Custo da construção gera defasagem entre vendas e lançamentos de imóveis

Sem novas entregas, estoque seria escoado em nove meses

28 de maio de 2021Mercado Imobiliário

Enquanto a demanda por unidades residenciais novas segue consistente, o número de lançamentos vem caindo à medida em que se agravam os problemas com a falta e o aumento no preço de insumos. Neste contexto, projetos que fazem parte do programa Casa Verde e Amarela (CVA) são os mais prejudicados.

De acordo com os Indicadores Imobiliários Nacionais do primeiro trimestre de 2021, divulgados em live da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), foram vendidas aproximadamente 53 mil unidades no período, baixa de 12,4% em relação ao trimestre anterior. O vice-presidente Celso Petrucci enaltece o resultado, lembrando que os últimos trimestres do ano costumam ser líderes em vendas.

No comparativo anual, fica mais evidente o bom desempenho do mercado imobiliário, uma vez que houve alta de 27,1%. Com isso, o acumulado em 12 meses chegou a quase 208 mil unidades vendidas e registra um crescimento constante. Veja o gráfico, que também mostra o acumulado de unidades lançadas.

Crédito: CBIC / SENAI

Conforme revela o quadro, a fim de se equiparar às vendas, os lançamentos ensaiavam uma recuperação no fim de 2020. Entretanto, foram prejudicados pelo desabastecimento e pela inflação de preços dos materiais de construção, somando 168 mil unidades lançadas no acumulado em 12 meses.

No primeiro trimestre deste ano, foram lançados pouco mais de 28 mil imóveis, o que significa queda de 58% em relação ao trimestre anterior e alta de apenas 3,7% no comparativo anual. Fábio Tadeu Araújo, sócio da Brain Inteligência Estratégica, comenta a defasagem entre unidades lançadas e vendidas.

"Imaginávamos que haveria um boom de lançamentos em razão do aumento no números de vendas e do represamento de projetos que ocorreu no início da pandemia. A questão dos insumos é de longe o principal problema do mercado e já impacta, inclusive, os números de emprego na construção", aponta.

A situação tem causado uma redução na oferta de imóveis novos, que eram 154 mil no primeiro trimestre deste ano. A queda foi de 13,1% no comparativo trimestral e de 14,8% no comparativo anual. O gráfico ilustra a baixa vertiginosa no estoque de unidades residenciais novas.

Crédito: CBIC / SENAI

Conforme o levantamento da CBIC, considerando a média de vendas dos últimos 12 meses acumulados, se não houvesse novos lançamentos, a oferta final se esgotaria em nove meses. O presidente José Carlos Martins garante que a entidade tem cobrado alguma atitude por parte do poder público.

"O governo não pode controlar preços, mas pode reduzir as barreiras técnicas e os impostos de importação. É isso que temos conversado. Como o mercado está comprando, haverá lançamentos, mas apenas de produtos que caibam no orçamento das incorporadoras", cita Martins. 

No início de 2021, o Indicador de Preço Médio da CBIC superou o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo Araújo, este movimento não ocorria há quatro anos. Veja o gráfico.

CBIC / SENAI

Casa Verde e Amarela

Os problemas relativos à cadeia de suprimentos são mais desafiadores para incorporadoras que atuam no Casa Verde e Amarela, pois o aumento no custo de obra dificulta os desenvolvedores imobiliários a praticarem preços acessíveis e dentro do teto estabelecido pelo programa.

Enquanto algumas têm migrado para os segmentos de médio e alto padrão, outras têm procurado alternativas para seguir se encaixando na tabela de preços do programa. "Empresários que trabalham com o Casa Verde e Amarela estão fazendo milagres para combater a elevação no preço dos insumos, através da utilização de novas tecnologias construtivas e do aumento da produtividade", enaltece Petrucci.

No primeiro trimestre deste ano, foram vendidas cerca de 27 mil unidades residenciais no CVA, o que corresponde a 51,5% do total comercializado. Os lançamentos, por sua vez, superaram a marca de 15 mil unidades, representando 55,6% da totalidade.

Intenção de compra

Apesar das adversidades mencionadas, os especialistas ainda acreditam que o ano de 2021 pode ser de recordes no setor imobiliário. Segundo a Brain, a intenção de compra para os próximos dois anos é de 41%, sendo que um quarto dos interessados já tem visitado stands de venda ou contatado imobiliárias e corretores.

Os segmentos mais propensos a vender imóveis neste período são os de médio e alto padrão, nos quais os adquirentes têm receita mensal acima de R$ 9 mil e intenção de compra de 46%. Considerando a faixa de renda entre R$ 4,5 mil e R$ 9 mil, a intenção é de 41% e, entre R$ 2,5 mil e 4,5 mil, de 32%.

Por Daniel Caravetti