Imagem de capaPaulo Dias, CEO para o Sul da Europa, África e Brasil do IWG.<br />Crédito: GRI Club/Flavio Guarnieri

IWG/Regus que trazer marcas HQ e No18 ao Brasil em 2020

Grupo também planeja expansão a novas cidades, apostando em modelo de franquia, diz CEO para Sul da Europa e Brasil.

18 de dezembro de 2019Mercado Imobiliário

Conhecido sobretudo pela marca Regus e, nos últimos anos, também pela Spaces, o grupo IWG deve trazer ao Brasil em 2020 mais dois modelos de negócio: HQ (low cost) e No18 (premium). Além disso, pretende manter a estratégia de crescimento orgânico nas localidades em que já está presente e avançar em novas cidades, apostando no sistema de franquia. Manaus e Belém estão na lista dos destinos-alvo, conta Paulo Dias, CEO para o Sul da Europa, África e Brasil do IWG.

Em entrevista concedida em passagem pelo País, quando veio participar do
Brazil GRI 2019, ele falou também sobre a evolução do mercado de coworking e sobre o caso da WeWork, que, depois de um crescimento acelerado, recentemente abortou o plano de abertura de capital, em episódio polêmico. Para o executivo, o investimento maciço em marketing e toda a atenção que a WeWork despertou tiveram essencialmente resultados benéficos ao segmento – e ao próprio IWG, que vê oportunidade de um movimento de flight to quality de clientes corporativos, passada toda essa efervescência. Confira:  


Quais os planos do IWG para Brasil em 2020?
A estratégia dos próximos meses é relativamente simples. Nas cidades em que já estamos presentes – São Paulo, Rio, Brasília, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, Curitiba e assim por diante –, continuamos a aumentar a nossa rede, com vários pontos, em localizações diferentes. Além disso, para muitas cidades onde ainda não chegamos, temos agora uma estratégia de franquia, algo novo aqui no Brasil, mas que já fazemos há muitos anos em outras partes do globo. Estamos conversando com potenciais franqueados em Manaus, Belém e outros municípios, que vão desenvolver uma rede – ou seja, vários centros, em franquia, com os benefícios de toda a nossa tecnologia, nossa plataforma de serviços e ações comerciais. Então, teremos muitas franquias pela frente e também muita estratégia de crescimento orgânico.

As franquias devem vir a representar uma parcela expressiva dos negócios do grupo no País?
Não temos um número estipulado. Dependerá muito das oportunidades que surgirem. Contudo, acreditamos que, no Brasil, provavelmente as franquias responderão por uma fatia importante [dos nossos negócios]. Talvez 50% do crescimento nos próximos anos se deem dessa forma. Outro aspecto da expansão, sobretudo nas cidades onde já estamos muito presentes, é uma estratégia multimarcas. Hoje, temos duas marcas no Brasil:
Regus, a predominante, e Spaces, que começou dois anos atrás. No entanto, queremos trazer pelo menos mais três, indo de um ponto [de] preço mais baixo [do que oferecemos atualmente] até um super premium, um clube executivo, tentando dar muita opção de escolha ao cliente, já que cada um tem uma necessidade diferente.

Quais marcas devem chegar por aqui em 2020?
Existem duas que são as candidatas mais óbvias. Uma é a HQ, que já esteve presente no Brasil e é uma marca três estrelas, low cost, um produto que vai funcionar muito bem localmente. Isso porque a maior parte dos nossos centros [no Brasil] está em torres corporativas de grande qualidade e falta um complemento de produtos um pouco mais simples. A outra é a No18, que se parece com um clube de negócios. Trata-se de um produto lifestyle, bastante chique e agradável. Claramente, há  um potencial bastante importante para essa marca em São Paulo, no Rio e em Brasília. Gostaria de trazê-la rapidamente, mas é preciso haver a oportunidade certa, numa localização muito específica, num edifício muito específico.


Recentemente, assistimos a uma expansão da penetração dos coworkings no País. O período de baixa do mercado imobiliário e aumento da vacância inclusive acabou facilitando a entrada desse tipo de modelo em prédios antes pouco viáveis. Com a retomada do setor no País, veremos alguma mudança de cenário?
As pessoas acham que há muita coisa acontecendo, mas não é tanto. O negócio de coworking no Brasil ainda é extremamente pequeno [como proporção do mercado de escritórios]. Vejo um crescimento importante e que vai continuar, uma vez que os clientes gostam e querem esse tipo de produto. Os proprietários de imóveis estão conscientes de que essa é uma demanda, de que nem toda empresa [ocupante] pode ou quer assinar [um contrato de] cinco ou dez anos. Então, trazer flexibilidade dentro de um edifício é algo relevante. Há muitos proprietários e investidores, inclusive, criando suas próprias marcas de coworking. Muitas vezes, fazemos isso como associados. No Brasil, temos boas parcerias nesse sentido com a BR Properties e o Credit Suisse, por exemplo, com vários centros dentro de edifícios deles. Creio que esse movimento [de expansão do coworking] vai continuar, sem dúvida nenhuma, mesmo com a taxa de vacância talvez diminuindo, pois é um serviço que as pessoas buscam e que, se bem gerido, proporciona rentabilidade superior à normal de um andar. Então, só vejo boas razões de que o modelo continue evoluindo. Sou muito otimista. 

A recuperação dos aluguéis que já começa a se dar mexe no componente de custos do modelo de forma significativa? A conta continuará fechando?
Há que se tomar cuidado. Existe um limite. Para que um negócio funcione bem, é preciso que existam condições de mercado razoáveis. Se o mercado sobe, por definição, nossos preços também sobem. Então, esse não é um problema. Entretanto, não se pode ficar pagando mais do que o mercado ou fazendo coisas malucas no pico [dos ciclos]. Mas não estamos nessa situação aqui, nem de perto nem de longe.


Como você mencionou, temos visto movimentos de algumas empresas proprietárias buscando oferecer elas próprias serviços a seus ocupantes. Isso é algo que preocupa, que cria uma concorrência relevante, ou há espaços complementares a serem ocupados?
É sempre um pouco de concorrência, não há dúvida; porém, é bom para o mercado. Houve uma época em que estávamos sozinhos no segmento, então era difícil comunicar [o modelo]. Agora, ao existirem mais empresas, aumenta-se a fatia desse ramo. O importante é, como operador, ser melhor do que os demais. Achamos que, quanto mais coworkings existirem, melhor. E quanto maior for a nossa rede, mais teremos oportunidades de captar a demanda. Uma pessoa que ouve falar de um coworking em um prédio busca verificar o que existe, faz uma busca na internet e acha nossa empresa, com dezenas de localizações e a probabilidade de haver uma perto da sua casa ou do seu cliente principal. A estratégia é simples.

O caso da WeWork, que teve um crescimento vertiginoso e recentemente deu um passo atrás, desistindo da abertura de capital em um episódio conturbado, gerou efeitos positivos ou negativos para o segmento de coworking e para o grupo IWG, especificamente?
O impacto foi muito favorável até hoje. Houve muito marketing, muito barulho positivo. A companhia chamou uma grande atenção para o segmento, o que antes fazíamos sozinhos, e numa escala mais agressiva, o que foi bastante positivo e abriu portas. Por outro lado, esse período mais recente criou junto a algumas pessoas um receio de que o modelo de negócio não funciona assim, mas creio que seja algo mínimo. Todo mundo está consciente de que os problemas que estão acontecendo com essa empresa são internos, não têm nada a ver com mercado. Estão relacionados talvez ao ritmo de expansão, à governança interna, coisas que podem ser melhoradas e que são próprias a uma companhia, sem dizer respeito ao resto da indústria. Para nós, a oportunidade é de um flight to quality. Clientes corporate que de vez em quando iam para lá por conta de todo aquele barulho, por ser um negócio da moda, agora refletem sobre haver um risco, ver que a imagem [da WeWork] se degradou um pouco, e voltam para quem faz esse trabalho há muito tempo, crescendo regularmente. Em resumo, do começo dessa história até hoje, tudo foi positivo para nós.

Entrevista concedida à editora-chefe, Giovanna Carnio