O que esperar da agenda de concessões de áreas verdes no Brasil?

Encontro do GRI Club promoveu o debate e a troca de informações sobre o setor de parques e unidades de conservação

7 de fevereiro de 2022Infraestrutura

Na quinta-feira 27 de janeiro, o GRI Club, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), realizou o eMeeting “Parques e unidades de conservação ambiental: próximos projetos e inovações para o desenvolvimento do setor”. O objetivo da reunião foi apresentar os próximos projetos de concessões de parques e unidades de conservação, em estruturação pelo BNDES, que fazem parte da carteira de projetos até 2023.

Com moderação de Pedro Bruno Souza (BNDES), o evento contou com a presença de players da indústria, operadores do setor e autoridades do poder público. Participaram ativamente da discussão Daiane Rocha (MMA), Fernando Pieroni (Instituto Semeia), Sandro Fernandes (Grupo Bondinho Pão de Açúcar), Eduardo Rigotto (LivePark), Luiz Del Vigna (ABETUR), Leisa de Souza (Climate Bonds Initiative) e Rafael Ferraz (Parquetur). 

Em formato informal e participativo, os convidados focalizaram as expectativas para a gestão de atividades de conservação, educação ambiental, promoção e apoio à pesquisa, inovação, modernização da infraestrutura e visitação, além de discutir os mecanismos de financiamento e garantias.

O encontro foi marcado pelas observações do superintendente de governo e relacionamento institucional do BNDES em relação à carteira de projetos e às perspectivas para este ano. Ao longo da discussão, Souza ressaltou que estão previstos 65 leilões em 2022, dos quais 20 são relativos a parques e florestas, quase o dobro do número atual. 

Além desses 65 leilões de 2022, Rocha destacou o andamento das tratativas para entregar mais três editais para a concessão de parques até o fim do ano, ampliando, assim, o pipeline de iniciativas. Apontou, ainda, que as modelagens estão avançadas e seguem por bom caminho.

Pieroni atentou para a preocupação dos investidores antigamente, visto que consideravam haver riscos na avaliação de projetos isolados em vez de uma carteira inteira. Hoje em dia, o aspecto qualitativo dos contratos é importante, bem como a flexibilidade tarifária. Em relação aos contratos, ele afirma que são mais fluidos, diretos e qualificados quanto às condições que determinam.

Nesse cenário, a concessão de parques traz oportunidades para uma quantidade significativa de negócios diferentes, o que implica a necessidade de constituir uma carteira coordenada, a fim de explorar o potencial que se tem e alcançar resultados ideais. Na opinião de Pieroni, o anúncio do BNDES sobre concessões cruzadas de ativos ambientais provocou uma reação positiva no mercado.

Fernandes e Rigotto expressaram otimismo quanto à evolução das modelagens e da expansão do portfólio de projetos. Ambos focaram seus discursos na relevância e na intenção de firmar parcerias estratégicas e concordaram com a visão de que as concessões cruzadas levam a caminhos inexplorados. Souza aludiu a um caso de sucesso na implementação desse modelo de concessão em bloco: o do setor aeroportuário.   

Não obstante, foi sinalizado por alguns participantes da reunião o cuidado que as concessões cruzadas requerem, uma vez que poderiam favorecer players de maior porte no segmento. Dessa forma, para que a presença de empresas menores não seja afetada, debateu-se a alternativa de considerar microcréditos, a fim de nivelar as condições.

Del Vigna e de Souza, por sua vez, abordaram um componente fundamental ao tratar da atuação de empresas em áreas verdes: as iniciativas de preservação do meio ambiente. Para Del Vigna, que atua no ramo há mais de 40 anos, elas são imprescindíveis a fim de promover o turismo de natureza no Brasil. As empresas devem ter “o compromisso com o território, com a geografia do país”, afirmou. É, de fato, um momento propício para discutir as possibilidades de crescimento do setor, para “repensar o que queremos fazer no futuro do turismo, um futuro que precisa ser verde”.

Na mesma vertente, de Souza acredita que se está diante de uma chance para o desenvolvimento de práticas sustentáveis, indicando que há, entre os players, bastante apetite por ativos verdes. Ela observou que o mercado está crescendo exponencialmente e que o Brasil tem o maior número de ativos verdes da América Latina, seguido por países como México e Chile. Em virtude dessa realidade, concluiu-se que os investimentos na manutenção da biodiversidade e do capital natural são de interesse coletivo no setor. Del Vigna resumiu, por último, que “as políticas públicas precisam tornar o país uma referência mundial em sustentabilidade”.

Informações relevantes

  • A carteira atual de projetos do BNDES é composta por 34 parques estaduais, 11 parques federais e 06 parques municipais em 13 estados. Confira mais detalhes em https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home 
  • A concessão dos parques estaduais do Caracol e do Tainhas já tem data marcada: ocorrerá em 19 de abril de 2022. A informação foi revelada com exclusividade por Leonardo Busatto (Governo do Rio Grande do Sul) durante o encontro.

Por Lucas Badaracco