Companhias brasileiras desembarcam no real estate de Portugal

Chegada ocorre em parceria com players locais e vai muito além do Golden Visa

1 de junho de 2022Mercado Imobiliário
Em 2012, o governo de Portugal criou um mecanismo para atrair investimento estrangeiro por meio da compra ou do desenvolvimento imobiliário no país. O Golden Visa cumpriu seu objetivo, atraiu a atenção de pessoas físicas com interesse no visto e, recentemente, teve suas regras modificadas, colocando restrições aos locais mais procurados: Lisboa e Porto. 

Agora, o investimento em imóveis residenciais nas duas maiores cidades portuguesas não dá mais direito ao Golden Visa, exceto se efetuado por meio de um fundo de investimento; para obtê-lo de forma direta, é preciso comprar casas ou apartamentos em outras regiões, ou investir em ativos de outros segmentos, como lojas, hotéis etc. 

Segundo Nuno Coelho, managing director da LX5 Realty, o Golden Visa é apenas um dentre vários estímulos e benefícios criados pelo governo português a partir da crise econômica global de 2008. “O Golden Visa ajudou bastante na reabilitação urbana, mas o mercado imobiliário português está muito mais pujante do que apenas isso; ele representa uma parcela pequena do todo”, afirma. 

Na esteira do investimento estrangeiro em Portugal, incorporadoras e gestoras brasileiras estão desenvolvendo projetos em parceria com players locais, como a própria LX5, um movimento que, segundo Coelho, até demorou para acontecer, dada a ligação histórica entre os dois países. 

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A Galli Investimentos e Participações é uma dessas empresas. Segundo o CEO, Ricardo Pucci, a entrada em Portugal está sendo feita de forma cuidadosa, já que se trata de um mercado desconhecido. “Temos buscado projetos nos quais nossa participação seja relativamente pequena, com objetivo de diversificar o portfólio e potencializar a curva de aprendizado”. 

O primeiro projeto foi assinado em janeiro, em parceria com a LX5 Realty, e já tem obras em andamento. Trata-se do retrofit de um antigo prédio residencial com apenas cinco andares que dará lugar a 17 apartamentos de diferentes tipologias - de studios a 3 dormitórios - com um ticket médio na casa de 9 mil euros o metro quadrado, um padrão bastante elevado no mercado português, segundo Pucci.

“Já vendemos 25% do empreendimento, e o foco é o cliente estrangeiro”, completa o executivo. O prédio fica na Rua do Telhal, 72, próximo à Avenida da Liberdade, e tem um VGV de 13 milhões de euros. 

Um segundo empreendimento está próximo de ser assinado, também em Lisboa, em uma região nobre tipicamente habitada pelos portugueses: “São dois prédios vizinhos que adquirimos e vamos demolir para erguer um prédio novo”. 

Atenta às oportunidades, a LX5 participa de dois fundos para desenvolver projetos imobiliários com recursos de investidores estrangeiros: Golden Bridge, com patrimônio de € 18 MM, e Aston Gold (€ 32 MM), ambos geridos pela Heed Capital. “Vamos lançar um novo fundo em julho, já aprovado pela CMVM, chamado LX Prime, para desenvolvimento imobiliário ESG, com alvo de € 50 MM”, diz Coelho. 

A incorporadora tem cerca de 60 milhões de euros em projetos na Comporta e nos arredores da Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, como o Grand Loft Avenida, que pertence ao fundo Golden Bridge e tem apartamentos ao preço de 1,1 milhão de euros, em média. 

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O BTG Pactual é outro a expandir suas operações para Portugal. Recentemente, estruturou um primeiro fundo para comprar o Hotel Eden, em Cascais, que será convertido em um misto de residencial e hotelaria, com VGV aproximado de € 150 MM. “Fora isso, estamos estudando os mercados de shopping centers e logística”, afirma o sócio e head de Real Estate do banco, Michel Wurman

“Estamos em busca de oportunidades para montar um pipeline e estruturar os fundos, que têm como público-alvo o investidor brasileiro qualificado, pessoa física”, completa o executivo. Nesta chegada a Portugal, o BTG se aliou a Luis Godinho Lopes; segundo Wurman, os projetos sempre serão feitos com parceiros locais. 

O executivo descarta que o objetivo dos investimentos seja a obtenção do Golden Visa: “Nossa meta é ganhar dinheiro, isto é, gerar rentabilidade para nosso investidor. Se o produto dá essa possibilidade, é óbvio que é um plus, mas ele não é feito para essa finalidade; não é essa a lógica”, ratifica. 

Até o final do ano, o banco quer somar 300 milhões de euros em investimentos em Portugal, parte via equity, parte via estruturação de dívida. “Estamos bem confortáveis e confiantes no que estamos fazendo, até porque estamos falando de poucos projetos e com parceiros locais”. 

Ainda segundo Wurman, o otimismo é embasado no interesse do investidor brasileiro pelo país como alternativa interessante de alocação, já que é uma moeda forte e os projetos têm bom retorno potencial. “A gente acredita que os preços ainda vão subir bastante no médio prazo. Comparado aos principais centros da Europa, o metro quadrado em Portugal ainda é muito barato”. 

A Galli também enxerga boas oportunidades, e não está restrita ao desenvolvimento residencial. “Nossa estratégia passa por qualquer negócio que tenha como lastro um ativo imobiliário”, afirma Ricardo Pucci. A internacionalização da empresa vai além de Portugal, com negociações em andamento nos Estados Unidos e na França, onde avalia desenvolver um built to suit para o governo. 

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No mercado português, o CEO da Galli crê que haja espaço para explorar nichos: “Existem grandes incorporadoras que fazem negócios lá, mas isso não significa que não haja nichos para serem atacados de forma mais arrojada. São coisas que podem passar ao largo de uma grande incorporadora portuguesa, que tem um modus operandi bem específico”. 

Para Nuno Coelho, novos entrantes são positivos para tornar o mercado português mais profissionalizado, porém é necessário ter cuidado com as especificidades locais: “A melhor coisa que se tem a fazer é encontrar um parceiro local. O mercado é pequeno e muito regionalizado. Há exemplos, no próprio Brasil, de incorporadoras que abriram capital, expandiram e depois voltaram para suas bases porque cometeram muitos erros”, avalia. 

“Eu acho saudável. A questão é que há dez anos, eu diria que quase qualquer pessoa ou empresa poderia chegar, entrar no mercado e ganhar dinheiro em Portugal. Agora, precisa ser mais profissional e ter cuidados com engenharia, com mão de obra, com a lógica do empreendimento”, encerra Coelho.

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Por Henrique Cisman