Projeção atualizada indica alta de 4% no PIB da construção em 2021

Aumento no preço de insumos impede maior crescimento do setor

28 de julho de 2021Mercado Imobiliário

A projeção de crescimento do PIB da construção em 2021, que havia sido reduzida para 2,5% em março, voltou a ser de 4% em relação ao ano anterior. A análise é da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que, nesta segunda-feira (26), apresentou os resultados do setor no primeiro semestre do ano.

Se confirmado, o crescimento será o maior desde 2013. Mesmo assim, a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, lembra que a
queda desde 2014 é de aproximadamente 30% e considera que a recuperação desse prejuízo poderia ser mais acelerada.

O principal entrave para uma retomada mais vertiginosa é o desabastecimento e o aumento do preço dos insumos da construção. O presidente da entidade, José Carlos Martins, explica a atual situação com uma metáfora: "A construção é uma Ferrari com o freio de mão puxado".

Não é à toa que, pelo terceiro trimestre seguido, a alta no preço dos materiais foi a preocupação mais citada na Sondagem da Construção, pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a CBIC. Aproximadamente 55% dos empresários do setor assinalaram essa opção.

Em junho, os valores dos suprimentos atingiram uma alta acumulada de 34% em 12 meses, principal fator para o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) ter subido 17,36% no mesmo período. Os dados são da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Custo com materiais bateu recorde da série histórica iniciada em 1996. Crédito: FGV/CBIC

Martins ressalta que, neste contexto, os projetos dentro do programa Casa Verde e Amarela, antigo Minha Casa, Minha Vida, são os que mais sofrem. Por isso, entre janeiro e junho de 2021, os financiamentos imobiliários com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) caíram 6,5%, em comparação com igual período do ano passado.

"Estamos com problemas no segmento econômico, que é nosso maior mercado, representando 90% do déficit habitacional. Os motivos são o aumento do custo da construção, que pressiona o preço dos empreendimentos, e a redução dos recursos do fundo de garantia, que vem sendo explorado para outras finalidades".

Em compensação, no primeiro semestre deste ano, os financiamentos imobiliários com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) apresentaram
elevação próxima a 124% em relação a igual período do ano passado, indicando um melhor momento dos segmentos de média e alta renda.

Além dos problemas com a cadeia de suprimentos, as principais preocupações dos empresários do setor são a elevação da carga tributária e a burocracia excessiva. A primeira delas, segundo Vasconcelos, está relacionada diretamente com a proposta inicial da segunda fase da reforma tributária, enquanto a segunda trata-se de uma antiga adversidade do ramo.

Mesmo assim, a confiança dos empresários, de acordo com a Sondagem da Construção, marcou 57,8 pontos em julho, permanecendo acima da linha divisória de 50 pontos e da média histórica de 53,7 pontos, o que caracteriza um cenário positivo. "A confiança só não decolou por conta do aumento no preço dos materiais", reforça Marcelo Azevedo, Gerente de Análise Econômica da CNI. 

Vale lembrar que o nível de atividade da construção chegou aos 48,6 pontos no primeiro semestre do ano, aproximando-se do limite de 50 pontos. Isso significa uma recuperação, já que o índice havia caído para 36,9 pontos no último trimestre de 2020. O grande destaque é o ramo de construção de edifícios, que corresponde ao mercado imobiliário e esteve 1,5 pontos acima da linha divisória.

Por fim, os especialistas ressaltam a importância da construção na geração de empregos no país. De acordo com o Novo Caged, nos primeiros cinco meses de 2021, a construção abriu mais de 156 mil novas vagas de trabalho com carteira assinada. Este foi o melhor resultado para o período desde 2012.


Por Daniel Caravetti