Após retomada de IPOs em 2020, ano pode ser de recordes no setor imobiliário

Incorporadoras representaram quase 30% das ofertas no ano passado

29 de janeiro de 2021Mercado Imobiliário
Mesmo diante da pandemia de covid-19 e da consequente crise econômica, a B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) registrou 28 IPOs (initial public offering) entre janeiro e dezembro do ano passado, que levantaram R$ 117 bilhões. Trata-se do maior número de ofertas iniciais dos últimos 13 anos e a maior captação da história.

Isso porque, em 2007, 64 companhias abriram capital na bolsa de valores brasileira, mas a captação foi de R$ 55 bilhões. Em 2019, por exemplo, foram realizadas apenas cinco operações desse tipo, as quais levantaram R$ 10,2 bilhões. No ano passado, portanto, o aumento no valor captado foi de 1.047%.

"A movimentação do mercado acionário em 2020 se deu a partir da expectativa de recuperação da crise de covid-19 com uma busca por boas aquisições e valuations. Nunca houve um ambiente de juros tão baixos, tanto que os IPOs foram em sua maioria ancorados por investidores brasileiros", diz André Assumpção, diretor & head de Real Estate do banco de investimentos do Bradesco BBI.
 
Uma vez que o cenário permanece favorável, para este ano o especialista projeta um total de IPOs superior a 2020 e não descarta, inclusive, que o avanço seja suficiente para quebrar o recorde de 2007, até porque janeiro já trouxe algumas ofertas iniciais e há outras dezenas de empresas na fila para abrir capital.

"Temos tudo para consolidar um ano recorde, mas será necessário superar um primeiro trimestre de incertezas que envolvem vacinação, controle fiscal e questões políticas. A partir de abril, a janela deve ser mais cheia e poderemos enxergar melhor a perspectiva do mercado para os IPOs. Com certeza haverá mais aberturas de capital do que no ano passado", assegura.

IPOs do mercado imobiliário

Do total de empresas aguardando para abrir capital na bolsa, sete são do setor imobiliário: Nortis, Kallas, Yuny, CFL, Emccamp, HBR Realty e Urba, além da Gafisa Propriedades, subsidiária criada no ano passado para desenvolvimento e aquisição de imóveis comerciais para locação, que também cogita realizar IPO em 2021. A informação foi veiculada pelo Estadão.

Em entrevista ao GRI Hub, Estácio de Sá, CFO da Yuny, explicou a situação da empresa, que deve decidir se vai ou não realizar o IPO em fevereiro: "Começamos o processo em março de 2020, paramos por conta da pandemia e, em junho, os bancos identificaram outra janela. Contudo, naquele momento vimos um excesso de ofertas no setor", diz.

"Havia companhias que precisavam realizar o IPO naquele instante. No caso da Yuny, sempre vimos a abertura de capital como uma oportunidade de expandir a empresa e não como algo mandatório", garante o executivo.

As incorporadoras que confirmarem a oferta inicial de ações devem se unir a mais de 30 empresas do ramo listadas na bolsa de valores atualmente. Confira a tabela, que não leva em conta empresas focadas na intermediação imobiliária, como Lopes e Brasil Brokers.



As construtoras, incorporadoras e loteadoras foram responsáveis por 28% das aberturas de capital na B3 no ano passado, com oito dos 28 IPOs totais. Assim como no ranking geral, 2020 só fica atrás de 2007, quando 13 companhias do ramo imobiliário ingressaram na bolsa.

Quem abriu caminho para o setor no ano passado foi a Mitre Realty, cujo IPO ocorreu em 5 de fevereiro e se tratou da primeira abertura de capital de uma incorporadora após mais de 10 anos. A empresa foi acompanhada pela Moura Dubeux, que concluiu a oferta oito dias depois. 

"Já éramos uma empresa com um nível de governança bastante alto e tínhamos parcerias com investidores institucionais grandes, o que possibilitou que o processo de abertura de capital durasse apenas 120 dias. Contudo, acabamos surpreendidos pela pandemia, que começou a tomar proporções críticas no Brasil a partir de março", afirma Fabrício Mitre, CEO da Mitre Realty.

Vale lembrar que, em 2020, ainda houve suspensão ou cancelamento de outras dez ofertas: Canopus, Pacaembu, Riva 9, You Inc, One Innovation, Patrimar, Housi, EZ Inc, BRZ e Almeida Junior protocolaram o pedido de IPO na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), mas voltaram atrás. 

Sobre a possibilidade de novas ofertas de incorporadoras, Mitre alerta para a saturação de companhias do setor imobiliário na bolsa brasileira. "Achamos que não há mais espaço para muitas empresas, principalmente se elas atuarem em um mercado parecido com as que já abriram capital".

"No ano passado, algumas incorporadoras de nicho, como a Melnick Even, que atua no Sul do país, a Moura Dubeux, no Nordeste, e a Cury, focada no mercado de baixa renda, entraram. O mercado provou que precisa haver um diferencial, uma nova história", completa o executivo.

Perspectivas para o setor

Após um começo de ano estagnado em função da chegada da covid-19, a Mitre apresentou bons resultados no terceiro e no quarto trimestres e encerrou 2020 com VGV de lançamentos de R$ 920,1 milhões, alta de 30,4% em relação ao ano anterior. Para 2021, a expectativa é manter um bom desempenho.

"Com certeza a retomada econômica será um resultado da política governamental como um todo, incluindo vacinação e relacionamento com o Congresso. É um ano com muitas incertezas, mas existem fundamentos sólidos para acreditar que o mercado imobiliário seguirá performando bem, principalmente em São Paulo", diz o CEO da empresa.
 
O CFO da Yuny segue raciocínio semelhante: "Tivemos dois bons últimos anos, o que mostra que os baixos juros são realmente o maior incentivo desse mercado. Outro forte vetor é o efeito manada na compra de imóveis".

Mesmo otimistas, ambos executivos mostram preocupação com o aumento no preço dos insumos da construção. Já o diretor do Bradesco BBI vê boas oportunidades no futuro do setor: "O mercado deve seguir crescendo. O alto número de IPOs no ano passado se justifica na conjuntura atual: taxa de juros baixa, déficit habitacional elevado e mudança no perfil do investidor", encerra Assumpção.


Por Daniel Caravetti

GRI Residencial Brasil 2021