Hotelaria brasileira - Como será o futuro do setor pós pandemia?

6 de julho de 2020Mercado Imobiliário
 Em mais um eMeeting promovido pelo GRI Club, executivos do mercado imobiliário brasileiro se reuniram para discutir as perspectivas e visões de futuro para o mercado hoteleiro. 

Como se comportará o novo hóspede? Quando veremos a volta da demanda de negócios e de lazer? Quais as perspectivas para o segundo semestre de 2020?

Essas e diversas outras questões foram discutidas na tarde desta quinta-feira (02/07) com mais de 60 líderes do setor para compartilhar percepções e experiências. Confira abaixo os principais pontos discutidos:

Resumo

O mercado hoteleiro se preparava para um ciclo de desenvolvimento de novos projetos, com projeções positivas de crescimento do setor no Brasil. No entanto, no cenário atual, o mercado hoteleiro sofreu um choque e é um dos mais afetados no mercado imobiliário até o presente momento.

No início do ano, o Brasil apresentava boas taxas de ocupação. No entanto, os principais mercados do país foram afetados com o anúncio da pandemia global, com quedas gerais em março. Com o fechamento de muitos hotéis pelo país todo, a negatividade tomou conta do mercado em geral, sentindo até maio resultados muito ruins com o fechamento de muitos empreendimentos. No entanto, de lá pra cá, as coisas começaram a mudar, já que muitos hotéis que estavam fechados voltaram a reabrir. 

Com a reabertura lenta e gradual nos últimos meses, nota-se que a venda de quartos está sendo retomada. Para aqueles locais em que não há restrições de isolamento social e determinações legais de agentes públicos para o fechamento dos empreendimentos, a retomada vem sendo conquistada pouco a pouco através da maior demanda de clientes. Mesmo que esse cenário mude de região para região, com alguns hotéis ainda fechados ou com taxa de ocupações muito baixas, é importante notar que toda a cadeia hoteleira do país está reabrindo e com boas ocupações ao longo para alguns locais e empreendimentos, sejam eles de redes menores ou dos grandes players nacionais.

Os grandes players, com muitos hotéis espalhadas pelo país, sentiram uma queda forte em seus negócios, mas com o passar dos meses reabriram boa parte de seus portfólio e estão tomando medidas cada vez maiores e inovadoras para que o cliente fique tranquilo frente aos protocolos de limpeza. Mesmo que com tráfego online e demandas menores, há hotéis que surpreendem, com taxas de ocupação passando a casa dos 50%. Os pontos-chave neste momento são: analisar taxas de ocupação e RevPAR e escolher onde é melhor ficar aberto, em que o turning point do custo de ficar fechado e aberto é o quase o mesmo; qual é a taxa de ocupação necessária para o breakeven. Nestes movimentos, a diária não baixou e boa parte dos players estão abrindo seus hotéis e a rentabilidade dos empreendimentos, pouco a pouco, é retomada.

A outra questão que foi discutida ao longo do debate foi sobre o desempenho dos hotéis como ativos imobiliários frente à outros tipos de investimento. No momento de chegada da situação atual, mercados globais dinâmicos e que são referência no mundo foram rapidamente impactados, com fechamento total dos empreendimentos e negócios parados. Mesmo assim, nestes mercados acredita-se que a retomada será rápida a partir dos próximos meses. Nestes mercados, o mercado secundário de dívidas está bem ativo, já que muitos players estão tomando recursos para financiar capital de giro para os próximos meses. Os negócios que estavam em fase adiantada continuaram suas transações normalmente. 

No Brasil, negócios em fase adiantada também não pararam e seguem o curso normal. No entanto, as transações que estavam sendo aguardadas para os próximos meses sofreram com um menor interesse marcado pela incerteza futura. A expectativa dos investidores é que boas oportunidades de compra de ativos surjam nos próximos meses, já que muitas empresas estão reorganizando seus portfólios. A dificuldade atual é o price discovery e encontrar preços razoáveis para compra desses ativos. Do lado dos fundos imobiliários, encontra-se uma dificuldade, já que a liquidez para este setor está difícil e os resultados aguardados pelos investidores (Dividend Yield) não estão sendo entregues nos últimos meses, se comparados à outras modalidades de ativo. Por fim, com a dificuldade geral vivida pelo mercado como um todo, tem-se uma expectativa para futuras fusões e aquisições.

Frente à essa dificuldade geral, aqueles mais preparados na adoção de modelos inovadores, com segurança e serviços diferenciados, serão líderes, tanto na retomada do mercado quanto na maior confiança dos consumidores. Mesmo com a desvalorização dos ativos, espera-se que o mercado volte seu curso normal de forma lenta e gradual. Cash is king e o divisor de águas para o setor é o encontro de uma vacina segura e eficaz.  

Enquanto a vacina não chega, nota-se um desejo cada vez maior das pessoas voltarem à vida normal e viajarem pelo país. Internacionalmente, tem-se tido boas surpresas em países que estão vendo uma retomada da confiança dos consumidores e o desejo de se hospedarem pouco a pouco em destinos turísticos locais. A experiência de players internacionais mostra que o futuro dos próximos meses será marcado por um desejo das pessoas redescobrirem o turismo local e a estratégia dessas redes hoteleiras nos próximos meses é decidir quais marcas querem colocar à frente do consumidor. A consolidação de novos modelos, como o lifestyle, promete atrair novos clientes, com um anseio maior por serviços diferenciados. No Brasil o otimismo é pautado por milhões de viajantes, que olhavam para o turismo internacional e que agora se deparam com a vontade de viajar nacionalmente, conhecendo bons hotéis, resorts e destinos turísticos pelo país. Aqueles que já estavam acostumados com o turismo local, também impulsionarão o mercado nos próximos meses, buscando novos destinos e redes de hotéis diferenciadas.

O debate contou com a moderação de Roland de Bonadona (Bonadona Hotel Consulting) e a participação de Carolina Pinheiro (Wyndham Hotels & Resorts), Daniel Ribeiro (Rede Tauá de Hotéis), Eduardo Giestas (Atlantica Hotels International), Max Lima (HSI - Hemisfério Sul Investimentos), Patrick Mendes (Accor), Ricardo Mader (JLL Hotels & Hospitality),  entre outros.