Coworking toma impulso no Brasil

Grandes players internacionais chegam ao País, trazendo consigo conhecimento, diversificação e escala.

12 de julho de 2017Mercado Imobiliário
Os coworkings, espaços compartilhados para fins de trabalho profissional, são um segmento em franca expansão no mundo. Até o final deste ano, quase 1,2 milhão de pessoas estarão trabalhando em cerca de 14 mil espaços colaborativos, segundo a '2017 Global Coworking Survey', da revista especializada alemã Deskmag.

No Brasil, não é diferente. Após a primeira onda de demanda vinda de startups e profissionais autônomos que trocaram o home office por um ambiente mais estruturado e propício ao networking, o segmento foi beneficiado pela crise econômica a partir de meados de 2015. A procura se intensificou quando diversas pequenas e médias empresas decidiram reduzir a área ocupada em escritórios tradicionais (de até 100 m²) e começaram a ver nos espaços compartilhados uma ótima chance de baixar custos.

“No mundo, o modelo [oferta de espaços] hoje cresce 50% ao ano e o número de usuários, 70% ao ano. No Brasil, as taxas devem ser maiores”, afirma Jorge Pacheco, sócio-fundador e CEO da Plug, que gere dois empreendimentos em São Paulo e um em Boston (EUA). De acordo com ele, “no Brasil, há mercado para todos”. Pelo menos por enquanto.

Nova onda

O segmento vive atualmente uma terceira fase no País: 2017 deve marcar o início de uma disputa acirrada por um mercado em formação, com a chegada e o reposicionamento de grandes operadores de escritórios compartilhados globais. A gigante WeWork está desembarcando em solo tupiniquim e a Regus, que já havia fincado seus pés por aqui, traz agora a marca Spaces.

Ary Krivopisk, head de Real Estate para a América Latina da WeWork, adianta que a porta de entrada da companhia será a avenida Paulista. Embora o montante investido não tenha sido revelado, a expectativa é debutar em grande estilo e já no início do segundo semestre deste ano: a unidade terá pouco mais de 4 mil m² e capacidade para receber até 700 pessoas. O preços deverão ficar na média do mercado, entre R$ 800 e R$ 1200 por usuário ao mês.

O próximo passo acontecerá na avenida Faria Lima, com um espaço maior, de 5 mil m², para até mil pessoas. “Já estamos planejando outras unidades – mais duas ainda em 2017. Depois, iremos para Rio de Janeiro, Grande São Paulo e outras cidades do País”, avisa.

A companhia, que participou recentemente de dois encontros do GRI – Patrício Fuks, gerente geral para a América Latina, esteve no GRI Escritórios em abril e Séverin Naudet, diretor geral na França, em um club meeting em Paris em fevereiro –, já estava olhando para o Brasil há um bom tempo. “Achamos que o potencial do País e da economia são muito grandes e que este momento é o justo”, afirma Ary.

A Regus está respondendo a esse movimento com a importação do conceito Spaces de coworking. Tiago Angelo Alves, COO do grupo para a América Latina, aponta que, neste ano, deve inaugurar pelo menos quatro unidades dessa linha: duas no Rio e duas em São Paulo – uma delas na região da rua Oscar Freire. Ele não descarta lançar mais um empreendimento em 2017, em Belo Horizonte.

A primeira unidade Spaces abre em junho, com 5 mil m², na Vila Madalena (zona Oeste de São Paulo). Conforme Tiago, a iniciativa deve rejuvenescer a imagem da Regus de uma operadora de espaços mais “sérios”, oferecendo um ambiente realmente colaborativo e inspiracional. “É o coworking fun da Regus, com uma estrutura bem completa e uma intensa agenda de eventos e palestras”, conta.

Estrutura e comunidade

A rigor, esse costuma ser o espírito dos espaços compartilhados. Além da comodidade (infraestrutura), a interação (comunidade) é pilar básico do modelo.

O local pode variar de uma casa adaptada a um edifício corporativo inteiro, sempre entregando uma estrutura robusta de internet (wi-fi), telefonia, serviços de conveniência e copa, que facilitam e tornam mais prazeroso o trabalho, com a possibilidade de ser membro de uma comunidade de usuários. “É essa energia que caracteriza um espaço compartilhado”, explica Ary.

“O empreendedor que olhar só para a infraestrutura ou só para a gestão da comunidade estará fragilizado”, raciocina André Pegorer, CEO da Nex Coworking, que administra um espaço compartilhado em Curitiba e outro no Rio.

Ocupação de imóveis

André adverte que, “agora, todos querem montar um coworking, sobretudo o proprietário de um imóvel vazio; porém, esse é um negócio complexo, que exige excelência na gestão”.

Já Jorge indica que, para proprietários de imóveis aderirem ao modelo, o caminho é chegar a níveis de preços para locação mais compatíveis com a realidade do mercado ou então estabelecer parcerias, integrando-se ao negócio.

“O coworking não é moda; faz parte da evolução do tipo de ocupação de escritórios. Não elimina outras opções. Ao contrário, as complementa com mais flexibilidade”, opina Martín Jaco, CEO da BR Properties, que já tem mais de 12 mil m² (de um total de 600 mil m²) alugados para gestores de espaços compartilhados em São Paulo, Rio e Brasília. “São inquilinos como quaisquer outros, e isso abre novas possibilidades para esse mercado.”

Em meio a um cenário de vacância elevada no setor de escritórios, o ramo do coworking, que não para de se ampliar, tem atraído a atenção de donos e gestores de imóveis como uma provável fonte de oportunidades de locação.

Martín ressalta que as mudanças na forma de ocupação em curso são tão fortes que mesmo empresas que não abrem mão de ter uma laje só sua vêm refazendo seus layouts para criar novos ambientes internos de convivência. “Do ponto de vista do proprietário, é uma mudança bem-vinda”, aponta.

Na percepção dele, os gestores de coworking preferem lajes grandes com especificações técnicas típicas de prédios de última geração (classe A para cima).

“Nos próximos cinco anos, o mercado vai crescer no Brasil ao ponto de os novos prédios nascerem com espaços flexíveis. Hoje, estamos limitados ainda ao tamanho das lajes corporativas”, adverte Tiago. A marca Spaces requer em média 20 mil m², o que só é encontrado no País em prédios multiusuários. “Optamos por um imóvel de oito andares com 5 mil m² para poder ser usuários únicos e oferecer, da entrada ao estacionamento, uma experiência diferente”, ilustra.

Foco na escala

Neste momento de expansão dos coworkings, a ocupação de áreas cada vez maiores é tendência global. Segundo a pesquisa da Deskmag, o número de espaços pequenos, com menos de dez membros, caiu drasticamente no mundo (em apenas um ano, a participação despencou de 23% para 12%). Hoje, quase 20% dos empreendimentos de coworking possuem 150 ou mais membros – 12 meses antes, a fatia era de apenas 13%.

O foco é ganhar escala para reduzir custos fixos e atrair grandes corporações. “Este ano será muito importante, com a proposta de espaços acima de 3 mil m² a partir da chegada de grandes players mundiais. Eles vão elevar a régua do mercado”, sinaliza Jorge.

Segundo ele, a Plug está caminhando também nesse sentido. “Vamos entrar em um período de competição. Os espaços pequenos tendem a diminuir. Quem estiver olhando o coworking como business tem de fazer escala, mais do que nunca”, afirma. “2018 também vai ser bem intenso. Os grandes [players] não estão de brincadeira.”

“Começamos a nos preparar para atender grandes corporações, como a Renault, que olham para o modelo com as lentes da cultura de inovação disrruptiva e de facilities. É uma evolução natural. Está havendo o encontro dos mundos de espaços compartilhados e ambiente corporativo”, afirma André, da Nex.

Espaços nichados

Mesmo nesse cenário de agigantamento, os espaços pequenos, em geral em casas adaptadas, não devem desaparecer, e sim mirar nichos específicos de mercado.

A segmentação já é vista como tendência nos Estados Unidos, onde muitos usuários estão buscando algo mais personalista. “Em Manhattan, as pessoas vêm migrando para coworkings temáticos, muito focados em certos segmentos, como moda ou fintech”, conta André.

Em Curitiba, a “casinha” original da Nex, de 200m², deu lugar a 1600 m² em 2014, apostando em uma boa estrutura física e de gestão de comunidade, articulação e geração de conteúdo. “Modelamos, testamos um novo formato e iniciamos o plano de expansão nacional. Em 2016, no Rio, inauguramos uma operação de 2100 m² para 300 estações de trabalho e devemos abrir mais 7 mil m² neste ano, além de outros 15 mil em novas quatro unidades em 2018”, revela o executivo.

Ele conta que a empresa definiu investir em unidades maiores – de 3 mil m² a 4 mil m² – e atualmente aposta em buscar fatores de diferenciação. “O menor tem o desafio da eficiência e de encontrar seu nicho de mercado”, pondera.

A Plug possui como padrão espaços de 1000 m² para 200 pessoas e se esmera na organização de sua comunidade. A empresa é a gestora do Cubo, projeto institucional do Itaú que atrai startups com a expectativa de contato direto com corporações interessadas em negócios B2B.

Regus e WeWork têm como característica oferecer ambientes de design mais sofisticado e infraestrutura impecável, em áreas de pelo menos 4 mil m². Ambas se concentram no público corporativo, mas os perfis de usuários são bem diferentes. Enquanto a primeira está acostumada a abrigar profissionais mais tradicionais, que muitas vezes resistem a conviver em bancadas compartilhadas e preferem salas privativas, a segunda mira o corporativo mais cool e afeito ao espírito colaborativo.

Nada menos do que 80% do público da WeWork são grandes empresas. Fundada em 2010, a companhia já opera 143 escritórios compartilhados em 35 cidades ao redor do mundo e está em fase de franca expansão na América Latina, com dois prédios na Cidade do México abertos no ano passado e outros dois entrando em atividade em Buenos Aires. A WeWork está procurando ainda oportunidades em Lima e Bogotá.

Em todo o mundo, a Regus reúne quase 3 mil escritórios flexíveis, num mix de espaços abertos de uso compartilhado e salas mobiliadas mais reservadas. São 54 unidades no Brasil que somam mais de 66 mil m². “Em média, temos 6 mil clientes pessoa física em 12 praças no Brasil. Neste ano, queremos chegar a mais três localidades. Tivemos 32% de crescimento no País nos primeiros meses de 2017, provavelmente o ritmo mais acelerado no globo, e até o final do ano vamos dobrar de tamanho”, revela Tiago. A empresa também se prepara para lançar neste ano um modelo de franquias.