Investidores revelam estratégias para o produto multifamily no Brasil

Modelo tem atraído o interesse dos institucionais e está se consolidando no país

19 de outubro de 2022Mercado Imobiliário
Imóvel sempre foi sinônimo de investimento seguro, especialmente no Brasil, cuja população é “patrimonialista”, como gostam de dizer os gestores de fundos. Se há um bom dinheiro sobrando, comprar uma casa ou apartamento e alugá-lo é uma coisa normal, mas o país está experimentando uma “novidade” nos últimos anos: a profissionalização do aluguel, atraindo o interesse de investidores institucionais. 

Ainda não há tantas unidades em operação, mas olhando para um horizonte de médio prazo, a tendência é de crescimento na casa dos três dígitos, considerando o que está no pipeline de algumas companhias, como a canadense Brookfield, que entrou no multifamily brasileiro em parceria com a Luggo, da MRV&Co

“Temos 5 mil unidades em aprovação ou produção para serem entregues nos próximos três anos, espalhadas por todo o Brasil”, afirma o vice-presidente de Investimentos da empresa no país, André Lucarelli, em entrevista ao GRI Club

O que está por vir é bem mais do que a Brookfield já tem em operação: 648 unidades, distribuídas nas cidades de Contagem (MG), Lauro de Freitas (BA) e São Paulo capital. “Nossa atuação é nacional e a meta é termos projetos em todas as capitais e grandes centros urbanos”, completa o executivo. 

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A empresa é dona de 100% das unidades, cabendo à Luggo toda a parte operacional, pela qual é remunerada: ações de marketing, comercialização, administração predial e gestão dos contratos. Seguindo o DNA da MRV, o foco é um público mais econômico - classe B - “por apresentar a maior demanda disponível”, conforme aponta Lucarelli.

Com uma estratégia diferente, a Paladin Realty Partners foca os investimentos no multifamily exclusivamente na cidade de São Paulo. Por enquanto, a gestora norte-americana - com amplo track record neste segmento nos EUA - tem dois mil metros quadrados em operação, nos edifícios Lacerda 380 e Harmonia 1250, ambos situados na Vila Madalena, com unidades que variam de 60 a 150 m², destinadas para um público de alta renda. 

“Temos dois grandes projetos em fase de aprovação e construção que totalizam mais 5,4 mil metros quadrados e já foram concebidos no modelo multifamily, o que torna possível que as áreas comuns sejam formatadas no modo que consideramos o ideal para esse tipo de operação”, afirma a head de Investimentos da Paladin, Fernanda Rosalem

Os planos de expansão da companhia no Brasil incluem não apenas o desenvolvimento greenfield, mas também a aquisição de projetos performados - nos principais bairros residenciais e comerciais da capital paulista, como Itaim, Jardins e Pinheiros. “Acreditamos que é o segmento que melhor absorve esse tipo de operação”, avalia a executiva. 

No pipeline da Paladin, também haverá unidades residenciais para renda nos boutique offices desenvolvidos em parceria com a Hedge Investments e a IdeaZarvos. Já são quatro projetos em desenvolvimento nas localidades mais nobres de São Paulo, dentro da estrutura de um fundo de investimento imobiliário (HDOF11), adicionando mais 7,7 mil metros quadrados ao portfólio de multifamily. 

GRI Residencial para Renda

Outra com histórico de investimento em multifamily nos Estados Unidos, a RBR Asset Management criou um veículo exclusivo para alocação de capital neste modelo no Brasil em parceria com a FL2 Partners, responsável pela operação. 

“Ainda não temos projetos em construção; preferimos realizar as primeiras aquisições em ativos performados ou em fase final de obra, atuando como compradores”, diz o sócio da RBR Asset, Bruno Nardo dos Santos. 

A companhia tem 184 unidades em operação distribuídas em três empreendimentos, todos eles na cidade de São Paulo: NUN Vila Nova, NYC Berrini e Parque Jockey - os dois primeiros 100% locados e o último em fase final de construção, com o habite-se já liberado. 

“Buscamos ativos muito bem localizados em microrregiões da capital paulista. Nosso público-alvo são pessoas com faixa etária de 25 a 45 anos e famílias pequenas, casais com até um filho ou solteiros e divorciados, que tenham renda média alta, mas não altíssima”, explica Santos. 

No momento, a RBR não tem novos projetos de multifamily no pipeline, o que de acordo com o sócio da gestora brasileira se deve ao cenário macroeconômico atual. “No entanto, estamos atentos a oportunidades de mercado com foco exclusivo, neste momento, em regiões premium de São Paulo capital”.

Desafios

Para Rosalem, da Paladin, apesar de atrativo, o mercado residencial com foco em renda ainda não está consolidado no Brasil, diferentemente de outros países, como os Estados Unidos. “É um modelo que ainda não foi testado em larga escala e por isso tem pontos de atenção: concepção e desenvolvimento dos projetos, operação e legislação, especialmente tributária”. 

Por outro lado, pontua a executiva, estes são desafios naturais em mercados incipientes, e o segmento deve continuar atraindo novos investimentos nos próximos anos, “principalmente de investidores institucionais”. 

Para o sócio da RBR Asset, o modelo já provou que funciona no Brasil, e agora busca-se saber qual nível de renda ele consegue gerar. “Há bons indícios de que temos caps atrativos com pequeno prêmio na mesma classe de ativo dos países desenvolvidos”, aponta Bruno dos Santos. 

Na lista de desafios, o executivo assinala a baixa quantidade de prestadores de serviço focados em multifamily, a falta de conhecimento sobre o produto (inclusive no setor financeiro, que aplica yields semelhantes a categorias mais arriscadas) e a ausência de estruturas adequadas de dívida. 

André Lucarelli, VP de Investimentos da Brookfield, diz que os principais obstáculos são os custos de produção e a operação dos empreendimentos. “A parceria com a MRV ajuda muito a reduzir os custos, já que a empresa constrói em larga escala e tem métodos construtivos mais econômicos”. 

“Sobre a operação, a Luggo faz todo o trabalho, tem uma equipe dedicada e treinada para operar condomínios residenciais, além do investimento em TI, que ajuda muito”, encerra o executivo. 

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Por Henrique Cisman