Radar GRI: Retomada é ameaçada pelo aumento de custo da construção

Conjunto de indicadores traduz a atual situação do mercado

13 de maio de 2021Mercado Imobiliário

 Enquanto o mercado imobiliário segue performando bem, impulsionado pelo cenário de juros baixos e alta na demanda por imóveis residenciais, a construção civil enfrenta problemas com a falta e o aumento de preço dos materiais, situação que fica mais alarmante a cada mês e ameaça justamente o ramo imobiliário. O GRI Club reuniu estatísticas que demonstram a realidade deste início de ano. 

Mercado imobiliário

De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), os financiamentos imobiliários com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) atingiram R$ 18,35 bilhões em março de 2021, maior volume nominal mensal registrado na série histórica iniciada em 1994 (pós-real). 

Valores financiados com recursos da poupança. Crédito: Abecip 

Já que os meses de janeiro e fevereiro apresentaram saldos de aproximadamente 12 bilhões cada, o montante financiado no primeiro trimestre de 2021 superou os R$ 43 bilhões, alta de 112,8% em relação a igual período do ano passado, que registrou total de R$ 20,25 bilhões.

Em paralelo, os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) seguem ganhando espaço no mercado de capitais. Em março deste ano, os FIIs ultrapassaram a marca de 1,3 milhão de investidores, sendo a grande maioria deles pessoas físicas. Os dados são da B3 (Brasil, Bolsa e Balcão).

Consequentemente, a atuação dos fundos imobiliários tem sido impulsionada. Em fevereiro, o valor de mercado dos FIIs atingiu R$ 126 bilhões e o patrimônio líquido, R$ 141 bilhões. Um ano antes, estes valores eram de R$ 101 bilhões e R$ 93 bilhões, respectivamente.

Emprego na construção civil

Após gerar cerca de 44 mil empregos formais nos primeiros dois meses de 2021, a construção reduziu o ritmo de contratações e teve saldo de 25 mil vagas em março, segundo o Novo Caged. O setor ficou atrás apenas de serviços (95 mil) e indústria (42 mil), atividades mais afetadas pela pandemia, que começaram a esboçar uma reação.

Levando em conta todos os ramos, também é evidente o movimento de retomada, uma vez que houve a criação de 184 mil vagas em março. Com isso, o primeiro trimestre deste ano somou saldo positivo de 837 mil postos de trabalho com carteira assinada, resultado que supera todos os anos a partir de 2010.

Desse modo, o estoque de vagas formais no Brasil chegou a 40,2 milhões, com quase 2,4 milhões na construção. Outro estudo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que também contabiliza o trabalho informal, revelou que a construção empregava mais de 6 milhões de pessoas em janeiro deste ano, o maior número desde o início da pandemia.

Custo da construção

Se por um lado a construção está sendo importante na geração de empregos, por outro, tem convivido com constantes problemas relacionados à cadeia de suprimentos. Além do desabastecimento, a alta nos preços dos materiais elevam as despesas do setor.

Em abril, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), cresceu 0,95% e atingiu uma alta de 12,82% no acumulado de 12 meses. Considerando apenas o grupo de materiais e equipamentos, a alta no mesmo período supera os 24%, com alguns itens registrando aumentos de preço na ordem de 50% ou mais. 

Outro indicador, o Custo Unitário Básico (CUB), que é medido pelo Sinduscon/SP e considera apenas dados da construção residencial, revela o mesmo problema. No relatório sem desoneração, houve aumento de 1,55% em março deste ano, com elevação de 11,18% no acumulado de 12 meses.

Enquanto isso, o Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), do IBGE, mostra que o custo da construção subiu 1,87% na passagem de março para abril deste ano. Trata-se da maior elevação mensal desde julho de 2013, que resultou em taxa acumulada de 16,31% em 12 meses.

Confiança da construção

O aumento do custo da construção, por sua vez, é o grande responsável pela queda no otimismo do setor. Em abril de 2021, o Índice de Confiança do Empresário da Indústria da Construção (ICEI-Construção), medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu 1,2 ponto em relação a março, para 51 pontos. 

Índice de Confiança do Empresário da Indústria da Construção (ICEI-Construção). Crédito: CNI/CBIC

Apesar de se manter acima da linha divisória de 50 pontos, o índice se encontra abaixo de sua média histórica, de 53,6 pontos. Dentre as empresas consultadas pela pesquisa, 57% delas apontaram a falta ou o alto custo de matéria-prima entre os principais problemas enfrentados no primeiro trimestre de 2021.

Já no estudo da FGV, o Índice de Confiança da Construção (ICST) cedeu pelo quarto mês consecutivo. O indicador teve queda de 3,8 pontos em abril, atingindo 85 pontos. Segundo a instituição, este é o menor valor desde julho do ano passado (83,7 pontos) e sinaliza um período "moderadamente pessimista".


Por Daniel Caravetti