Redes de hotéis anunciam novos lançamentos, otimistas com a retomada

Em algumas unidades, a demanda em julho já foi superior a 2019

9 de setembro de 2021Mercado Imobiliário

Depois de longos meses de agonia, o setor hoteleiro finalmente enxerga um horizonte mais tranquilo com o avanço da imunização no Brasil e no mundo, a redução das restrições de capacidade e o aumento da confiança das pessoas - e até das empresas - para a realização de viagens. 

Segundo a vice-presidente de Desenvolvimento da Wyndham Hotels & Resorts, Maria Carolina Pinheiro, dois empreendimentos da empresa - situados em Olímpia (SP) e Gramado (RS) - registraram, em julho, o recorde histórico de ocupação, superando, portanto, as marcas de 2019, antes do início da pandemia. 

O resultado é ainda mais expressivo ao se considerar que a permissão de capacidade não está totalmente normalizada: em Olímpia, é de 80% dos leitos; em Gramado, de 75%. A expectativa é que o segundo semestre seja melhor do que em 2019 no turismo de lazer. “As famílias querem viajar e existe uma predominância para o turismo interno. Nós estamos muito otimistas”, afirma Pinheiro.

Outra rede animada com o desempenho recente é a GJP Hotels & Resorts, que observa o aumento da demanda conforme a curva de vacinação avança positivamente no Brasil. “Em julho deste ano, os resorts Wish - marca upscale da GJP - atingiram 110% da receita na comparação com 2019, quando ainda não tínhamos pandemia no país, ou seja, crescemos 10% mesmo nesse cenário”, diz o CEO da empresa, Fabio Godinho

Wish GJP em Natal, Rio Grande do Norte. Foto: Reprodução/Booking.com

CFO América do Sul da Accor, Mauro Rial indica estar confiante na retomada do setor à medida que a imunização avança em todos os países. “O que eu posso dizer é que estamos vendo uma retomada importante, principalmente com o lazer doméstico, que em julho já superou a performance de 2019. É uma retomada mais rápida do que a gente imaginava, mas, no geral, ainda há muito o que percorrer para atingir os patamares pré-pandemia”, pontua o executivo. 

Em 2021, o grande objetivo da companhia é fechar no azul: “Adotamos inúmeras iniciativas para reduzir os custos e manter as operações, conseguimos reduzir o ponto de equilíbrio em taxa de ocupação entre 15% a 20% e vamos continuar esse trabalho. Hoje, já temos hotéis distribuindo lucro”, afirma Rial. 

Segundo o presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) e CEO da Atlantica Hospitality International, Eduardo Giestas, a expectativa é positiva para o segundo semestre, já que os resultados até junho foram muito prejudicados pela segunda onda da pandemia e, agora, o cenário é outro. 

“A ocupação foi pouco superior a 30% no cômputo geral, contra uma ocupação de 57% no primeiro semestre de 2019”, revela Giestas. O percentual é uma média dos resultados de 503 hotéis que pertencem a redes associadas ao FOHB. O preço da diária também caiu 16%, sem considerar a inflação do período. 

Em se tratando especificamente da Atlantica, a expectativa é que a melhoria registrada em julho - 40% de ocupação, em média - seja acentuada até o final do ano, quando a meta é superar os 55% de quartos ocupados, “muito próximo do que foi alcançado no período pré-pandemia”, afirma Giestas. 

Presidente da Resorts Brasil, Ana Biselli diz que a associação tem uma boa perspectiva de retomada se não houver nenhuma grande novidade em relação à pandemia. “Os meses de abril e maio foram muito ruins por causa da segunda onda. Em junho, já melhorou; em julho, que é mês de férias, aí sim, teve um resultado bastante positivo, segundo nossos associados”. 

Em parceria com a STR, a Resorts Brasil aponta que a ocupação em 2021 - no período de janeiro a julho - está apenas 14% abaixo do registrado em 2019. O resultado de julho foi essencial para melhorar o quadro, já que na comparação com o mesmo período pré-pandemia houve recuo de apenas 6% na média dos empreendimentos monitorados. 

Aumento da oferta comprova otimismo

Em que pese todas as dificuldades que o setor precisou superar até aqui, ainda existe um forte apetite para investimentos, segundo Rial: “A gente deve abrir uns 25 hotéis na América do Sul ao longo de 2021, a maioria novos hotéis, principalmente projetos que já vinham antes e foram adiados. Temos no pipeline projetos greenfield em destinos onde não estamos presentes, como o Île de Pipa MGallery Hotel Collection”, afirma o CFO da Accor, sem entrar em maiores detalhes. 

O ímpeto é grande também na Wyndham. Recentemente, a rede assinou dois contratos para a marca Days Inn by Wyndham, um na Vila Madalena e outro em Perdizes, ambos na cidade de São Paulo. A empresa também aposta em conversões, como no Rio de Janeiro, onde adquiriu um hotel independente nas proximidades do Parque Olímpico para torná-lo TRYP by Wyndham.

Wyndham vai desenvolver dois novos projetos da marca Days Inn, um deles em Perdizes, próximo ao Allianz Parque. Foto: Reprodução/TudoDeViagem.com

“Vamos abrir 17 hotéis na América Latina no último trimestre do ano. Alguns eram para já estar funcionando, mas foram postergados, e temos ainda várias outras negociações em andamento”, conta a VP de Desenvolvimento da companhia, Maria Carolina Pinheiro. 

Sem mirar novos lançamentos, a GJP revela que tem diversos projetos de expansão dos resorts existentes, tanto para venda de multipropriedades quanto timeshare. “Os projetos estão em estágio de desenvolvimento e aprovação junto aos órgãos públicos. Em breve, teremos mais novidades”, diz Godinho.  

Segundo Giestas, o ambiente de negociação de novos empreendimentos nunca foi tão ativo e preenchido quanto agora, na Atlantica Hotels. “A gente acabou de assinar dois contratos de duas novas operações em São Paulo da bandeira Motto by Hilton, e a gente está agora em negociação avançada para mais um empreendimento em São Paulo e outros dois na região Sul do país”, afirma. 

A empresa criou ainda uma nova linha de produtos voltada para moradia, chamada Atlantica Residences. De acordo com o CEO, são pelo menos vinte negociações em estágio avançado, com prazo de lançamento entre 18 e 24 meses, além dos três empreendimentos em operação: e/Joy e Bela Cintra Residence, em São Paulo, e Moinhos Park, no Rio Grande do Sul.

Nova linha da companhia, Atlantica Residence já está em operação em três empreendimentos. Foto: Reprodução/Atlantica Hotels

Para Biselli, presidente da Resorts Brasil, o mercado está bem aquecido porque o investimento em hotelaria é de longo prazo: “Pensando por esse lado, tem um movimento positivo no lançamento de novos produtos em função da demanda de lazer, que a gente viu que é muito forte no mercado doméstico e tem potencial no Brasil todo”, ressalta. 

E o mercado corporativo?

De acordo com Giestas, já se nota uma gradual retomada das viagens corporativas pelo país, mas predominantemente deslocamentos domésticos e “críticos aos negócios”, ou seja, essenciais. A estimativa do FOHB é que a completa recuperação do mercado hoteleiro corporativo ocorra apenas no segundo semestre de 2022.

“Certamente, com o avanço da imunização, com o suposto passaporte sanitário, isso tudo ajuda, mas vai ser uma retomada mais lenta. O turismo internacional corporativo, aquele a negócios, é o que vai demorar mais para recuperar”, aponta o presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil.

A VP de Desenvolvimento da Wyndham destaca a dependência de que haja uma retomada do tráfego aéreo, além do avanço da vacinação. “Precisamos ter a retomada dos voos, das companhias aéreas, para as pessoas viajarem para o Nordeste, para outros destinos, e até para fora. A quantidade de voos está bem menor e a gente depende deles, mas já vemos uma luz”, opina Pinheiro.

Já o CFO da Accor diz que a boa notícia é a percepção de retomada do segmento corporativo interno: “Tem várias pesquisas de consultorias indicando que para criar novos negócios ou projetos, é preciso retomar os encontros presenciais. Algumas empresas têm sentido uma queda do ponto de vista comercial por conta da limitação das viagens para expandir o negócio”, afirma Mauro Rial. 

De olho na nova dinâmica de trabalho, a Accor trouxe a marca de coworkings WOJO, já presente em 129 hotéis em todo o Brasil. “A gente acredita no conceito work from everywhere (trabalhar de qualquer lugar). Queremos dar aos nossos clientes a possibilidade de se hospedar e ao mesmo tempo trabalhar”. 

Coworkings da marca WOJO estão presentes em 129 hotéis da Accor no Brasil. Foto: Reprodução/Accor

A tendência é bem-vinda também para os resorts: “A gente acha que o comportamento das empresas vai ser diferente, que muitas vão optar por um período em home office e, nesse sentido, eventos que venham a integrar as pessoas para disseminar a cultura [da companhia], celebrar resultados etc. vão se tornar ainda mais importantes”, encerra Ana Biselli.

Por Henrique Cisman