Momento exige assertividade em novos projetos de loteamentos

Vendas tendem a estabilizar após euforia do setor nos últimos dois anos

13 de abril de 2022Mercado Imobiliário
No ritmo atual, o estoque de loteamentos disponível em 18 grandes praças do mercado brasileiro seria escoado em 10 meses, o segundo menor prazo da série histórica, atrás apenas do 2º trimestre de 2021, cujo escoamento, com aquele volume de vendas, ocorreria em 9,4 meses. Os dados são da Brain Inteligência Estratégica, elaborados para a Aelo - Associação das Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano. 

O panorama atual é resultado de um crescimento muito acentuado das vendas a partir de 2020, com a chegada da pandemia. No ano passado, foram lançadas 66 mil unidades nas regiões monitoradas pela Brain, alta de 10% em relação a 2020, mas foram vendidos 99 mil lotes, ou seja, o estoque foi embora. 

“Os lançamentos cresceram e, mesmo assim, o estoque diminuiu, porque as vendas cresceram mais ainda. Houve uma queda de 30% no estoque ao final do ano passado frente a 2020”, afirma Guilherme Werner, sócio da Brain.

Isso não quer dizer que 2022 será um ano fácil. Para o especialista, a assertividade será muito mais importante do que nos últimos 24 meses, quando até os produtos “invendáveis” foram liquidados: “Houve um pico histórico entre o 3º trimestre de 2020 e o 2º trimestre de 2021, com VGV muito elevado, então a gente até brinca que as empresas ficaram mal acostumadas”. 

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Na segunda metade do ano passado, as vendas recuaram da casa das 26 mil unidades por trimestre para 22 mil a 23 mil, ainda acima do período pré-pandemia (1º trimestre de 2020). A tendência, segundo Werner, é que haja uma estabilização nesse patamar, que historicamente é muito bom. 

“Ainda que haja maior volatilidade econômica no momento, não temos visto prorrogação de lançamentos, até pela morosidade do processo de aprovação. Há vários clientes da Brain, em diferentes regiões, que estão lançando tanto produtos populares como de médio e alto padrão”, afirma. 

A Urba, braço de urbanização da MRV, espera dobrar a operação a cada ano, após apresentar um crescimento expressivo durante a pandemia: em 2020, a empresa lançou 1,3 mil unidades, com um VGV de R$ 130 milhões; já no ano passado, colocou no mercado mais de 3 mil unidades e um VGV de R$ 522 milhões. “Estamos em um ramp up super agressivo”, diz a CEO, Erika Matsumoto

Focada no público de baixa e média renda, a empresa segue otimista, mesmo com os maiores desafios econômicos: “O aumento de juros e inflação - inclusive setorial - atrapalha, mas temos mais liberdade do que a incorporação para manter a margem. Isso requer alongar o prazo de pagamento porque a parcela é importante para o meu cliente, mas tem os juros, então é um negócio controlado”, afirma a executiva.

O foco no processo de expansão continua sendo o mercado econômico, com projetos situados no interior de São Paulo e na região Centro-Oeste, onde será lançado um empreendimento ainda no primeiro semestre. “Atuamos no déficit habitacional, então o ponto de atenção é preço e prazo de pagamento, mas as pessoas querem e precisam comprar, por isso somos otimistas”, ratifica. 

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No mercado de alto padrão, cautela é a palavra de ordem no desenvolvimento de novos projetos, consoante a estabilização da demanda. “A busca por mais espaço durante a pandemia levou a uma valorização da moradia em condomínios horizontais, mas essa migração tão forte já terminou, então o cliente volta a ser mais seletivo”, afirma Marcelo Willer, sócio da Artesano Urbanismo

“Esse cliente tem uma grande capacidade de análise e comparação, portanto, é totalmente diferente da demanda econômica, em que basicamente o comprador quer fugir do aluguel. O caráter emocional da escolha passou, o processo de decisão voltou a ser mais exigente, e por isso temos sido muito criteriosos na escolha dos terrenos”, completa o executivo. 

Com apenas dois anos de existência, a Artesano lançou em 2021 seu primeiro empreendimento, situado em Campinas, e vendeu as 250 unidades em três meses, superando as expectativas. Este ano, quer triplicar o volume: o primeiro projeto será lançado em Londrina, e há outros dois previstos no interior de São Paulo, em locais a definir - todos no segundo semestre.

Além da maior seletividade do cliente, outro ponto de atenção, segundo Willer, é o descasamento entre preço de venda e custo de obra: “É um desafio até maior que o de mercado. Há empresas que venderam bem e agora têm dificuldade de executar no preço negociado. Vai demorar um pouco para que as curvas se encontrem de novo, e como é um mercado mais recessivo, não é um bom momento para repassar a alta de custo no preço do imóvel”. 

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A ITV Urbanismo tem dois lançamentos previstos para 2022: um em junho e outro em agosto ou setembro, totalizando 1,7 mil unidades, quase o triplo do ano passado. O CEO da empresa, José Eduardo Ferreira, diz que a preocupação é que haja uma sobreoferta no setor, já que muitas aprovações atrasaram nos últimos dois anos, e uma grande quantidade de projetos é esperada para os próximos meses.

Em Uberlândia, onde estão situados ambos os lançamentos da ITV este ano, houve um hiato de aprovações e licenças durante a pandemia; agora, há oito projetos com lançamento previsto até junho e outros 12 no segundo semestre. “De repente, vem tudo de uma vez. O público é limitado, então a gente teme uma oferta excessiva”. 

Mesmo assim, Ferreira acredita que as vendas subam de 10% a 15% em relação a 2021: “Não é que haverá mais compradores; a demanda tende a se manter, mas terá oferta para atendê-la. Houve uma escassez de produto no ano passado”. 

Atuante em todas as faixas de renda, a ITV Urbanismo vai focar na demanda de necessidade este ano, com um produto econômico e outro para compradores da classe média. “É uma questão mais de oportunidade, de qual a vocação de determinado terreno em termos de produto, e qual a maior demanda naquela praça”, afirma o CEO. 

Qual a estratégia para financiar os projetos?

Após desistir do IPO em 2020 por discordar do valuation do mercado, a Urba tem obtido recursos via equity dos acionistas e está estudando a melhor forma de utilizar a carteira de recebíveis - securitização e estruturação de um fundo são algumas das opções. “É um setor que gera muito caixa, mas como estamos em uma fase de expansão, precisamos de bastante capital”, afirma Erika Matsumoto

A empresa foi a primeira do segmento a estruturar uma linha de crédito específica junto a um banco para financiar a produção. “Fizemos com o Santander. Agora o Inter está entrando neste mercado, e o Itaú também. Os bancos viram que é um bom negócio”, ressalta a executiva.

A Urba não descarta uma nova tentativa de abrir capital ao longo do ano, mas isso somente vai ocorrer se houver uma boa janela de precificação da empresa. “Hoje, a companhia já entrega aquilo que propôs em 2020, ou seja, estamos seguindo o plano mesmo sem ter feito o IPO”. 

A ITV Urbanismo tem sido procurada por investidores tanto para participação em sociedade quanto para aquisição de carteiras, segundo José Eduardo Ferreira. “Nossa situação é um pouco diferente, porque utilizamos caixa próprio para financiar os projetos, então dificilmente acessamos o mercado. Pelo contrário: quando encontramos carteiras saudáveis, fazemos a aquisição”.

Em seu primeiro projeto, a Artesano Urbanismo custeou a obra com recursos próprios, mas está em conversas com uma grande instituição financeira para obter uma linha de financiamento à produção nos próximos empreendimentos. 

Por Henrique Cisman