Elevação abrupta da Selic ainda não fecha janela para compra da casa própria

Patamares atuais ainda são baixos historicamente, embora condições tenham piorado

10 de setembro de 2021Mercado Imobiliário

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu aumentar a taxa Selic nas últimas quatro reuniões, sendo que nas três primeiras a alta foi de 0,75% e, na mais recente, realizada no início de agosto, o ritmo de ajuste aumentou, saindo de 4,25% para 5,25% ao ano. 

O órgão já indicou que haverá nova elevação de 1% no próximo encontro, que será encerrado em 22 de setembro. As variações do IPCA acima do esperado, que colocam a inflação perto da casa de dois dígitos em 12 meses, são o principal motivo para a correção na Selic, impactando diretamente as linhas de crédito imobiliário atreladas ao indexador. 

Segundo o diretor executivo da plataforma Melhortaxa, Paulo Chebat, a velocidade dos ajustes nas taxas cobradas pelos bancos é muito maior agora do que foi quando o movimento era inverso, isto é, quando a Selic tinha viés de baixa. Apesar da menor flexibilidade nas negociações, o cenário ainda não é de restrição na concessão dos empréstimos, acrescenta o especialista.

Considerando o comportamento histórico das taxas de juros em operações de crédito imobiliário frente ao patamar da Selic, se as previsões do mercado se confirmarem (Selic a 7,25% em dezembro), os juros do financiamento imobiliário devem superar os 8,5% ao ano, mas não devem ultrapassar a casa dos 9%, já que costumam oscilar entre 1,3% a 1,8% acima da Selic, segundo Chebat. 

“O ponto é que a taxa vai subir, mas acho que ainda tem uma margem grande, que essa janela de oportunidade ainda se estende, pois a pessoa consegue comprar e provavelmente a parcela vai ficar mais barata do que o aluguel para o mesmo imóvel. A análise fica mais sensível quando chega em dois dígitos”, explica o diretor executivo da Melhortaxa. 

Responsável pela área de Negócios Imobiliários do Banco Santander, Sandro Gamba afirma que o mercado já realizou recentemente alterações nas taxas do crédito imobiliário devido ao cenário atual. “Todas as taxas têm alguma referência com a Selic, algumas de forma imediata, outras nem tanto”. 

Para o executivo, contudo, o bom momento para contratação do financiamento é atestado pelos volumes expressivos de produção: “2020 foi um ano histórico no crédito imobiliário e 2021 indica que terá um volume superior ao registrado no ano passado. Por qual razão? Porque as taxas de juros estão em um patamar bastante positivo”, argumenta. 

Ainda segundo Gamba, a taxa praticada no mercado atualmente é uma das mais baixas da história, de modo que o momento é propício para a tomada de decisão para a compra da casa própria. “Daqui para frente, o cenário indica uma alteração para cima nos juros, então o momento atual é muito mais propício do que o momento seguinte”, avalia o executivo. 

De acordo com o sócio e diretor executivo da Paramis Capital, Danilo Ribeiro, os próximos meses dirão se o impacto da alta de juros será ou não marginal: “Se a curva de juros, principalmente a de longo prazo, se sustentar a uma taxa maior, esse impacto pode ser significativo. Se o mercado entender que o risco fiscal não é tão grande, não haverá tanto efeito no setor imobiliário”. 

Fuga de capital?

Responsável por aplicar recursos financeiros de grandes investidores institucionais e voltada integralmente ao mercado imobiliário, a Paramis não acredita que a elevação da Selic possa resultar em fuga de capital do setor. Pelo contrário: “Em termos de volume, a tendência é só aumentar. O que muda é o preço, a taxa pedida pelos investidores”, diz Ribeiro.

A posição se sustenta na mudança estrutural ocasionada pelo crescimento dos fundos imobiliários, cujos prazos de investimento são indeterminados. “O investidor não pode pedir resgate, ele tem que vender as cotas no mercado secundário. Uma vez captado, uma vez feito o IPO de um fundo imobiliário, é um dinheiro que vai ficar sempre rodando dentro do setor”.

No primeiro semestre de 2021, a Paramis levantou R$ 700 milhões em operações voltadas para o segmento residencial. “É um volume bem maior do que nos anos anteriores. Há muito capital entrando nesse tipo de veículo, além de ser uma diversificação da carteira dos investidores”, afirma o sócio da companhia. 

De olho nas demandas do consumidor moderno, o Santander tem feito altos investimentos em tecnologia para melhorar a experiência do cliente que precisa de crédito imobiliário, além de desenhar novas linhas de produtos, segundo Sandro Gamba. Uma das apostas do banco é no home equity, considerado essencial para gerar mais liquidez ao mercado brasileiro. 

Já o diretor executivo da Melhortaxa, Paulo Chebat, alerta que o mais importante é o cálculo do custo efetivo total, no qual entram outras taxas além do crédito imobiliário em si, como o seguro da operação. “Se a pessoa puder fechar o negócio já neste semestre, pode ser mais interessante”, encerra o especialista.

Por Henrique Cisman