Incorporadoras de médio e alto padrão apontam perspectivas para 2021

Lançamentos vão crescer em relação a 2020 e aumento no custo dos materiais deve ser absorvido sem dificuldades

2 de fevereiro de 2021Mercado Imobiliário
Superando as adversidades impostas pelo atípico ano de 2020, o mercado imobiliário residencial registrou crescimento de 13,5% nas vendas e obteve o melhor resultado desde 2014. As informações são da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).

Neste contexto, é importante destacar o papel do segmento de médio e alto padrão, que retomou espaço em um mercado que vinha sendo amplamente dominado por imóveis econômicos nos anos anteriores. Isso não significa, porém, que os empreendimentos voltados para o programa Casa Verde e Amarela performaram mal.

"O resultado do setor imobiliário foi excelente no ano passado em todas as suas categorias. Enquanto a baixa renda seguiu muito bem, média e alta renda voltaram mais fortes. Tivemos um ano de 2020 com excesso de liquidez no Brasil e no mundo", diz Luciano Amaral, diretor-geral da Benx.

"Em um ano tão ruim para todos, seja pelos efeitos negativos provocados pela crise de saúde, como também pela derivação desse cenário na economia, dois mercados acabaram surfando um momento muito positivo: o imobiliário e o comércio eletrônico", complementa Diego Villar, CEO da Moura Dubeux.

Este movimento de retomada, com destaque para os empreendimentos de médio e alto padrão, pode ser explicado pela conjuntura econômica que se formou. De acordo com Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica, o público mais impactado pela queda das taxas de juros foi o de alta renda. 
 
"Para quem tem dinheiro guardado, este cenário impulsiona a retirada de aplicações no banco para a compra de imóveis. Manter o capital aplicado na renda fixa passou a ser pouco vantajoso", diz o especialista, acrescentando que, dentre as famílias com renda mensal acima de R$ 20 mil, 20% adquirem imóveis com propósito de investimento. 
 
Os 80% restantes, por sua vez, mesmo que também considerem a compra um investimento, adquirem o imóvel com intenção de morar. Para Araújo, isso está ligado ao fato de que famílias de alta renda se mantêm  por um bom tempo sem mudar de casa, permitindo-se fazer isso em meio à pandemia. 
 
Adolpho Lindenberg Filho, diretor-presidente da incorporadora que carrega seu nome, ainda acrescenta o fato de as pessoas terem permanecido muito tempo em confinamento devido ao  home office: "Consequentemente, uma casa ou um apartamento maior e mais confortável se tornaram uma necessidade, valorizando gardens e coberturas. Quem pôde, comprou". 
 
A Trisul, representada pelo CEO Jorge Cury, também crê que os imóveis maiores ganharam força na pandemia e ressalta que os apartamentos de três suítes, por exemplo, foram vendidos muito mais rapidamente do que aqueles com metragens menores. "As pessoas buscaram esse tipo de conforto porque têm passado mais tempo em casa”, afirma.

Para o executivo, a busca por mais espaço ocorre mesmo nos bairros mais valorizados de São Paulo. Por conta dos elevados preços, contudo, outras pessoas acabam optando por imóveis de médio e alto padrão em bairros mais periféricos ou mesmo no interior e no litoral.
 
"A localização segue sendo, sem sombra de dúvidas, um dos principais vetores na decisão de compra. Acontece que, a partir do momento em que o trabalho remoto ganhou força, alguns outros locais passaram a ter uma demanda que antes era menor ou não existia", assinala Diego Villar, da Moura Dubeux.
 
"As pessoas têm procurado por mais qualidade de vida. Em alguns casos, inclusive, a segunda residência virou a primeira, o que também está ligado com a questão de ter um espaço verde", complementa Luciano Amaral, da Benx.

No contexto de alta do mercado imobiliário residencial, é importante ressaltar a digitalização do processo de venda feita pelas incorporadoras. Em meio a um cenário de isolamento social, a tecnologia foi essencial para alcançar bons resultados comerciais.

Perspectivas para 2021

Apesar de haver preocupações com os impactos da covid-19, como o aumento no preço dos insumos, os entrevistados pelo GRI Club acreditam que o mercado residencial de média e alta renda permanecerá em alta neste ano, até pela maior facilidade na absorção dos preços dos materiais de construção.

"O setor se atenta aos constantes aumentos do Índice Nacional do Custo da Construção (INCC) e do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). A Selic, hoje em 2%, também deve subir este ano, mas até 6% consideramos favorável para o mercado imobiliário. Mesmo com as dificuldades, creio em outro bom ano para o segmento de médio e alto padrão", diz Adolpho Lindenberg, que planeja lançar três prédios residenciais de luxo em bairros nobres da capital paulista em 2021.

Jorge Cury, da Trisul, revela que a incorporadora planeja lançar 11 empreendimentos ao longo do ano, com R$ 2 bilhões em valor geral de vendas (VGV). Todavia, o executivo chama atenção para o aumento no preço dos terrenos em São Paulo: "Existem os valores pré e pós-pandemia, principalmente em um lugar com tão pouca oferta". 

"Não tenho dúvida que o mercado de médio e alto padrão vai seguir forte. Apesar disso, existem ameaças como o aumento do desemprego, a inoperância do governo e as incertezas sobre a vacinação. Acho que não vai acontecer, mas uma possível ineficácia das vacinas seria um grande problema", diz Luciano Amaral, diretor-geral da Benx, que também planeja lançar até 11 empreendimentos no ano, com VGV de aproximadamente R$ 1,2 bilhão.

Diego Villar, CEO da Moura Dubeux, optou por não anunciar o guidance da incorporadora, mas está otimista para 2021. "O que posso dizer é que não há nada que nos leve a tomar uma decisão diferente de acelerar os lançamentos, seguindo a expectativa de crescimento do último semestre de 2020".

Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da Brain, recorre ao efeito 'manada' para justificar a expectativa positiva para este ano: "Ter um familiar ou um amigo que adquiriu um imóvel te estimula a também comprar. Quanto às taxas de juros, mesmo que aumentem um pouco, devem permanecer em níveis baixos. Acreditamos que o cenário é propício para o segmento de médio e alto padrão bater recordes em 2021".


Por Daniel Caravetti

GRI Residencial Brasil 2021