'Ganhamos representatividade' no segmento, diz Socicam

Socicam foi a única brasileira a arrematar um dos blocos da 5ª rodada de concessão aeroportuária.

12 de abril de 2019Infraestrutura
Única brasileira a vencer um dos leilões da 5ª rodada de concessões aeroportuárias, a Socicam – que, por meio do Consórcio Aeroeste (formado com a também nacional Sinart), fez lance vencedor pelo Bloco Centro-Oeste no valor de R$ 40 milhões e ágio de 4.739,38% – viu na desestatização do governo federal, cujo pregão foi realizado em 15 de março, a oportunidade de ingressar com força nesse segmento.

"Estávamos no nosso limite. A referência do governo era de R$ 800 mil [de outorga] e o montante ao qual chegamos teve como premissa a importância do projeto para a empresa. Ou ganhávamos e entrávamos em uma concessão federal ou passaríamos a ver outros negócios, desativando a área aeroportuária", contou Wanderley Galhiego Junior, diretor de Novos Negócios da companhia.

Ele conversou com a equipe de reportagem do GRI Hub durante o
GRI PPPs e Concessões Brasil 2019 no último dia 28 de março. Confira a entrevista:

A Socicam é conhecida principalmente por administrar terminais rodoviários. Contudo, recentemente, ganhou destaque por ser a única brasileira entre as companhias (a suíça Zurich Airport e a espanhola Aena Desarrollos) que participaram da última rodada aeroportuária. Como iniciaram a atuação nesse setor?
Começamos a atuar na área de aeroportos em 2008. Sempre trabalhamos em atividades ligadas à mobilidade e logística humana, não com o transporte diretamente, mas com a administração dos terminais. A Socicam Aeroportos foi criada há 11 anos. À época, porém, o Estado era muito presente – com a Infraero –, o que fez com que nos focássemos em operações regionais, como Vitória da Conquista/BA, Ipatinga/MG e Caldas Novas/GO, operações difíceis de viabilizar e de apresentar resultados financeiros. Investimos muito em excelência operacional, atendimento, [atuação dentro] das normas da Anac [Agência Nacional de Aviação Civil] e também para servir nosso acionista, que visa a rentabilidade. Foram anos de trabalho em todas essas frentes e já estávamos prontos, aptos a participar das rodadas anteriores, da primeira à quarta. Possuíamos qualificação técnica e financeira, mas os leilões tinham como foco obras públicas e não operação. Para nós, o modelo proposto anteriormente não fazia sentido.

Então, quando o leilão em blocos foi anunciado, vocês entenderam que era a hora de participar…
Exatamente. Quando foi anunciado o modelo da quinta rodada, pensamos que era o momento ideal. Já conhecíamos o modelo e a solução em blocos fazia todo o sentido. Os aeroportos Sinop, Rondonópolis e Alta Floresta [incluídos no Bloco Centro-Oeste, junto ao terminal de Cuiabá] têm peso de mais de 20% da demanda da capital [mato-grossense] e já entendíamos como operar aqueles terminais.

Como foi a preparação, do anúncio da licitação pelo Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) até a decisão de participar?
Na ocasião, entendemos que era a hora oportuna e começamos a nos preparar. Desde o último ano, realizamos estudos internos e estruturamos a viabilização do investimento. Formamos um consórcio, no qual a Socicam tem 85% da participação e a outra empresa [Sinart] 15%, uma associação 100% nacional, sem a presença de nenhum fundo de investimento internacional. Buscamos uma solução de funding brasileiro, o que fez com que alcançássemos não apenas um negócio expressivo [com o arremate], mas também credibilidade [no mercado]. Fomos a única companhia brasileira no leilão. Temos 14 aeroportos em nosso portfólio e nos envolveremos em outras rodadas pela frente. Já somos o maior operador aeroportuário privado do Brasil. Ganhamos representatividade.

Durante o leilão, a disputa estava acirrada, especialmente pelo Bloco Nordeste. Para o Centro-Oeste, vocês estavam dispostos a ofertar lances maiores, se necessário?  
Confesso que estávamos no nosso limite. A referência do governo era de R$ 800 mil [de outorga] e o montante ao qual chegamos teve como premissa a importância do projeto para a empresa. Ou ganhávamos e entrávamos em uma concessão federal ou passaríamos a ver outros negócios, desativando a área aeroportuária. Pesamos todos os entraves, investimentos necessários em todos os terminais, aportes maiores em Cuiabá. O ágio foi o preço que pagamos para estar no negócio. Para nós, era quase um valor incalculável. Significava o futuro da companhia no segmento. Isso fez com que chegássemos a R$ 40 milhões. Aparentemente, demos lances altos, mas o objetivo era chegar o mais rapidamente à nossa estratégia.

Em relação à recém-anunciada sexta rodada, vocês já estão se preparando?
Sem dúvida, já estamos trabalhando na sexta rodada e temos interesse na sétima também. Tudo indica que a próxima será similar à quinta, com o dinamismo de blocos e regras contratuais similares – sem a participação da Infraero, com ágio pago no início do contrato e outorga variável. Permanecendo tais condições, teremos interesse, sim.

A nova concessão terá outros três blocos – Norte, Eixo Central e Sul, em um total de 22 aeroportos. Vocês estão olhando para alguma região com mais atenção?
Ainda não. Todos os blocos foram bem estruturados, com conexão ou sentido financeiro – de um cobrir uma eventual despesa do outro. Portanto, olhamos para todos sem nenhum preconceito e não temos apego também a um ou outro. Estamos em uma etapa de analisar de forma assertiva [como participar].

Alguma chance de disputarem os aeroportos de Congonhas ou Santos Dumont, que devem ser contemplados na última etapa?
Os dois terminais devem ter valores expressivos e a necessidade de estruturar capital. Nossa participação dependerá da composição do bloco. Se estiverem isolados, dificilmente conseguiríamos. Inclusive por conta do volume da operação, seria mais difícil sairmos vitoriosos. Pode ser interessante, caso seja uma formatação em lotes, o que permitiria trabalhar com muita eficiência operacional, logística e de gestão.

Além das rodoviárias e, agora, aeroportos, a Socicam também está investido em portos. A ideia é ter um segmento principal ou diversificar o portfólio em múltiplas frentes?
Realmente, temos uma estratégia de diversificação. A Socicam está hoje em quatro frentes – portos, aeroportos, terminais e serviços –, esse último englobando o segmento de escolas, discussão da qual participamos durante o GRI PPPs e Concessões 2019. Recentemente, também vencemos a concessão do Parque Chapada dos Veadeiros, uma administração de 20 anos. Temos ainda terminais urbanos e rodoviários e a primeira e única concessão após a Lei do Portos [nº 12.815/13] – do terminal transatlântico de Salvador [Terminal Turístico Náutico da Bahia], que recebe navios de todo o mundo. A estratégia de diversificação é importante por conta da economia. Em um período [determinado], um segmento ou outro pode ficar mais ou menos ativo, até por conta do calendário político. Atualmente, por exemplo, os aeroportos estão em evidência com o governo federal, mas há poucos projetos municipais. É importante não estarmos concentrados em um ente federativo ou depender de fatores restritivos.


Voltando ao segmento rodoviário, a Socicam apresentou anteriormente um procedimento de manifestação de interesse (PMI) para o processo de concessão dos terminais da cidade de São Paulo. Vocês avaliam participar da primeira licitação, do Terminal Princesa Isabel, cujo resultado está previsto para o dia 16 de abril?
Desde o início, havia interesse, pois prestamos serviços para todos os terminais de São Paulo e a mobilidade urbana faz parte da nossa origem. Analisamos muito a concorrência [que está sendo lançada pela quinta vez] e nos esforçamos para chegar a uma conta viável. O edital relançado não sofreu grandes alterações. Para nós, esse é um terminal importante, mas está difícil atingir o equilíbrio, pois o investimento é bem expressivo. Ainda estamos avaliando se é possível viabilizar a operação.

Entrevista concedida à jornalista Estela Takada

 

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