“Greenwashing” é a bola da vez na regulação de investimentos mundo afora

SEC prepara regras para combater a prática nos EUA; CVM lançou estudo sobre agenda ESG

8 de julho de 2022Mercado Imobiliário
Em tradução livre, greenwashing significa “lavagem verde”. No mercado de investimentos, o termo é utilizado para descrever fundos que se maquiam como sustentáveis, mas na verdade não seguem os preceitos de sustentabilidade indicados pelas letras E (meio ambiente), S (sociedade) e G (governança). 

No fim do mês de maio, após denúncia da ex-diretora global de sustentabilidade da gestora alemã DWS, autoridades locais iniciaram uma investigação para apurar se o greenwashing estava sendo praticado, o que incluiu uma visita ao escritório do acionista majoritário da empresa, o Deutsche Bank. 

Segundo a ex-executiva, a DWS enganou investidores no relatório anual de 2020 ao afirmar que metade dos 900 bilhões de dólares em ativos sob gestão foram adquiridos com base nos critérios ESG. 

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A investigação começou após a SEC (Securities and Exchange Commission), órgão regulador de valores mobiliários dos Estados Unidos, abrir um inquérito sobre o caso. Uma semana antes, o jornal britânico Financial Times divulgou que a autarquia norte-americana prepara regras para combater essa prática. 

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No Brasil, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) lançou em 26 de maio o estudo “A agenda ASG e o mercado de capitais: Uma análise das iniciativas em andamento, desafios e oportunidades para futuras reflexões da CVM”. 

Questionado pela reportagem do GRI Club, o órgão regulador diz que suas ações “seguem alinhadas às iniciativas observadas no âmbito internacional até o momento, especialmente após a reforma da Resolução CVM 80, que ampliou o conjunto de informações ASG no Formulário de Referência a serem divulgadas a partir de 2023”. 

Na elaboração do estudo recém-publicado, reforça a autarquia, uma das conclusões da Assessoria de Análise Econômica e Gestão de Riscos, que conduziu o trabalho, foi justamente o aumento na demanda por informações mais consistentes, comparáveis e úteis à decisão a fim de mitigar o risco de greenwashing.

Projeto Biotic é referência no Brasil

O Distrito de Inovação Biotic, bairro planejado que será construído em Brasília, é um bom exemplo de projeto aderente às práticas sustentáveis no mercado imobiliário, com uma série de ações de impacto positivo em sua construção e operação. 

“O Biotic recebeu second opinion em relação aos compromissos assumidos, que atendem todos os componentes ESG”, afirma Vitor Bidetti, CEO da Integral BREI, uma das empresas responsáveis pelo desenvolvimento do projeto, que ocorre via fundo de investimento imobiliário (FII). 

Ainda no ano passado, o FII Biotic integralizou o terreno - avaliado em R$ 1 bilhão; em fevereiro deste ano, abriu a captação da primeira etapa junto a investidores qualificados, com alvo de R$ 1,2 bilhão, prevista para ser concluída em outubro. 

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Dentre os requisitos e contrapartidas, constam a implementação de corredores verdes, com 60% das calçadas arborizadas e um espaçamento máximo de 15 metros entre as árvores; estratégias de drenagem sustentável, como jardins de chuva, biovaletas, poços de infiltração e pavimentos permeáveis, além de estrutura para armazenamento e triagem de materiais recicláveis, compostáveis e perigosos. 

Também há compromissos em relação à conectividade, que incluem aplicativos de gestão colaborativa, sistema logístico inteligente, monitoramento meteorológico e da qualidade do ar. Os moradores, profissionais e visitantes ainda terão à disposição informações em tempo real sobre o transporte público. 

Na área de mobilidade, será oferecida infraestrutura cicloviária de modo que haja dois sentidos e a ciclovia seja ligada a pelo menos uma das entradas do empreendimento, bem como esteja conectada a dez serviços diversos. Em relação aos pedestres, 90% dos edifícios terão a entrada voltada para a área de fruição pública, e as calçadas terão largura mínima de 2,5 metros. 

O master plan ainda deve indicar praças e áreas verdes a fim de gerar sensação de refúgio urbano, com tamanhos mínimos de 5 mil metros quadrados e 70% de vegetação. Os edifícios devem estar a no máximo 800 metros de espaços dedicados a atividades físicas, como quadras poliesportivas, ciclovias e playgrounds. 

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“O Biotic é o mais emblemático, mas temos outros dois fundos de investimento imobiliário com second opinion também: um de boutique office e um focado em desenvolvimento logístico”, afirma Bidetti. “A preocupação com ESG é um capítulo muito importante em nossos processos. Desde 2017, passamos a evoluir nessa avenida de maneira mais prática. 

Nesta caminhada, a Integral BREI contratou a Resultante - uma das empresas de maior destaque na área - para um trabalho de consultoria a fim de revisitar as políticas e diretrizes. “Depois, avançamos um pouco mais, e vieram as iniciativas em forma de produtos”, encerra o executivo. 

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Por Henrique Cisman