Gustavo Favaron<br/ >Crédito: GRI Club/Mario Miranda Filho

Como anda o otimismo dos líderes imobiliários globais?

Gustavo Favaron, CEO do GRI Group, comenta sobre cenário de real estate a partir das percepções do Chairmen's Retreat.

21 de fevereiro de 2020Mercado Imobiliário

Gustavo Favaron*

Desde o final do ano passado, ao debater com diversos investidores, altos executivos e empresários, tenho percebido que o otimismo voltou a predominar no setor imobiliário em boa parte do mundo. Atuo em uma empresa com alcance global e, para confirmar essa percepção, realizamos em janeiro uma pesquisa com mais de 100 nomes de relevância nesse segmento que apontou o que eu já esperava: 54% dos ouvidos se consideram otimistas e 8% estão altamente otimistas, o que totaliza 62% de avaliações positivas.
 
Essa é uma alta significativa em relação a 2019, quando o grupo de bom humor somava somente 40%. O auge da série histórica dessa sondagem, que iniciamos em 2012, foi em 2015, quando os otimistas representavam 72% da amostra ― e é desse número que estamos nos aproximando. É importante notar que a melhora apontada agora em 2020 vem, essencialmente, da diminuição da fatia dos pessimistas e muito pessimistas, que baixou de 24% a 4%. 

Essa retomada do otimismo, agora chancelada por dados estatísticos, foi o foco de um debate muito importante desenvolvido no Chairmen's Retreat, um evento realizado anualmente com a participação de diversos tomadores de decisão globais sobre as circunstâncias do mercado imobiliário. É um espaço no qual os presentes podem trocar ideias sobre temas que de fato ocupam seus pensamentos ao conduzir suas empresas, inclusive aqueles que lhes tiram o sono. Afinal, ainda que predomine uma expectativa de bom horizonte, ninguém descarta atenção a pontos com potencial para impactar diretamente os negócios. O momento desperta bons olhos, mas também pede cautela com alguns aspectos.

Por exemplo, os líderes imobiliários ainda enxergam riscos oriundos de fatores como a atuação dos governos (36%), o populismo (22%), preços muito elevados de ativos (21%), desigualdade (7%) e a alta alavancagem de algumas companhias (7%). 

Cenário mundial e local

Quando se trata de investimentos imobiliários, as partes do globo apontadas como mais atrativas são hoje Estados Unidos e Canadá, com 25% das preferências, seguidas por Europa Ocidental e Reino Unido, com 22%. Já a América Latina foi lembrada por 7%, mesmo resultado do ano passado, mas isso não é notícia ruim, dado o cenário recente da região, marcado por turbulências político-econômicas que não passam despercebidas lá fora.
 
Na realidade, a América Latina se manteve estável na preferência dos empresários imobiliários essencialmente devido à retomada da economia e do setor no Brasil. Pesquisas apontam que 2020 deve ser o ano do mercado imobiliário no País, e vejo as companhias trabalhando para que isso se realize.
 
A expectativa é de crescimento para o Brasil, embora com velocidade ainda aquém da desejada. Mesmo levando em conta os fatores de risco, noto os empresários no país se descolando das oscilações políticas e buscando soluções para o desenvolvimento do mercado. É a retomada da livre iniciativa em sua essência, o desejo por mudar cenários desafiadores apostando no potencial do País e enxergando novas formas de atuar.
 
É com base neste otimismo que, para 2020, acredito que o setor vai de fato retomar investimentos, importantes transações e projetos que ficaram na gaveta nos últimos tempos, criando as bases para o início de um novo ciclo.
 
* Gustavo Favaron é CEO e managing partner do GRI Group. 
 

Nota da redação: artigo publicado originalmente pelo Estadão em 19 de fevereiro.

Infográfico 'O que pensam os líderes imobiliários em 2020'