Como as tecnologias estão agregando valor a real estate

Inovações como smart building e imagem tridimensional são alguns dos diferenciais já aplicados por players do setor.

6 de setembro de 2019Mercado Imobiliário
O futuro da comercialização e da própria concepção de empreendimentos imobiliários se torna a cada dia mais indissociável do avanço tecnológico. Em um universo em que as companhias do setor já reconhecem como estratégico o uso de novas aplicações e ferramentas virtuais para 'surfar essa nova onda', as chamadas proptechs e construtechs adentram esse mercado aportando novos produtos, serviços e ideias que adicionam valor ao negócio imobiliário. 

"Todas as semanas, surgem novas possibilidades, [pois] as pessoas estão habituadas a ter todo tipo de informação. Hoje, vivemos em uma sociedade do smartphone [...], por meio do qual as pessoas podem comprar um apartamento, alugar um quarto de hotel, reservar uma mesa em um restaurante, e a tecnologia atua como um suporte para tais escolhas", afirma Luiz Renato Roble, diretor de projetos da The ISO Productions – empresa de tecnologia dedicada à captação de imagens tridimensionais (3D). 

"Em breve, [a captação de imagens] 3D não será mais um diferencial, mas sim um fator que irá nortear as mais diversas eleições. No mercado hoteleiro, por exemplo, podem-se conhecer os diferentes ambientes virtualmente, olhar a vista da varanda, os detalhes do quarto etc.", diz ele. Por não permitir edição, uma imagem 3D traz um retrato fiel, sem máscaras. 

"No segmento de construtechs, vemos uma série de atores – desde aqueles que atuam na construção ou edificação, com tecnologia de impressão 3D, ao desenvolvimento de novos meios para garantir a segurança do trabalhador dentro de uma edificação, ou mesmo a gestão [de uma obra] de forma ininterrupta. Já em pesquisa de mercado, por meio de algoritmos de inteligência artificial e machine learning, é possível analisar, antes de uma construção, as chances de vendas e o valor que as pessoas estarão dispostas a pagar daqui a dois ou três anos [por um imóvel]", prevê, por sua vez, Felipe Gásparo, CEO da Sii Technology, que se dedica a soluções tecnológicas como o smart building

Potencial identificado

No mercado de automação predial e residencial, entre outros, a Sii Technology tem a Vitacon em sua carteira de clientes. Gásparo conta que o projeto com a incorporadora foi validado há cerca de dois meses e está atualmente em fase piloto no VN Bela Cintra, empreendimento de apartamentos para locação na Rua Bela Cintra, em São Paulo. 

"A tecnologia [que adotamos nesse projeto da Vitacon] viabiliza o acesso do usuário a uma série de serviços. No caso dessa aplicação, é possível ver se há muitas pessoas em áreas comuns, como a academia, verificar a reserva de espaços compartilhados e acessar o apartamento [locado] sem necessidade de chaves", explica Gásparo. 

Outros vários serviços podem ser incluídos, trazendo um diferencial ao produto e valorizando atrativos do imóvel. "Foge-se do padrão da busca por locação, localização e metragem, gerando um diferencial por meio da tecnologia", avalia o CEO da Sii.  

Novo conceito

Outra empresa a enxergar a possibilidade de atingir novos consumidores com uma nova aplicação foi a Regus. Entre outras iniciativas, a companhia de escritórios compartilhados do grupo IWG fez uma parceria com a startup BoxOffice, que propõe um novo conceito de miniescritórios – disponíveis em localizações estratégicas. 

Com sete unidades em São Paulo, o projeto de workplaces autônomos da BoxOffice é apontado o primeiro do tipo no País. "São salas privadas totalmente equipadas, com isolamento acústico, wi-fi e outros serviços de infraestrutura, como sistema para videoconferência e ar condicionado", conta Roberta Carvalho, fundadora da BoxOffice. Por meio de um aplicativo, é feita a reserva, assim como pagamento, desbloqueio e uso dos espaços.

A proposta da companhia, que se autodefine como uma empresa de tecnologia, não é competir com o mercado imobiliário, mas agregar valor a ativos existentes. "Oferecemos um produto tecnológico. Todo mês, incorporamos uma nova tecnologia [ao box ou ao app], testamos com os usuários, colhemos feedbacks e ajustamos [o processo], se necessário", complementa Cesar Concone, também cofundador da startup. 

Para a divulgação, a BoxOffice escolheu justamente a imagem 3D como uma das formas de divulgação do produto, que visa chegar a 150 unidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Brasília ainda em 2019. 

"A BoxOffice já responde a esse [novo] consumidor, preocupado em não perder tempo. O box [miniescritório] é padrão, porém, a localização torna cada local único. Com a imagem virtual, o interessado pode escolher o espaço rapidamente através de um link", comenta, por sua parte, Luiz Roble, da The ISO Productions.

Para a estratégia de divulgação, foram definidas três possibilidades de tags [etiquetas na imagem que permitem inclusão de dados, links e hiperlinks]: a primeira para o box propriamente dito, que é similar em todos os casos; a segunda sobre o entorno do local; e uma terceira que permite a comercialização para uma nova mídia. 

"Assim, a BoxOffice pode oferecer tags a outras empresas, que fazem montagem, mobiliário etc. em um novo espaço de mídia. É o nascimento de uma nova forma de comunicação e vendas, usando o marketing como um disseminador de uma série de informações a partir de um simples link", prevê Roble.

Reconstruindo relações de consumo

Nesse universo em transição – que hoje reúne 'imigrantes' e 'nativos' digitais, como definiria Marc Prensky no início dos anos 2000 –, também se encontra em evolução a reconstrução do relacionamento entre vendedores e compradores. A percepção de valor crescentemente passa do ativo imobiliário para a experiência do usuário.

"Entendemos que, no futuro, ofertar uma sala [corporativa] não será um diferencial. Por isso, nosso produto principal é a tecnologia, por meio da qual oferecemos uma solução de experiência para o cliente", diz Cesar Concone. 

Tal mutação pode ser mais facilmente analisada no mercado residencial, em que as relações são voltadas predominantemente ao cliente final e sofrem alterações velozes. "De repente, não faz mais sentido ter um imóvel com dois ou três dormitórios, pois a configuração familiar está mudando, assim como as relações de trabalho – como o home office ou o coworking. Estamos em um momento transitório", pontua Luiz Roble, da The ISO Productions. 

Nesse ambiente, Concone reforça que a inovação tecnológica é uma das formas de agregar valor aos empreendimentos. "No caso dos boxes, não estamos competindo com os players do mercado, mas trazendo uma nova possibilidade, sem necessidade de alterações estruturais ou grandes aportes", continua o cofundador da BoxOffice, que já conta com parcerias com mais empresas de real estate, como Cyrela e Vitacon. 

Enxergando outras oportunidades

Também para Roble, o presente contexto trouxe uma oportunidade, ao permitir vislumbrar um novo mercado – em que se possa aliar a tecnologia e a negociação comercial. Entre os segmentos atendidos pela empresa de captação de imagens e marketing digital, estão os ramos residencial, de hospitalidade e corporativo. 

Outro case citado por ele é o do complexo World Trade Center – cuja administração viu na aplicação a possibilidade de mostrar a seu público os diferentes espaços disponíveis para locação. 

"Como eles possuem cerca de 70 ambientes, que podem atender de dez a 2000 pessoas, o 3D se mostrou uma solução ideal", conta Roble. Após ter um feedback positivo, a The ISO Productions realiza, no momento, a apresentação desses ambientes, que serão disponibilizados de nova forma. "Com um único arquivo, é possível criar 20 possíveis apresentações", esclarece.

Outro exemplo é o showroom virtual, em construção no momento. "No passado, a partir de um ambiente real, reproduzimos um showroom virtual para apresentar um apartamento de uma incorporadora. Agora, o mesmo desenvolvedor optou por lançar um empreendimento apenas com a divulgação virtual", narra. O trabalho está em estruturação para a curitibana HRC Construtora.

Para a BoxOffice, por seu produto ser novo, a imagem tridimensional se tornou importante para a disseminação do conceito. "Por ser um negócio relacionado à experiência, é difícil descrevê-lo. Antes, [o potencial parceiro] não conseguia enxergar o valor agregado. Agora, é possível mostrar, por meio dessa captação", confirma Concone. 

Novos paradigmas

No percurso de utilizar a tecnologia a favor dos negócios imobiliários, há ainda desafios a superar, como o baixo conhecimento tecnológico da população. O surgimento do espaço em formato de caixa – uma sala de quatro metros quadrados com paredes de vidros, acústica e infraestrutura tecnológica e de serviços, como cafés, por exemplo – partiu de uma demanda pessoal de Roberta Carvalho. 

Ao identificar que havia um nicho de mercado e um espaço a ocupar, ela e o sócio lançaram a companhia, que, logo, atraiu a atenção da Regus no Brasil. Sem revelar os termos da negociação, a BoxOffice diz apenas ter planos de se expandir a outros mercados do grupo IWG. Em território nacional, também já existem unidades em shoppings paulistanos e outros empreendimentos e há negociações para futuras instalações em locais como metrôs e hospitais. 

"O aculturamento é um dos principais obstáculos. As pessoas já estão habituadas a trabalhar em locais não convencionais, como cafés e espaços públicos. [Com o BoxOffice], oferecemos um ambiente privado e preparado para essa atividade, ideal para quem necessita de infraestrutura ou privacidade. Mas ainda é preciso que a população passe a conhecer o serviço, entender a proposta e o seu funcionamento", continua Cesar Concone. 

Para Felipe Gásparo, outro desafio é a regulamentação brasileira. "Qualquer nova tecnologia e quaisquer novos padrões, especialmente os pioneiros em determinado segmento, têm vários percalços no percurso, como a legislação que é lenta e, muitas vezes, precisa ser aperfeiçoada após o surgimento de um novo produto ou serviço."

Reportagem de Estela Takada

 

Brazil GRI 2019

Brazil GRI 2019

O futuro da venda de imóveis e o uso da tecnologia a favor dos negócios imobiliários são temas do Brazil GRI 2019, com a participação de Luiz Renato Roble e Felipe Gásparo. 


Junto a outros players do mercado de tecnologia e dos segmentos de escritórios, loteamentos, hotéis, industrial & logística, shopping & varejo e residencial, eles vão discutir as novas relações de compra e venda, o perfil do novo consumidor e a aplicação tecnológica no processo de comercialização. 

A 10ª edição do evento está marcada para os dias 12 e 13 de novembro, no Grand Hyatt Hotel São Paulo. Outros detalhes no site do encontro.