Home office perde brilho e volta aos escritórios ganha força

Retorno deve contar com maior distanciamento entre os colaboradores

17 de fevereiro de 2021Mercado Imobiliário

Nos primeiros meses de pandemia, o home office despontou como uma tendência perene, mas aos poucos as adversidades do ambiente doméstico começaram a incomodar tanto empresas quanto colaboradores. Neste momento, com o início da vacinação no Brasil, as lajes corporativas já se preparam para um retorno das companhias.
 
"A pandemia trouxe o trabalho remoto como uma obrigação temporária. A tendência é que as empresas voltem aos escritórios, seja em um planejamento imediato ou de longo prazo. Eventualmente, porém, uma empresa que não permitia o home office pode adotar um ou dois dias de maior flexibilidade", diz Felipe Giuliano, diretor da CBRE, para o GRI Club.
 
O modelo híbrido citado pelo especialista já existia em algumas corporações antes da pandemia, mas deve se fortalecer. Ele também pode variar conforme o mercado, a empresa e a equipe. "Algumas áreas exigem maior presença no escritório e outras, menos", completa Giuliano.
 
O executivo entende que, com o passar dos meses, as lajes corporativas reforçaram a sua importância e necessidade, já que garantem maior produtividade dos funcionários e melhor difusão da cultura da empresa, além de promover interação entre as pessoas e garantir a permanência de talentos.
 
"Atualmente, 50% da força de trabalho mundial são millennials, ou seja, nasceram de 1981 a 1996. Como essa geração tem uma necessidade de convívio e interação muito grande, os escritórios podem ser essenciais na retenção de talentos. Fora isso, o ambiente de trabalho presencial faz com que os colaboradores se sintam parte da empresa", afirma o diretor da CBRE.

Susto inicial

Na contramão das projeções mais otimistas de agora, o início da pandemia foi angustioso para o segmento, que ainda sente os impactos das restrições sociais. Segundo Daniel Cherman, diretor geral sênior da Tishman Speyer, o fato de a empresa operar contratos de longa duração, principalmente junto a importantes inquilinos, evitou devoluções e uniu as partes.
 
"Foi uma situação em que todos se viram envolvidos e na qual conversas para tomar decisões em conjunto se tornaram o approach mais adequado. Os diálogos envolviam temas como renegociações de pagamentos, providências para manter os prédios funcionando, entre outros. No fim, aconteceu uma acomodação de fluxo de caixa neste período", afirma ao GRI Club.

O executivo lembra, porém, que em casos específicos, principalmente contratos de empresas menores de setores muito afetados pela pandemia, não houve como fugir das devoluções. Na cidade de São Paulo, a taxa de vacância saltou de 14% antes da pandemia para 17% no 4º trimestre de 2020, segundo Cherman. 

"Acredito que a vacância deva cair para 10% ou 12% nos próximos dois anos. Na capital paulista, a produção continua, mas o volume do estoque novo está muito limitado. Juntamente com a demanda reprimida que se criou durante a pandemia, acredito que deve haver uma pressão", avalia.

No Rio de Janeiro, entretanto, o executivo crê que a taxa de vacância - de aproximadamente 30% no 4T20 - deve demorar um pouco mais para cair. "Não existe produção e o estoque está sendo absorvido muito lentamente", assegura o diretor da Tishman Speyer.

Novas renegociações?

Um novo desafio para manter os inquilinos é saber lidar com a alta do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), que tradicionalmente é usado para correção de contratos de aluguel. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), no acumulado dos últimos 12 meses, o indicador registrou aumento de 28,17% e, em muitos casos, já está sendo substituído por outros indexadores. 

"A questão do IGP-M deve ser tratada da mesma forma como foi no momento inicial da pandemia, com conversas e reajustes pontuais. Realmente o índice veio totalmente fora do normal por conta de fatores nada relacionados com este mercado", afirma Cherman.

Felipe Giuliano, da CBRE, também aconselha a aproximação entre as partes. “O mercado de escritórios sempre foi cíclico, podendo ser favorável para o proprietário em um momento e para o inquilino, em outro. Se uma das partes não estiver aberta  ao diálogo em um período difícil, pode sofrer consequências futuras. Quando existe conversa, mantém-se um contrato saudável, equilibrado e um relacionamento de longo prazo".

O que muda na volta aos escritórios?

Otimistas quanto à recuperação do segmento, os executivos apostam em algumas mudanças na volta das empresas às lajes corporativas. Além da evidente maior preocupação higiênica, Giuliano entende que deve haver uma readequação de layout, promovendo um maior distanciamento entre os colaboradores.

"A distância, que antes era, em média, de uma estação de trabalho a cada 7 m², deve ser aumentada. Isso pode pulverizar a adoção de mais dias em home office e corroborar para o aumento na demanda nos próximos anos", cita o executivo.
 
Consoante à colocação anterior, Cherman crê ainda em uma pressão maior do que o normal sobre os escritórios classe A nos próximos anos: "Haverá uma grande procura porque existe maior presença de tecnologia e segurança em lajes de alto padrão", assinala.

"Além disso, após a última revisão do Plano Diretor de São Paulo, regiões como Faria Lima e Paulista não têm mais CEPACs (Certificados de Potencial Adicional de Construção) e terrenos para desenvolver prédios classe A com lajes grandes. O estoque deve ser limitado e pode, inclusive, haver um desequilíbrio entre oferta e demanda", completa o diretor geral sênior da Tishman Speyer. 

Por Daniel Caravetti

GRI Escritórios Brasil 2021