Executivos indicam alternativas para ocupar estacionamentos ociosos

Volume de carros ainda não se equipara ao período pré-pandemia

15 de julho de 2022Mercado Imobiliário
Mudanças no hábito do consumidor? Encarecimento dos combustíveis? Tarifas que não se adequam ao tempo de permanência? As razões podem variar, mas o resultado é que, nos últimos anos, os estacionamentos de shoppings, aeroportos, arenas esportivas e centros de eventos estão menos ocupados. 

Mesmo após o fim das restrições de circulação, o volume observado pela Estapar - maior operadora de estacionamentos da América Latina, com mais de 400 mil vagas apenas no Brasil - é cerca de 15% menor em relação a 2019, segundo conta o CEO da companhia, André Iasi, em entrevista para o GRI Hub; em termos nominais, contudo, a receita já é equivalente.

Para trazer mais volume aos estacionamentos, a empresa vem testando algumas iniciativas, como a criação de postos de carga para carros elétricos, chamados de Ecovaga. “Já somos a maior rede de eletropostos do país”, destaca o executivo.


Estapar aposta em carros elétricos para movimentar estacionamentos. Crédito: Pedro Bicudo/Estapar

Outra ideia que avançou é a realização de parcerias com empresas de locação de automóveis e serviços de transporte por aplicativo. “Trazemos a operação para dentro do shopping, e isso não apenas dá um uso inteligente para os espaços ociosos, como também aumenta o tráfego de consumidores no empreendimento”. 

Algumas alternativas, como a instalação de dark kitchens, ativos de last mile logístico e redes de entrega de comida, também foram testadas, mas não tiveram fit com a atividade principal. “Tem que olhar, antes de tudo, para o core do empreendimento, que é o shopping”, destaca Iasi. 

Uma das gigantes no Brasil, a Aliansce Sonae opera os próprios estacionamentos e também vê nos usos temporários uma boa alternativa de ocupação. Em seis shoppings da carteira, a companhia firmou parceria com a BeGreen para montar fazendas urbanas com ações educativas de sustentabilidade.

Um deles é o Parque D. Pedro Shopping, em Campinas, que tem cerca de oito mil vagas de estacionamento. “É natural que a mudança de comportamento das novas gerações impacte na quantidade de carros circulando nos estacionamentos dos shoppings, e nós buscamos soluções para usar esses espaços de forma inteligente”, afirma Leonardo Shor, head de Real Estate da Aliansce Sonae. 

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“Os hábitos vão sendo alterados e a legislação se atrasa. Na maioria das cidades, há uma exigência de número mínimo de vagas. Em São Paulo, por exemplo, o último plano diretor estabelece número máximo de vagas em prédios residenciais e comerciais, mas os shoppings continuam como exceção por serem polo gerador de tráfego”, explica o advogado Rodrigo Bicalho, sócio do escritório Bicalho Advogados.

Neste sentido, o especialista completa que flexibilizações legislativas ainda são incomuns no país: “De certa forma, é um movimento de vanguarda, ainda restrito aos planos dos proprietários dos imóveis. Há uma série de regras que precisam ser atualizadas - do ponto de vista urbanístico e condominial - para dar melhor utilização a essas áreas”.

No Rio de Janeiro, uma mudança no código de obras aplicável à zona sul, em áreas próximas ao metrô, permitiu à Aliansce Sonae reduzir a quantidade de vagas de estacionamento, dando lugar a uma expansão de 1,6 mil metros quadrados de ABL no Shopping Leblon. 

“Em alguns shoppings, temos até mais vagas do que o exigido pela legislação local. Também nesses casos implementamos projetos multiuso que criam bairros sustentáveis, com torres residenciais e comerciais, hotéis, hospitais, espaços para entretenimento. Tudo isso, junto ao shopping, o transforma em uma 5-minute walk city”, ressalta Leonardo Shor

É o caso do Parque Shopping Maceió, inaugurado em 2013, onde a Aliansce Sonae está desenvolvendo, em parceria com incorporadoras, mais de 800 apartamentos residenciais, além de um hospital junto com a Unimed, com cerca de 250 leitos. “Várias construtoras também estão comprando outros terrenos no entorno do shopping; além de gerar fluxo de clientes, o multiuso reduz a necessidade de estacionamento”, diz o executivo. 

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O desafio, completa Shor, é viabilizar financeiramente os empreendimentos com empresas parceiras, consoante a exigência de um número mínimo de vagas pelas prefeituras. “Independentemente da necessidade real de cada shopping, a legislação continua a exigir um número teórico de vagas, gerando um desafio para novos investimentos”. 

Segundo Bicalho, a indústria imobiliária precisa estreitar o relacionamento com o poder público com base na demonstração de que novos empreendimentos e usos alternativos são positivos para a sociedade. 

“Essas expansões geram empregos, diminuem o trânsito e aumentam a arrecadação de impostos; são criadas várias dinâmicas importantes, até porque a área ociosa é ruim para a cidade, começa a gerar problemas de manutenção, limpeza e até de segurança”, diz. 
 
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O advogado também chama a atenção para o limite de potencial construtivo, que em alguns casos impede o desenvolvimento de novas áreas computáveis. “Até o self storage, nos subsolos, que é muito visado atualmente, é considerado área computável. As prefeituras têm que rever essa situação, pois vamos perder áreas importantes da cidade se não houver flexibilidade”. 

Bicalho também dá uma dica na estruturação de novos projetos: “É importante prever, na convenção do condomínio, que as áreas de estacionamento podem ser flexibilizadas com mais facilidade, diante de uma eventual mudança na legislação, pois pode acontecer de não se conseguir mudar o uso pela discordância de alguns poucos condôminos”. 

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Por Henrique Cisman