Ajustes no CVA agradam às construtoras e alentam o mercado econômico

Conjunto de medidas vai permitir que mais famílias sejam aptas a financiar a casa própria

22 de julho de 2022Mercado Imobiliário
O governo federal e o Conselho Curador do FGTS promoveram novos ajustes no programa Casa Verde e Amarela (CVA) a fim de reduzir o impacto da inflação, que tanto vem diminuindo o poder de compra das famílias quanto elevando o custo das obras, uma equação que resulta em menores margens para as incorporadoras. 

Dentre as medidas, destaque para:
• Aumento do prazo máximo de pagamento dos empréstimos, de 30 para 35 anos;
• Uso do FGTS na composição da renda como garantia dos financiamentos;
• Ampliação dos subsídios em todos os grupos;
• Aumento do teto de renda mensal nos grupos 2 e 3, cujos limites passam a ser R$ 4,4 mil e R$ 8 mil, respectivamente;
• Redução das taxas de juros nas linhas de crédito pró-cotista.

Há alguns meses, o governo federal também promoveu seguidos cortes nas alíquotas do Imposto de Importação sobre insumos da construção civil, com destaque para o aço, um dos maiores vilões da inflação setorial nos últimos dois anos. 

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“Antes dessa nova rodada, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) já tinha elevado o teto do grupo 1 para R$ 2,4 mil e reduzido os juros em 0,5%. Ele adiantou as medidas do grupo 1, que é o mais sensível às questões econômicas, e agora está aplicando-as nos demais grupos”, explica Victor Almeida, diretor-presidente da Pacaembu Construtora, focada na faixa de entrada do CVA. 

Outro a elogiar as movimentações do MDR e do Conselho Curador do FGTS é Ronaldo Motta, diretor de Desenvolvimento Imobiliário da MRV: “Todas essas mudanças são muito importantes. Vamos conseguir trazer para dentro do programa famílias que, até então, estavam fora, e o efeito disso é exponencial”. 

Ainda segundo Motta, enquanto as pessoas não recuperam o poder de compra e os preços de insumos da construção não param de subir, as construtoras terão que lidar com margens comprimidas e ser mais disciplinadas para a conta fechar, mesmo com os ajustes recém-anunciados. 

No segundo trimestre, conforme mostra a prévia operacional, as vendas da MRV caíram 10,3% frente ao mesmo período do ano passado. 

“O ministério precisava agir para manter um ritmo de contratações, geração de emprego e desenvolvimento habitacional, e eu entendo que ele vem agindo. Talvez não seja o suficiente para resolver todo o problema, afinal, ele é grande, mas ajuda a reduzir os impactos”, completa Almeida. 


Empreendimento entregue pela Pacaembu Construtora na cidade de Itapetininga/SP. Foto: Divulgação/Pacaembu

O vice-presidente da Cury, Leonardo Mesquita, destaca as melhorias na linha pró-cotista, nas unidades de até R$ 350 mil: “Essa medida engloba imóveis que hoje, em função da pressão inflacionária, tinham condições menos favoráveis em termos de financiamento. Isso é importante para não inviabilizar a compra de apartamentos que estão logo acima do teto do programa”. 

Mais focada no grupo 3 e em imóveis que não se enquadram no CVA, a Cury bateu seu recorde histórico de vendas e lançamentos no segundo trimestre, o que segundo Mesquita faz parte de uma estratégia de antecipar alguns projetos, considerando eventos do segundo semestre, como as eleições. Com essas mudanças, porém, o ritmo pode continuar forte nos próximos meses. 

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Os executivos também entendem que a redução nas alíquotas sobre a importação de materiais - apesar da dificuldade de trazer insumos de fora - tem evitado novos ajustes dos fornecedores locais. “Quando o governo tomou essa medida, sentimos um recuo das grandes siderúrgicas”, afirma Victor Almeida.

“A concorrência é sempre o melhor remédio para tornar qualquer setor mais eficiente. Na própria incorporação, é assim. A MRV é a maior construtora de habitação de interesse social do Brasil e não tem 10% de market share. Se essa hipótese da importação se tornar viável em termos operacionais, que seja mais um caminho para tornar o país mais competitivo”, diz Ronaldo Motta.

Para Leonardo Mesquita, o ciclo de alta das commodities está próximo do fim, embora - alerta o executivo - previsões semelhantes feitas anteriormente não tenham se confirmado: “O cenário que se desenha lá fora sugere que a economia global não tenha tanta pujança, e esse arrefecimento impacta nos preços”. 

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Em relação aos próximos passos, Motta aponta como prioridade aumentar o valor limite dos imóveis, que varia de cidade a cidade; em São Paulo, por exemplo, é R$ 264 mil, atualmente, enquanto em municípios do interior, como Araraquara, é ainda menor, R$ 198 mil. “Nosso maior desafio é viabilizar a oferta para atender a demanda, que é crescente”.

Outro ponto de atenção, segundo o executivo, consiste em otimizar o processo de avaliação do valor do imóvel realizado pela Caixa Econômica Federal. “É uma agenda que precisa ser permanente, principalmente em um cenário de inflação alta. Quando a avaliação é inferior ao valor a ser pago, aumenta-se o risco e a inadimplência”, defende. 

Perguntados sobre a recente mudança na presidência da Caixa, todos os executivos disseram acreditar na capacidade do corpo técnico do banco e da nova presidente, Daniella Marques Consentino. 

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Por Henrique Cisman