia que, por mais que a maioria dos empreendimentos no país tenha terminado o ano de 2020 com média de 40% a menos de RevPAR, a unidade de Atibaia apresentou uma queda de apenas 11%, mesmo estando fechada durante três meses.

Ribeiro explica que houve uma grande recuperação a partir de outubro e ressalta que os números, desde então, foram melhores do que em 2019. “Abrimos um novo hotel em outubro; em novembro e dezembro já tivemos resultados muito positivos. Em janeiro, a demanda já aumentou 30%”, revela.

José Romeu Ferraz Neto, presidente da Txai Resorts, afirma que em 2020 o hotel permaneceu fechado por cinco meses. Com a retomada das atividades, o impacto anual foi de 16% a menos em termos de ocupação, contudo, houve queda de apenas 5% no faturamento. 

“Nosso hotel apresentou esse resultado razoável porque é amplo e há distanciamento entre as pessoas. Isso chamou a atenção dos hóspedes e nos levou a ter uma procura muito grande a partir de agosto, até acima do que imaginávamos”, afirma.

Segundo o executivo, antes da pandemia a média de permanência de cada hóspede no hotel era em torno de quatro dias, mas, após a reabertura, esse número variou entre dez a quinze dias, ampliando de maneira expressiva, inclusive, o consumo dos hóspedes.

“Em relação ao faturamento, posso acrescentar mais um item que, com certeza, foi o mais determinante: temos dois condomínios linkados ao hotel e nesta época do ano essas casas não são muito utilizadas, mas, devido à pandemia, elas estavam cheias, havendo um consumo que não estava previsto”, explica.

Dificuldades para viagens internacionais beneficiaram turismo doméstico

O CEO da GJP Hotels & Resorts, Fábio Godinho, aponta que as restrições dos voos internacionais e o alto patamar do dólar foram alguns dos fatores limitantes para que as famílias optassem por viagens domésticas. “Além disso, muitas famílias se sentem mais seguras viajando dentro do próprio país nessa época de pandemia”.

Biselli, presidente da Resorts Brasil, complementa que há um grande volume de brasileiros que viajam ao exterior anualmente, mas que, durante a pandemia, com a impossibilidade de se realizar viagens internacionais, esse perfil de hóspedes optou pelos resorts nacionais.

Contudo, a executiva afirma que as pessoas não ficaram restritas apenas à região ou ao estado onde vivem. “No começo da pandemia, pensamos que as viagens seriam mais regionais, mas muitas pessoas estão confortáveis para viajarem de avião. Como São Paulo é um polo emissor para o Brasil inteiro, vimos esse movimento dos paulistanos também frequentando resorts no Nordeste, especialmente no verão”.

Para Neto, a diminuição e a restrição dos voos auxiliou muito o turismo interno, fazendo com que a grande maioria de resorts e hotéis ficasse com uma ocupação bastante alta, mas o executivo acredita que quando a situação voltar à normalidade, muitas pessoas escolherão viajar para fora.

“Porém, mesmo se o nível de ocupação diminuir, ele continuará superior ao que era antes da pandemia, tendo em vista que houve um ganho suplementar diante dos novos mercados que surgiram aqui no Brasil”, contrapõe.

Ribeiro destaca a preferência de muitos hóspedes por viagens mais curtas e evidencia a prosperidade dos hotéis próximos aos grandes centros, facilitando as viagens by car. “O turista externo ou de cruzeiro, que não podia mais viajar para fora, passou a procurar os nossos hotéis. Tivemos um excelente desempenho que em boa parte se deve à localização do empreendimento”.

Capacidade ainda está longe dos 100%

Durante a pandemia, algumas medidas foram implementadas pelos resorts para garantir maior segurança aos hóspedes e também aos colaboradores, dentre as quais está a limitação na capacidade utilizada. Segundo Ana Biselli, essa limitação depende da localidade e da fase em que cada município se encontra. 

“Se o município retorna para a fase vermelha, ele se torna mais restritivo. Havia uma tendência positiva até o final do ano de maior flexibilização, mas quando os números começaram a ficar mais preocupantes, a limitação também aumentou”, explica a presidente da Resorts Brasil.

De acordo com Biselli, no final do ano passado a capacidade operacional média dos empreendimentos associados era próxima de 50%, sendo algumas cidades mais restritivas, com 40%, e outras mais liberais, com 70%. “Não há um padrão, mas certamente essa é a média atualmente”.

Como medida de segurança para os hóspedes e colaboradores, Godinho afirma que a GJP Hotels assinou um convênio com regime de exclusividade com o hospital Sírio Libanês, garantindo a implementação de novos padrões de higiene e convívio social. “O hospital já realizou duas auditorias em nossos hotéis e todos foram aprovados com nota maior do que 95”, conta.

A Txai também passou por alterações: “Existe um controle muito rígido da prefeitura de Itacaré, por exemplo. Alteramos o funcionamento do buffet no café da manhã e o serviço de almoço passou a ser somente à la carte, mas como os distanciamentos no hotel já são muito grandes e nossa ocupação varia entre 48% a 50%, não foi muito difícil, no geral, implementar essas mudanças”, explica o presidente José Romeu Ferraz Neto.

Ribeiro explica que a limitação nos hotéis da Tauá Resorts ocorreu não por limitação legal, mas por uma decisão interna. “Não queremos que o hotel tenha aglomeração, então temos uma ocupação de 70% em Caeté e em Atibaia; em Araxá, estamos trabalhando com 50% por indicação do município, e em Alexânia conseguimos trabalhar com 100% porque o hotel possui estrutura para 424 quartos, mas só inaugurou metade até o momento”.

Além disso, o executivo espera que em julho já seja possível uma liberação total do espaço. “O grupo de risco já terá sido vacinado e imaginamos que as mortes irão diminuir drasticamente, trazendo uma maior tranquilidade para as pessoas saírem de casa”, complementa.

Novas tendências

Godinho aponta como uma grande tendência para os hotéis os novos protocolos relacionados à saúde que surgiram na pandemia. “Além disso, criamos muitas experiências para as famílias. São experiências personalizadas e privativas, como cinema no apartamento, piquenique no bosque, jantar privativo e day spa, iniciativas que estão sendo um grande sucesso de venda nos nossos resorts”.

O executivo aponta também a importância da tecnologia no momento atual. “Já estamos na terceira versão do nosso web app, então é possível fazer tudo por lá, como ver as informações do hotel, checar o cardápio e comprar as experiências tanto internas quanto de passeios”.

Biselli também aponta a tecnologia como grande aliada. “Penso que a tendência de utilizar a tecnologia na gestão da experiência do cliente irá se intensificar, seja fazendo um check-in online, tendo acesso a orientações do Resort, ou mesmo nas reservas de restaurantes e atividades”.

A executiva acredita que outro aspecto que permanecerá é a procura dos resorts por pessoas que trabalham à distância, embora isso possa ser atenuado com o retorno das crianças às aulas presenciais. 

Neto, assim como os outros executivos, afirma que os cuidados sanitários e de higiene vão continuar sendo ponto de grande atenção nos resorts. “O fato de todos os funcionários estarem trabalhando com máscaras traz mais segurança aos hóspedes. O álcool em gel nos ambientes e a forma de servir o buffet do café da manhã também são coisas que vamos perenizar”, indica.

Para Ribeiro, a maior tendência é voltada à criação de novas experiências aos frequentadores, principalmente nas áreas externas. “Os hóspedes desejam viver experiências diferentes das que possuem dentro de casa, portanto, criamos programações que incluem shows externos, piquenique com as crianças e contato com a natureza”, revela.

Perfil do novo hóspede

O presidente da Txai afirma que o perfil do novo hóspede são famílias que viajam regularmente ao exterior e que não costumavam passear dentro do Brasil, mas que passaram a procurar os resorts por conta da pandemia. 

“Esses hóspedes começaram a ficar, em média, quinze dias no hotel, e ficaram maravilhados com a comida, com o tipo de hospedagem e com os passeios. É um público que está descobrindo que não é necessário ir para outro país para ter um momento de lazer interessante”, opina Neto.

Para o CEO da GJP Hotels & Resorts, por mais que os grandes eventos retornem somente em 2022, a demanda por reuniões corporativas de uma forma reduzida e híbrida deve permanecer. “Mesmo que o trabalho seja em home office, é difícil manter a cultura da empresa onde nunca há encontro físico entre as pessoas. Penso que os eventos corporativos serão cada vez mais importantes para as companhias”, alerta Godinho.

O executivo evidencia que a solução encontrada foi a criação do produto GJP link: “Conseguimos montar plataformas de eventos para atender tanto presencialmente quanto remotamente, via streaming. Já fizemos diversos eventos nesse formato e é uma coisa que vem aumentando bastante”.

Perspectivas do setor com a vacinação no país

Godinho acredita em uma demanda normalizada a partir do segundo semestre e espera, por parte do lazer, um crescimento superior em relação ao mesmo período de 2019. “Estamos nos preparando bastante. Aproveitamos os hotéis fechados para fazer diversos tipos de manutenção preventiva e conservação dos nossos ativos, como, também, para realizar mais treinamento das equipes e novos investimentos”.

Por mais que o cenário atual seja incerto, o presidente da Tauá Resorts, Daniel Ribeiro, não possui receio em relação ao turismo de lazer: “Em janeiro, já alcançamos ótimos resultados. Não é possível afirmar se teremos grandes convenções no segundo semestre, mas a viagem de lazer imagino que esteja muito forte, pois há uma grande demanda reprimida”.

Quando a situação da pandemia se normalizar, por mais que uma parcela da população opte por viajar para fora do país, na visão de Biselli não haverá grandes perdas de demanda aos resorts brasileiros, principalmente pelo fato de que muitas pessoas receosas por viajar estarão mais seguras e confiantes a partir de então. Além disso, a expectativa é que a demanda por eventos e viagens corporativas volte a crescer gradativamente.

“Penso que não teremos grandes perdas, mas sim uma substituição da demanda com novos potenciais. Temos a expectativa de que o lazer não diminua muito e que o segmento de eventos corporativos retorne, equilibrando novamente as contas do segmento”, finaliza.
 
Por Júlia Martini