Riscos da mudança climática em iniciativas de infraestrutura

Especialistas, executivos e autoridades explicaram como projetos de infraestrutura podem ser afetados no país

1 de julho de 2022Infraestrutura
No último dia do mês do meio ambiente, os membros do GRI Club se reuniram no eMeeting "Riscos climáticos nos setores de energia e infraestrutura no Brasil", que ocorreu em 30 de junho às 16h. O evento online objetivou debater os impactos climáticos para o retorno dos investimentos, a mitigação de fatores de imprevisibilidade, a governança e administração de ações de descarbonização.
 
Thiago Lang (Aon) foi o moderador da conversa, que também contou com a participação dos convidados especiais Elisangela Almeida (EPE), Fabio Ono (Ministério da Economia), Henrique Paiva (Siemens Energy Brasil), Leisa Souza (Climate Bonds Initiative), Mateus Angelo (Aon) e Viviana Coelho (Petrobras).
 
A seguir, compilamos os principais pontos de discussão levantados ao longo do encontro. Confira abaixo!

Matrizes energética e elétrica

Os primeiros tópicos citados pelos participantes foram relativos ao contexto atual do Brasil no que concerne às características das matrizes energética e elétrica. Observou-se que o país, apesar das dificuldades que enfrenta em diversos setores, está bem-posicionado quando o assunto é energia renovável. De fato, afirmou-se que, segundo dados do ano passado, quase metade da matriz energética brasileira é composta por renováveis, mais especificamente, 46%.
 
Por outro lado, a matriz elétrica do país contou com 78% de participação das renováveis em 2021 (dos quais 60% se referem à energia hidrelétrica). O número, embora supere a média mundial, representa uma queda em comparação com os 83% registrados em 2020. Explicou-se tal diminuição, em grande parte, pela crise hidráulica, o que levou a uma compensação possibilitada pela energia termelétrica.

Gerenciamento de riscos

Os convidados de nosso evento online salientaram a necessidade de realizar cada vez mais análises a longo prazo, que incorporem práticas sustentáveis nos projetos de infraestrutura e energia. Um dos principais motivos para essa urgência se deve aos graves riscos decorrentes de eventos extremos, os quais aumentaram com o aquecimento global e consideram-se de difícil previsão.
 
Foram apontadas três consequências negativas importantes que advêm dessas situações: o dispêndio (de recursos e tempo) com a reconstrução e a reparação de danos materiais; a perda temporária de receita associada ao projeto atingido, com efeitos subsequentes sobre a economia; e os transtornos causados em virtude da interrupção de um serviço, os quais, em muitos casos, impactam diretamente a sociedade.[1]

O lugar do Brasil e da América Latina

Destacou-se, ainda, o lugar do Brasil e da América Latina dentro do cenário internacional de projeções, ações concretas e investimentos. Para alguns dos participantes, em um futuro não distante, o Brasil pode se colocar como potencial exportador de energia em nível global. Nesse sentido, a redução das emissões de CO2 e a proeminência da energia renovável situariam o país de modo estratégico diante das necessidades do chamado “novo mundo”.
 
No que diz respeito à América Latina, ressaltou-se a vulnerabilidade geográfica e social que há no continente ao pensarmos em possíveis impactos negativos da mudança climática. Ao mesmo tempo, a região se distancia, de certa forma, dos conflitos políticos atuais na Europa e nos Estados Unidos, o que pode estar alterando a perspectiva dos investidores. “De repente, a América Latina se tornou o lugar mais democrático do mundo com a invasão à Ucrânia”, afirmou um dos participantes do eMeeting.

Caminhos e desafios

Um dos primeiros passos necessários rumo a projetos mais sustentáveis é a aprendizagem a partir da revisão de padrões e parâmetros antigos. “O entendimento sobre o que representava um risco para o meio ambiente, por exemplo, era outro no passado”, disse um dos presentes. Além disso, “tinha uma interpretação diferente sobre os fenômenos climáticos extraordinários. Se em quatro anos temos duas ou três situações que antes aconteciam em um intervalo de 70 anos, precisamos mudar a abordagem do fenômeno”, complementou.
 
Após essa análise, a estruturação de projetos em infraestrutura e energia deve centrar-se no futuro, na nova realidade que o mundo vai viver de acordo com projeções de estudos científicos. Com isso, o desafio passa a ser encontrar um ponto de equilíbrio entre as conclusões e os consensos da ciência quanto à mudança climática; os modelos que estão em vigor, mas precisam de adaptação; e a rentabilidade das iniciativas, que têm de atender a interesses de diversos segmentos.
 
Por Lucas Badaracco

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[1] Em 2017, um relatório da Energy & Climate Intelligence Unit traz 32 tipos diferentes de eventos cujo risco cresceu devido à mudança climática. Já naquele ano haviam sido publicados, pelo menos, 41 estudos concluindo que a mudança climática aumentara as chances de eventos extremos acontecerem em todo o mundo.