Blackstone: "Há barreiras, mas investir no Brasil faz sentido"

Em entrevista, Jon Gray explica por que a empresa decidiu ampliar sua presença no País.

13 de setembro de 2015Mercado Imobiliário

Depois de alguns anos atuando no Brasil em parceria com o Pátria, a Blackstone decidiu ampliar sua presença no País, com a abertura de um escritório próprio e a contratação de um líder experiente para a área de negócios imobiliários. O que está por trás dessas decisões? Mesmo no atual contexto turbulento que o País enfrenta, a empresa vai manter seus planos?

Ninguém melhor do que Jon Gray, head global de Real Estate da Blackstone, para responder a estas e outras perguntas. De malas prontas para vir a São Paulo a fim de participar do Brazil GRI 2015 como keynote speaker, ele falou ao GRI com exclusividade.

Cauteloso, Jon reconhece que o Brasil não é um lugar fácil para se fazer negócios, mas, otimista, garante que o País reserva boas oportunidades de investimento. E adianta: de olho em resultados a longo prazo, a fatia brasileira no portfólio da Blackstone tende a aumentar. Acompanhe a entrevista:

GRI Magazine: Como você vê o atual cenário político e econômico do Brasil?
Jon Gray:
O País enfrenta hoje desafios econômicos e políticos significativos. A combinação de inflação alta, juros elevados e preços baixos das commodities está levando a economia a uma desaceleração substantiva. Adicionalmente, as amplas investigações no governo sobre corrupção e a forte desvalorização da moeda têm dissuadido muitos investidores globais.

GRI: Como esse quadro impacta os planos de investimento da Blackstone aqui?
JG:
Mantemos uma visão de longo prazo. Sabemos que há ventos contrários soprando no Brasil e isso se reflete nos nossos negócios e ativos. De toda forma, acreditamos que o País vai encontrar seus fundamentos, tendo em conta sua população jovem, seu espírito empreendedor e suas riquezas naturais. Recentemente, vimos outros países emergentes também perderem interesse externo e retomá-lo alguns anos depois. Temos confiança de que isso vai acontecer com o Brasil, mas é difícil prever quanto tempo vai levar.

GRI: A Blackstone há poucos meses contratou Marcelo Fedak como head de Real Estate para o Brasil e abriu um escritório no País. Qual o significado prático desses movimentos? A empresa está prestando mais atenção no Brasil e em seu mercado imobiliário?
JG:
Como companhia, estávamos subrepresentados na América Latina, e o Brasil é o maior mercado dessa região. A perspectiva é de que a nossa presença nessa parte do globo aumente consideravelmente na medida em que buscamos oportunidades para nossos investidores em múltiplas classes de ativos. Ao contratar Marcelo Fedak, trouxemos abordo um profissional de investimentos talentoso e experiente, que pode nos ajudar a identificar e analisar grandes oportunidades em real estate no País. É extremamente complicado ser um player ativo em um mercado sem contar com pessoas talentosas in loco. Marcelo e o time que estamos constituindo em São Paulo vão nos permitir responder rapidamente a oportunidades e nos tornar cada vez mais o parceiro ideal no Brasil.

GRI: Como fica a relação da Blackstone com o Pátria?
JG:
Estamos promovendo uma expansão continuada do nosso compromisso com o Brasil. Adquirimos uma participação de 40% no Pátria em 2010 e, desde então, investimos juntos em transações no mercado imobiliário, em infraestrutura e em private equity no País. A mais notável delas foi a aquisição de uma fatia de 70% da Alphaville. Nos sentimos satisfeitos com o sucesso alcançado até aqui. O Pátria tem um dos históricos mais representativos da região e pensamos de forma muito parecida. Nossa parceria permanece forte e esperamos que cresça nos próximos anos.

GRI: Existem hoje boas oportunidades de investimento no País?
JG:
Sim. Mudanças e cautela por parte dos investidores tendem a criar oportunidades atrativas de investimento. Com a queda de 50% no Real frente ao Dólar nos últimos quatro anos e o aumento dos cap rates, os ativos imobiliários brasileiros baixaram um pouco em Dólar. Nosso modelo de negócio é simples. O que fazemos é encontrar imóveis de alta qualidade que gerem renda e agregar capacidade de gestão e capital a fim de aprimorá-los. Dentro dessa lógica, entendemos que os atuais desafios no Brasil estão criando oportunidades conforme empresas, incorporadoras, fundos de investimento e companhias de capital aberto procuram vender ativos por razões variadas.

GRI: Onde estão as maiores oportunidades?
JG:
Como segmentos favoritos, destaco imóveis modernos para logística e grandes shoppings espalhados pelo País, bem como prédios de escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro.

GRI: Quais são as dificuldades que a Blackstone tem encontrado por aqui?
JG:
O maior obstáculo para se investir no Brasil hoje está nos elevados custos para se obter capital, acima de 15% ao ano. Isso faz do Brasil um dos únicos países no mundo em que os investimentos que fazemos precisam ser praticamente todos com capital próprio.

GRI: Como você compara o Brasil com mercados similares no que tange à dificuldade para se fazer negócios e comprometer recursos em projetos ou ativos?
JG:
O Brasil não é um lugar fácil para se fazer negócios em função de barreiras regulatórias, fiscais e estruturais. Isto posto, lembro que operamos ao redor do mundo em países emergentes onde há os mais diversos desafios. A maior diferença no que toca ao Brasil é a facilidade com que locatários podem terminar seus contratos, a não ser que o ativo seja um build to suit. Apesar dos obstáculos, pensamos que investir no Brasil faz hoje muito sentido.

Entrevista concedida à editora-chefe, Giovanna Carnio