Debêntures de infraestrutura têm oportunidade de disseminação

Queda dos juros abre portas para recursos migrarem de títulos públicos a outros ativos.

29 de maio de 2017Infraestrutura

Um dígito. Ao que tudo indica, no final deste ano ou em meados do próximo, essa vai voltar a ser a dimensão da Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira. Uma queda significativa e continuada ao longo dos próximos meses é praticamente consenso entre os analistas do mercado.

As estimativas dos maiores bancos nacionais reforçam essa perspectiva. O Itaú, por exemplo, projeta a Selic em 9,25% no fim de 2017 e em 8,25% quando 2018 se encerrar, retomando os patamares de 2009. Economistas consultados pelo Banco Central para o Boletim Focus do início de março também falavam, na média, em 9,25% em dezembro deste ano.

E não estamos falando apenas de prognósticos. A decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) vêm confirmando essa tese. Nas duas primeiras reuniões do Copom em 2017, foram feitos dois cortes consecutivos de 75 pontos-base, acima do ritmo verificado no final de 2016 (50 pontos-base), em abril, novas reduções acentuadas.

Uma curva descendente dos juros, como bem se sabe, tende a proporcionar efeitos em cascata de estímulo à atividade produtiva. É o que se imagina também para a infraestrutura. No caso do setor, além de novo impulso para destravar projetos necessários a suprir as carências existentes – e também as resultantes do aquecimento econômico –, há boas chances de vermos as debêntures incentivadas ganharem um empurrão decisivo para deslanchar.

Nesse bojo, aumenta muito a probabilidade de se estabelecer uma conjunção mais favorável a que oferta e demanda de recursos para infraestrutura, aos poucos, encontrem um novo eixo de equilíbrio, marcado por um aumento da tomada de dívida a mercado em face ao escasseamento de recursos subsidiados de bancos públicos e à falta de capital próprio suficiente para financiar todas as demandas.

Investidores em busca de alternativas

No cenário que se delineia, os investidores devem olhar com atenção cada vez maior para ativos alternativos aos títulos públicos, 'queridinhos' há longa data, mas que vão ter sua rentabilidade comprometida pela linha dos juros apontando para baixo. Na busca de recomposição das carteiras, de modo a garantir retornos adequados, as debêntures de infraestrutura, bem como outros papéis, podem ter sua atratividade bastante aumentada.

"O brasileiro está acostumado a investir com uma taxa de juros alta. Todos os que estão sobreinvestidos em títulos do governo, CDI, produtos de renda fixa tradicional vão demandar alternativas que vêm do mercado de capitais e têm crédito privado associado. Debêntures corporativas, CRIs [Certificados de Recebíveis Imobiliários], CRAs [Certificados de Recebíveis do Agronegócio] e mesmo ações, ou seja, produtos de equity, devem ganhar apelo. Eles entram novamente no radar dos investidores. Isto é inexorável", diz Marcelo Michaluá, presidente da RB Capital.

Quão favorecidas vão ser as debêntures de infraestrutura em meio a todos os produtos alternativos? "Acredito que os títulos corporativos em geral serão beneficiados por possuir maior rentabilidade quando comparados aos títulos públicos. Quanto às debêntures de infraestrutura, a taxa de juros é um componente importante, mas não se trata do único fator determinante", pondera Alexandre Teixeira, managing director do Itaú BBA.

Ricardo Russo, sócio do Pinheiro Neto Advogados, acompanha Alexandre no tom comedido. "Os títulos corporativos em geral seriam beneficiados. Além disso, títulos incentivados ou com benefícios fiscais, tais como as debêntures de infraestrutura, têm grande atratividade e já são reconhecidos pelo mercado."

Michaluá, a seu turno, se mostra mais otimista. "Certamente, dentro de um quadro de taxas de juros baixas e inflação solucionada, a debênture de infraestrutura vai ser um dos carros-chefes", assinala.

Parece, portanto, precipitado antecipar, por ora, se as debêntures de infraestrutura de fato vão ser uma das grandes prioridades dos investidores. De todo modo, é unanimidade entre os consultados pela nossa reportagem que elas, na nova conjuntura, vão desfrutar de um ambiente bem mais propício para que avancem.

Denis de Castro, diretor da área de Asset Finance - Structured Solutions & Leasing do Societé Générale Brasil, assim resume: "A expectativa é de que, dentro de um ou dois anos, a taxa de juros caia para abaixo de 10%. Então, passa a existir uma condição mais competitiva para o título. Sem dúvida".