No México, indústria imobiliária deve passar bem por eleições

Ramos residencial, de escritórios e de shoppings aparecem como os preferidos nesse mercado.

17 de maio de 2018Mercado Imobiliário
A economia mexicana e, em particular, o mercado imobiliário local tendem a não sofrer abalos significativos por conta das eleições que definirão presidente, 128 senadores e 500 deputados no próximo dia 1º de julho. A performance deve preservar padrões atuais, indicam players do setor que participaram do Latin America GRI 2018.

Atualmente liderada pelo conservador Enrique Peña Nieto, a nação poderá conduzir ao poder o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, que, até o fechamento desta edição da GRI Magazine, aparecia na liderança de todas as pesquisas de intenção de voto.

“Temos uma democracia muito madura, independente de quem vença”, opina Ricardo Zúñiga Massieu, CEO da administradora de fundos privados Vertex Real Estate Investors. “É claro que as pessoas estão atentas aos seus negócios, mas creio que, depois do pleito, retomaremos o passo, que é de estabilidade”, completa.

“Os negócios relacionados ao mercado imobiliário, do desenvolvimento à construção, representam 25% do PIB mexicano”, recorda, com otimismo, Rodrigo Díaz Álvarez, diretor-geral da Acciona Parque Reforma, braço da gigante espanhola voltado à incorporação de projetos residenciais no país latino-americano.

Ele destaca que, na comparação com seus vizinhos, o México tem uma economia muito saudável. "Certamente estamos acompanhando quem ganha e o que ocorrerá no novo governo. Podem existir desafios, mas as expectativas para o ano são totalmente boas”, analisa.

Sem as freadas do passado

Jaime Fasja, fundador e CEO da incorporadora Thor Urbana Capital, confirma o cenário benéfico. “Como investidores de médio e longo prazos, vemos que estamos em um ano que pode ser de volatilidade. Por outro lado, acreditamos que o mercado já tem acompanhado todas as possibilidades, prova disso é que continuamos vendo investimentos estrangeiros no país. Há 12 ou 18 anos, quando estávamos próximos às eleições, se freava a economia devido às diferentes crises do passado. Agora, vemos uma economia forte”, contrapõe.

Outros fatores que motivam o entusiasmo são uma iminente renegociação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) em bases satisfatórias e a força da moeda local. “O peso mexicano está ganhando terreno contra o dólar e o novo acordo está por ter seu processo de ajuste concluído. Então, creio que há muitos elementos apontando que, no curto prazo, o México permanecerá como um destino interessante [para investimentos]”, ressalta Jaime.

Já Salvador Cayón, CEO da Fibra Shop, que desenvolve e opera shopping centers, advoga uma boa dose de ponderação. “Para seguir numa posição de liderança na região, o México precisa tomar as decisões corretas” e a continuidade de investimentos estrangeiros “depende das decisões político-econômicas do novo governo”, afirma.

Elevada disposição para investir

O que se escuta dos empresários e investidores individualmente aparece da mesma forma nos resultados consolidados do Termômetro do GRI, pesquisa do GRI Club que consultou, em março e abril, 340 players com atuação na América Latina, sendo 61 especificamente no México.

Para a maioria dos ouvidos na sondagem (65%), o desempenho econômico mexicano deve se manter nos próximos 12 meses em níveis semelhantes aos do período anterior.

A disposição para investir localmente é elevadíssima, a maior da região: 76,47% afirmam que suas empresas estão atualmente ampliando aportes de capital e/ou negócios no país, enquanto 21,57% dizem que o momento atual é de observar o mercado e aguardar para a tomada de decisão.

Quando se trata do desempenho corporativo, para a maioria absoluta dos respondentes (82,35%), os resultados de suas empresas serão bons ou excelentes no horizonte próximo.

Residenciais, os preferidos

De acordo com o Termômetro do GRI, dentre os segmentos imobiliários, o residencial é o que deve apresentar melhores oportunidades no México no futuro próximo, seguido por escritórios e shopping centers.

“Estamos sendo mais agressivos. Nosso nicho [de residências de alto padrão] continua muito bom. Outro atrativo é que há um déficit de habitações no país, o que permite à nossa companhia ter um papel importante no mercado. O maior desafio é encontrar áreas, que são escassas e caras; por isso, brigamos pelos bons terrenos e olhamos outras regiões [além da capital federal] muito atrativas, como a Riviera Maya”, detalha Rodrigo, da Acciona.

Ele esclarece que o grupo está diversificando os negócios localmente. "Antes, focávamos apenas residências de [aproximadamente] dez milhões de pesos [o equivalente a R$ 1,8 milhão]. Agora, trabalhamos com o segmento plus, de cinco milhões [cerca de R$ 900 mil], o que nos permite captar um mercado maior. Estamos também começando a avaliar o segmento de usos mistos.”

O mixed-use está igualmente nos planos da Thor Urbana. “Temos três [desses] projetos em andamento em Guadalajara”, confirma Jaime. Depois da Cidade do México, essa, que é a capital do estado de Jalisco, vem sendo considerada um dos principais destinos para investimentos imobiliários. Dados divulgados pela Secretaria de Economia local em 2017 posicionam a cidade como a segunda de maior potencial de desenvolvimento econômico da América do Norte.

Varejo e hotéis na mira

Ricardo, da Vertex, por sua vez, argumenta por que o horizonte para o segmento de varejo & shoppings se mostra interessante. “Há muitos inquilinos novos chegando devido ao aumento do consumo, o que faz com que empreendimentos existentes se adaptem. Como nem sempre isso é possível, são abertos novos complexos, ocupados por varejistas que ainda não atuavam no México.”

É com essa perspectiva que a Fibra Shop está trabalhando. “Nos meses de maio e junho, vamos inaugurar o [centro comercial na cidade de] Tlalnepantla e a ampliação [do Galerías Mall Sonora] em Hermosillo, que gerará fluxos adicionais. Também o [Puerta] La Victoria, em Queretaro, está em processo de abertura ao público”, confirma Salvador Cayón.

Para 2019, a expansão da companhia continua, incluindo um novo projeto em Guadalajara e a remodelação do Kukulcan Plaza, em Cancun. “O setor tem muito potencial de crescimento, em tamanho e rentabilidade”, completa o executivo, que espera, no futuro próximo, recuperar a lucratividade abalada pela desvalorização cambial dos últimos dois anos.

O ramo hoteleiro também foi citado pelos entrevistados como um dos mais atrativos localmente. “O México está crescendo muito em turismo. Estamos investindo em hotéis e devemos continuar nesse segmento”, diz Ricardo.

“É um segmento que se amplia ano a ano e se tornou um dos mais importantes para ingresso [de recursos] no país”, ressalta, por sua vez, Jaime Fasja. “Teremos pela frente 12 meses muito interessantes, período em que estaremos abrindo dois hotéis. Montage de Los Cabos será inaugurado no fim de maio e possuímos outro empreendimento próximo à Cidade do México, a ser entregue no segundo trimestre de 2019”, entre vários, adianta.

Esse e outros conteúdos você encontra na GRI Magazine Real Estate 14ª edição.